• Poema Paulo Abreu Vieira

    Milagre mais evidente do que este

    Beija-me a brisa ao de leve a pele num gesto terno de pura calma,
    da janela mergulho na magia das cores que entram na alma…
    são colorido fogo criativo, são a divina dança de Śiva,
    cuja fragrância do milagre da vida faz a minha mente cativa.

    O gesto esvoaçado de um pardal pintado de liberdade,
    os risos gritados, bonitos e puros da inocência da mocidade
    a dança das folhas e flores embaladas por melodiosa brisa,
    tudo isso é a Verdade, é expiração poética que a alma improvisa.

    E esse mesmo é o fio que tece os pensamentos,
    E que une as memórias dos amores, dores e fantasias,
    e que alimenta a imaginação e a esperança de melhores dias.

    Uma só força, imaterial, atemporal, imaculada e imutável impera e
    permeia todo e qualquer ser deste quadro vivo de êxtase e felicidade.
    Preso na contemplação da verdade, aprecia-te, és pura liberdade.

    São urdidos os seres por poder maior que os ultrapassa,
    vivificados pela eterna presença que sempre os abraça.
    São expressão finita da infinitude, limitações do ilimitado,
    são o amor feito vida por tantos poetas cantado.

    São um rio de força que desce e sobe ao mesmo tempo,
    E tudo isso contido num só eterno momento,
    O Agora, este mesmo, cuja origem é lugar nenhum,
    a que os visionários unanimemente chamam de Um.

    Paulo Abreu Vieira

  • भगवद्गितायाः व्याकरणम् – Análise gramatical da Bhagavadgītā (continuação)

    Símbolos usados na análise gramatical:
    √ – raíz verbal; ⊘ – indeclinável; m – género masculino; f – género feminino; n – género neutro; I/1 – primeira pessoa singular; II/1 – segunda pessoa singular (a numeração romana indica a pessoa, a numeração indo-arábica indica o número, que pode ser singular, dual ou plural; 1/1 – 1º caso singular; 1/2 – 1º caso dual; 1/3 – 1º caso plural; 2/1 – 2º caso singular (existem oito casos, vibhaktis, no total; 7/1 – sétimo caso singular; P – parasmaipadī; Ā – ātmanepadī; U – ubhayapadī; VA – voz ativa (kartari prayoga); VP – voz passiva.

    अर्जुन उवाच ।
    दृष्ट्वेमं स्वजनं कृष्ण युयुत्सुं समुपस्थितम् ॥ १.२८ ॥
    सीदन्ति मम गात्राणि मुखं च परिशुष्यति ।
    वेपथुश्च शरीरे मे रोमहर्षश्च जायते ॥ १.२९ ॥

    पदच्छेदो (सन्धिच्छेदः) विभक्तिपरिच्छेदः पदार्थो व्युत्पत्तिश्च
    अर्जुनः 1/1m – Arjuna; उवाच III/1, 2P√वच् (वच, परिभाषणे), लिट् लकारः, VA (कर्तरि प्रयोगः) – ele disse:
    दृष्ट्वा Ø 1P√दृश् + क्त्वा – tendo visto, vendo; इमं 2/1m सर्वनाम, इदम् शब्दः – este; स्वजनं 2/1m – minha gente (स्वस्य जनः स्वजनः, तम्); कृष्ण 8/1m – ó Kṛṣṇa; युयुत्सुं 2/1m – desejoso de lutar (योद्धुम् इच्छुः) युयुस्तुः, तम्); समुपस्थितम् 2/1m, सम्-उप-1P√स्था + kta – presente, reunidos, estacionados; सीदन्ति III/3 1P√सद् – fraquejam; मम 6/1 सर्वनाम, अस्मद् शब्दः – meus; गत्राणि 1/3n – membros; मुखं 1/1n – boca; च Ø – e; परिशुष्यति III/1, परि-4P√शुश् – seca, está seca; वेपथुः 1/1m – tremor; च Ø – e; शरीरे 7/1n – no corpo; मे – meu; रोमहर्षः 1/1m – eriçar dos pelos; च Ø – e; जायते III/1, 4A√जन् – nasce, surge.

    अन्वयः
    अर्जुनः उवाच ।
    इमं युयुत्सुं समुपस्थितम् स्वजनं हे दृष्ट्वा कृष्ण मम गात्राणि सीदन्ति मुखं च परिशुष्यति मे शरीरे वेपथुश्च रोमहर्षश्च जायते ॥
    V.1.28 e 1.29 – Arjuna disse: Ó Kṛṣṇa, tendo visto esta minha gente aqui presente (e) desejosa por combater, os meus membros fraquejam, a minha boca seca, surge (um) tremor no meu corpo e os (meus) pelos ficam eriçados.

    Paulo Abreu Vieira

  • pancha mahapurusha yogas

    ज्योतिष – JYOTIṢA – Pancha Mahāpuruṣa Yogas

    Os yogas são combinações especiais dos grahas (planetas) num mapa astrológico, que
    se traduzem em resultados bem específicos. Existem inúmeros yogas descritos nos
    textos clássicos, agrupados por categorias, que auxiliam o astrólogo na sua análise e
    que são de extrema importância para a compreensão de muitos aspetos essenciais de
    um mapa natal.
    Os Yogas, ou configurações astrológicas mais relevantes são:

    • Rāja Yogas: revelam eminência, poder, capacidade de liderança, fama;
    • Dhana Yogas: outorgam riqueza;
    • Daridra Yogas: configurações que revelam pobreza;
    • Pravrajya Yogas: configurações de renúncia;
    • Chandra Yogas: combinações especiais envolvendo a lua;
    • Sūrya Yogas: combinações especiais envolvendo o sol;
    • Nābhāsa Yogas: configurações gerais de um mapa;
    • Viśeṣa Yogas: configurações especiais de um mapa;
    • Ayur Yogas: configurações de longevidade.

    No entanto, existe uma categoria de yogas, os pancha mahāpuruṣa yogas, que são de
    extrema importância e, que, quando presentes num mapa natal, revelam o nascimento
    de uma “grande alma”.
    Estes yogas acontecem quando Marte, Saturno, Vénus, Mercúrio e Júpiter se
    encontram no(s) seu(s) próprio(s) signo(s) ou signo de exaltação e estão posicionados
    numa casa angular a partir do ascendente: casas 1, 4, 7 ou 10.

    Consoante o graha em questão, teremos os seguintes yogas e respetivos efeitos:
    Ruchaka Yoga
    Este yoga forma-se quando Maṅgala (Marte) ocupa um kendra (casa angular: 1,4,7 e
    10) e se situa nos signos de áries, escorpião ou capricórnio.
    Ruchaka significa algo brilhante e afiado. A pessoa que nasce com este yoga terá uma
    face longa, força, entusiamo, vigor, um temperamento forte e impetuoso, será bravio
    e vencerá os seus inimigos. Será um líder natural, gostará de lutas e desafios. Terá uma
    personalidade atraente, será meritoso e virtuoso, competitivo e dominador. Poderá
    também revelar um lado mais cruel e arrogante. Será corajoso, instruído e devoto.
    Exemplos de personalidades com este yoga: Adolf Hitler; Henry David Thoreau.
    Bhadra Yoga
    Este yoga forma-se quando Budha (Mercúrio) ocupa um kendra (casa angular: 1,4,7 e
    10) e se situa nos signos de virgem e gémeos.
    Bhadra significa abençoado, próspero. A pessoa que nasce com esta configuração será
    esplendorosa como um leão, valente, próspera, longeva, instruída, dotada de inúmeras
    capacidades intelectuais, valente, correto, gracioso, polido, culto, versado no
    conhecimento, eloquente, independente, dedicado à família, rico e também dado aos
    prazeres e sensualidade. Terá uma bela aparência e um andar majestoso.
    Exemplos de personalidades com este yoga: Arnold Schawaerzenegger; Bill Gates.
    Hamsa Yoga
    Este yoga forma-se quando Guru (Júpiter) ocupa um kendra (casa angular: 1,4,7 e 10) e
    se situa nos signos de câncer, sagitário e peixes.
    Hamsa é um cisne, símbolo de pureza e de discernimento. A pessoa que nasce com
    esta configuração terá um corpo bonito. Será longevo e deterá uma grande força
    espiritual e pureza. Terá inteligência, eloquência, reverência, instrução, grande mérito,
    devoção às tradições e aos mais velhos, versado no conhecimento, benevolente,
    religioso, gozará de prazeres, será respeitado por todos e alcançará um cargo elevado.

    Exemplos de personalidades com este yoga: Steve Vai; Sri Aurobindo.
    Malavya Yoga
    Este yoga forma-se quando Śukra (Vénus) ocupa um kendra (casa angular: 1,4,7 e 10) e
    se situa nos signos de touro, libra e peixes.
    Malavya é uma guirlanda, símbolo de beleza. A pessoa que nasce com esta
    configuração será bela, elegante, com traços finos e proporcionais. Será rica, possuirá
    bens e desfrutará de muitos prazeres ao longo da vida. Casará e terá filhos, será
    próspera, culta, instruída. Gozará de saúde, será renomada e famosa.
    Exemplos de personalidades com este yoga: Princesa Diana; Albert Einstein.
    Śaśa Yoga
    Este yoga forma-se quando Śani (Saturno) ocupa um kendra (casa angular: 1,4,7 e 10)
    e se situa nos signos de capricórnio, aquário e libra.
    Śaśa é um coelho, com a sua natureza ativa e rebelde. A pessoa que nasce com esta
    configuração gosta de movimento, de vaguear, sente-se confortável em florestas,
    bosques, montanhas. Apresenta um corpo belo e forte. Terá um espírito livre, será
    dotado de inteligência, será valente, bravio, forte, viril, será um líder apreciado pelos
    outros, será meritoso e hábil nas suas tarefas. Terá poder e fama. Conhece as
    fraquezas dos outros e poderá ser crítico e cruel.
    Exemplos de personalidades com este yoga: Marilyn Monroe; Barack Obama.

    Hari Om
    Maria João Coelho
    Foto – Fonte: https://blog.cosmicinsights.net/

  • Ayurveda Especiarias

    आयुर्वेद – Āyurveda – Especiarias para melhorar a digestão

    O processo de digestão começa quando pensamos na comida. Cores, aroma, textura e sabor alteram a nossa experiência de consumo e de assimilação. Desta forma as especiarias melhoram o sabor da comida. São uma parte essencial da “alimentação ayurvédica” e devido às suas qualidades medicinais podem ser usadas para equilibrar os doṣas, aumentar a digestão, absorção de nutrientes, circulação, etc.

    Sendo a digestão um elemento central em questões de saúde e doença ficam aqui algumas especiarias que devem fazer parte de qualquer cozinha pois tem o potencial de ajudar na digestão ao mesmo tempo que ajudam a trazer sabor à comida.

    CARDAMOMO

    É considerado um excelente digestivo, especialmente benéfico na redução do inchaço e gases intestinais.

    É excelente para equilibrar kapha, principalmente no estômago e nos pulmões. Também é útil para pacificar vāta. As sementes são frequentemente mastigadas para refrescar o hálito.

    CANELA

    É frequentemente usado em preparações de ervas ayurvédicas para aumentar a bio disponibilidade de outras ervas.

    É excelente para pacificar Kapha e bom para equilibrar vāta também. Tende a aumentar pitta.

    No Āyurveda, a canela é usada para equilibrar a digestão e pacificar distúrbios estomacais. Combinado com outras ervas e especiarias quentes, como gengibre e pimenta preta, pode ser fervido em um chá de ervas para aliviar o desconforto associado a constipações.

    CRAVINHO

    Considera-se que o cravinho melhora a circulação, a digestão e o metabolismo e ajuda a combater distúrbios estomacais, como gases, inchaço e náusea. Muito usado em ingrediente em produtos de higiene bucal para promover a saúde dos dentes e refrescar o hálito.

    O cravo tem sabores picantes e amargos. O cravo ajuda a pacificar vāta e kapha e aumenta pitta.

    SEMENTES DE COENTRO

    é uma especiaria tridoṣa muito apreciada na Āyurveda. É um tempero refrescante e tem sabores doces e adstringentes. Os textos Āyurvédicos sugerem que é bom para a digestão, abre o apetite, ajuda a combater alergias e também ajuda a purificar o sangue.

    COMINHO

    especiaria aromática ligeiramente aromática e picante, ajuda na digestão e na secreção de sucos digestivos. Ajuda a eliminar as toxinas do corpo. Melhora o intelecto, alivia kapha, acção antioxidante.

    GENGIBRE EM PÓ

    é um tempero quente, de sabor picante. Ajuda a pacificar vāta e kapha e aumenta pitta. Está incluído em muitas formulações ayurvédicas devido às suas propriedades curativas. É útil para ajudar na digestão, aumentar o apetite, pacificar distúrbios estomacais e manter a saúde das articulações e do sistema respiratório.

    PIMENTA PRETA

    É considerado um importante tempero. É um ingrediente essencial em muitas formulações ayurvédicas. Possui propriedades de limpeza e antioxidante e ajuda a transportar os benefícios de outras ervas para diferentes partes do corpo.

    É excelente para pacificar kapha e vāta e aumenta pitta. Ajuda a melhorar a digestão e a circulação de nutrientes, estimula o apetite e ajuda a manter a saúde do sistema respiratório e das articulações.

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

  • Nakshatra

    ज्योतिष – JYOTIṢA

    Natureza das nakṣatras

    Tal como já referido em edições anteriores, tanta a fase lunar como o posicionamento da lua
    em determinada nakṣatra *, são de extrema relevância para a tomada de melhores decisões
    no nosso dia a dia, tal como a eleição de dias propícios para a realização de rituais (como
    casamentos e outros eventos relevantes) e início de atividades específicas e momentos mais
    auspiciosos para certas atividades (astrologia eletiva ou Muhūrta).
    *Nakṣatras são vinte e sete asterismos que foram descritos na antiguidade, nos Vedas, tendo
    por base o ciclo sideral lunar de 27,321 dias. Na mitologia, as nakṣatras são considerados as
    noivas de Chandra, o deva que preside a Lua e que, por ser inquieto e lascivo, cada dia deita-se
    com uma das suas esposas, percorrendo, desta forma, os 27 nakṣatras ao longo de um mês.
    Existem nakṣatras mais favoráveis ou desfavoráveis para determinados assuntos/eventos.
    Desta forma, é imprescindível conhecer a natureza essencial das nakṣatras. Desta forma,
    quando a lua transita por:
    -Natureza dhṛuva (estável): Rohini, Uttaraphalguni, Uttarashada e UttaraBhādrapadā  –
    favorável para tudo o que queremos que seja de longo prazo, estável e durável, tal como
    casamentos, construções, estabelecimento de fundações, mudança de habitação, novos
    negócios e atividades, parcerias, agricultura.
    -Natureza mṛdu (suave): Chitra, Mrigashīrsha, Anuradha e Revati – favorável para atividades
    leves, lazer, viagens, atividades artísticas, convívios, atividade sexual, prazeres,
    entretenimento.
    -Natureza laghu (leve) e kṣipra (rápido): Ashvini, Pushya e Hasta – favorável para iniciar
    atividades auspiciosas, novos negócios, viagens, atividades de cura, aprendizagem.

    • Natureza chara (móvel): Punarvasu, Svati, Shravana, Shatabhisha e Dhanishta – favoráveis
      para tudo o que implique movimento e mudanças (impermanência), viagens, rotinas diárias,
      compras, veículos.
    • Natureza tīkṣṇa (severo; afiado): Ardra, Āshleshā, Jyeshtha e Mula – favorável para tudo o
      que é desagradável, tal como resolução de questões complexas, legais, lidar com inimigos,
      lidar com energias de medo, ir à raiz dos problemas.

    -Natureza ugra
    (feroz):Bharani,Maghā,PūrvaPhalgunī,PurvaAshada,PurvaBhādrapadā,favorável para
    destruição e atividades difíceis ou cruéis.

    • Natureza mṛdutīkṣṇa (misto de suave e agudo): Krittika e Vishakha: possuem energias
      mistas. Nada de muito relevante deve ser iniciado nos dias em que a lua transita por elas.

    Abaixo apresento a listagem dos nakṣatras, com a sua distribuição longitudinal ao longo dos
    rāśis (signos) e o deva/devī relacionado a cada um deles.

    Existem alguns sites e aplicações que podem ser instaladas e consultadas diariamente e
    verificar qual a fase lunar e em qual nakṣatra a lua transita nesse dia, de forma a aproveitar a
    energia de cada momento da melhor forma possível.
    Ficam aqui algumas sugestões:

    • https://www.cosmicinsightsshop.com/collections/apps
    • https://align27.com/
    • https://www.drikpanchang.com/
      De qualquer forma, existem outros parâmetros igualmente importantes na eleição de um
      dia/momento mais propício para determinada atividade, inclusive observando e cruzando
      informação com o próprio mapa natal da pessoa em questão. Assim, para assuntos realmente
      mais importantes, é sempre preferível recorrer à opinião de um astrólogo profissional, que
      poderá dar uma orientação mais elaborada e mais precisa dependendo de cada situação
      específica.

    Nota: Para melhor entendimento de alguns conceitos aqui presentes, aconselho a leitura dos
    artigos presentes nas edições anteriores da Mukti.

    Imagem – Fonte: https://www.astrosage.com/nakshatra/
    Maria João Coelho

  • भगवद्गितायाः व्याकरणम् – Análise gramatical da Bhagavadgītā
    (continuação)

    Símbolos usados na análise gramatical:
    √ – raíz verbal; ⊘ – indeclinável; m – género masculino; f – género feminino; n – género neutro; I/1 – primeira pessoa singular; II/1 – segunda pessoa singular (a numeração romana indica a pessoa, a numeração indo-arábica indica o número, que pode ser singular, dual ou plural; 1/1 – 1º caso singular; 1/2 – 1º caso dual; 1/3 – 1º caso plural; 2/1 – 2º caso singular (existem oito casos, vibhaktis, no total; 7/1 – sétimo caso singular; P – parasmaipadī; Ā – ātmanepadī; U – ubhayapadī; VA – voz ativa (kartari prayoga); VP – voz passiva.

    तत्रापश्यत्स्थितान्पार्थः पितॄनथ पितामहान् ।
    आचार्यान्मातुलान्भ्रातॄन्पुत्रान्पौत्रान्सखींस्तथा ॥ १.२६ ॥
    श्वशुरान्सुहृदश्चैव सेनयोरुभयोरपि ।

    पदच्छेदो (सन्धिच्छेदः) विभक्तिपरिच्छेदः पदार्थो व्युत्पत्तिश्च
    तत्र Ø – Ali, lá; अपश्यत् III/1 लङ् 1P√दृश्; स्थितान् 2/3n √स्था + क्त – os que estavam presentes, estacionados, parados; पार्थः 1/1m – Pārtha (पृथायाः अपात्यं पुमान् इति पार्थः आर्जुनः); पितॄन् 2/3m – os pais; अथ – e também; पितामहान् 2/3m – os avós; आचार्यान् 2/3m – os professores; मातुलान् 2/3m – os tios maternos; भ्रातॄन् 2/3m – os irmãos; पुत्रान् 2/3m – os filhos; पौत्रान् 2/3m – os netos (पुत्रस्य अपत्यम् इति पौत्रः); सखीन् 2/3m – os amigos; तथा Ø – bem como; श्वशुरान् 2/3m – os sogros; सुहृदः 2/3m – os amigos; च Ø – e; एव Ø – de facto; सेनयोः 7/2f – nos dois exércitos; उभयोः 7/2f – nos dois; अपि Ø – também.

    अन्वयः
    तत्र उभयोः सेनयोः अपि पार्थः स्थितान् पितॄन् अथ पितामहान् आचार्यान् मातुलान् भ्रार्तॄन् पुत्रान् पौत्रान् सखीन् तथा श्वशुरान् सुहृदः च एव अपश्यत् ॥

    अनुवादः
    Tradução:
    V.1.26 e 1.27 – Ali, Arjuna, o filho de Pṛthā, viu os que estavam presentes nos dois exércitos, (como) os pais e também os avós, os professores, os tios maternos, os irmãos, os filhos, os netos, os amigos, bem como os sogros e os simpatizantes.

    Paulo Abreu Vieira

  • A Necessidade de Uma Mente Madura para a Libertação

    Vedānta é um caminho só de ida no qual é inevitavelmente necessário deixar para trás a tralha que só atrapalha a viagem. Isso passa obrigatoriamente por crescer emocionalmente, e quem não quiser crescer ou achar que não precisa de crescer, não conseguirá fazer a viagem e estará a enganar-se a si mesmo, lamentavelmente.
    Para a pessoa com inteligência média assistir às aulas de Vedānta e ganhar o vislumbre do ensinamento não é assim tão difícil, especialmente se o professor for um comunicador hábil que transmita o conhecimento de forma simples e clara. De facto, é inevitável que esse vislumbre aconteça; irá certamente acontecer. Se a pessoa tiver foco mental e a fase da vida em que a pessoa assiste mais entusiasticamente às aulas for boa, é de esperar que a pessoa ganhe um entendimento superficial da natureza da realidade. Digo isto porque o Vedānta, sendo um pramāṇa, meio de conhecimento, funciona, é eficaz.
    O entendimento não é tudo no Vedānta, é uma parte de um todo que precisa de ser completo para que o fruto do conhecimento se manifeste. O estilo de vida chamado de Yoga é uma parte importante e fundamental, sem a qual, Vedānta está destinado a fracassar. O Yoga deverá preceder o Vedānta – esta é a condição intransponível. Se deseja ganhar o conhecimento inabalável do Eu maior, da realidade, então, nesse caso, viva uma vida de Yoga.
    Yoga é o processo de vida através do qual certas qualidades e virtudes são ganhas e a que chamamos de maturidade emocional e espiritual. A Bhagavadgītā, o maior tratado de Autoconhecimento e Yoga, menciona algumas – amānitvam, ausência da exigência de respeito, adambhitva, ausência de exibicionismo ou pretensão, ahimsā, não-violência, kṣānti, aceitação objetiva, arjavam, integridade ou alinhamento entre pensamento palavra e ação, etc. Noutras obras, outros mestres mencionam as virtudes que constituem em si a elegibilidade para o entendimento, chamadas de sādhana-catuṣtaya, o conjunto dos quatro meios (indiretos) para o conhecimento: viveka, discriminação e discernimento, vairāgya, desapego ou desprendimento, śamādi, calma e tranquilidade, etc. A lista das qualidades e virtudes a serem ganhas é grande e importante. Todos os mestres as realçam e não se cansam de lhes atribuir valor.
    Sem o ganho destas virtudes a mente será instável, conflituosa, irrequieta e tremendamente problemática, causando muita aflição. As virtudes ou os valores incidem na mente, pois é na mente que grande parte do trabalho tem que ser feito, tanto a nível emocional como focal.
    Sem emoções relativamente apaziguadas e sem capacidade de gestão emocional não há conhecimento que aguente e o vislumbre ganho na aula não impacta. Sem capacidade de foco continuado não há a possibilidade de contemplação séria e sem contemplação não há assimilação do conhecimento. As qualidades e valores a serem buscados pelo aluno de Vedānta tornam a mente um recipiente saudável onde o conhecimento permanece para ser apreciado. Caso contrário, a mente é como um recipiente rachado e disfuncional. O conhecimento esvair-se-á pelas rachadelas da sua mente e por mais que se queira retê-lo, a impossibilidade da retenção impõe-se tiranicamente.
    Se a mente é o recipiente onde o conhecimento é recebido e retido, nutra-a. Diligentemente aprenda a melhorar a condição da sua mente. Impregne-a de compaixão, de compreensão, de calma, de discernimento, de foco, de paciência e de todos os valores que o Vedānta menciona.
    Não tente contornar a tradição de ensino, pensando que é mais esperto ou sábio do que ela. Receba de coração aberto os ensinamentos, sejam sobre Yoga ou Vedānta, e entenda que sem maturidade a libertação é um castelo nas nuvens.
    Maia, Março de 2023
    Paulo Abreu Vieira

  • Ayurveda Detox Ricardo Barreto

    आयुर्वेद – Āyurveda – Detox: Sim ou Não? – Parte 2

    Hoje vamos falar de pañcakarma, os 5 procedimentos.

    pañcakarma é um processo de purificação que tem como objectivo eliminar os doṣas em excesso do corpo e restabelecer o equilíbrio.

    Tradicionalmente estes são os 5 procedimentos

    • virecana – purgação terapêutica
    • vamana – vómito terapêutico
    • vasti / basti – “enema” terapêutico
    • raktamokṣaṇa – venecção
    • nasya – instilação nasal

    Cada uma destas terapias, devido à sua área de acção é considerada a melhor para cada um dos doṣas:

    • nasya e vamama na zona do corpo associada a kapha
    • virecana na zona do corpo associada a pitta
    • basti na zona do corpo associada a vāta

    Como referido anteriormente o objectivo de pañcakarma é eliminar os doṣas em excesso do corpo, vamos então ver, de acordo com os textos clássicos, quais poderão ser esses indicadores.

    Entre outros, estes são alguns exemplos de sinais de doṣas agravados:

    Indigestão, perda de peso excessiva, excesso de peso, anemia, sensação de peso, exaustão, fraqueza, mau cheiro do corpo, falta de energia, insónia ou sonolência excessiva, impotência, perda de força e tez apesar de uma dieta nutritiva.

    Tendo em consideração alguns dos exemplos listados podemos facilmente pensar que todos nós de uma forma ou de outra estamos a precisar de pañcakarma mas na verdade estes procedimentos só deveriam acontecer se os doṣas estiverem muito agravados.

    Embora pañcakarma seja, muitas vezes, promovida como experiência de spa, com pacotes na Índia de 4, 15, 20 dias, não é de facto, uma experiência muito prazerosa.

    Quando é bem feito, precisa de 3 etapas

    • uma etapa de preparação que normalmente passa por beber ghee/manteiga clarificada durante vários dias até chegar ao ponto de saturação e fazer várias terapias físicas de oleação e sudação.
    • uma etapa onde se aplicam os procedimentos de pañcakarma necessários que podem e normalmente deixam a pessoa fraca e com a digestão prejudicada
    • uma etapa pós tratamento que visa e trazer ao corpo força e vitalidade, e este é considerado o passo mais importante com reintrodução alimentar, rotinas diárias e formulações medicinais direccionadas ao rejuvenescimento.

    Se o processo de pañcakarma for bem sucedido na remoção dos doṣas em excesso do corpo e o restabelecimento do poder digestivo as doenças devem pacificar, a saúde da pessoa deve ser estabelecida, deve haver melhora a nível dos órgãos dos sentidos, da mente, intelecto e compleição, a pessoa deve sentir-se rejuvenescida. Da mesma forma, se o processo for feito de forma inadequada ou de forma excessiva claro, terá os resultados opostos aos benefícios.

    Então existem então algumas considerações a fazer.

    O āyurveda é de facto a favor da purificação do corpo. Esta purificação pode ser feita de forma mais solta com algum controle de alimentação, exercício físico e uso de substâncias que ajudem nesse processo (como referido no artigo anterior) ou, como vimos hoje por um processo de pañcakarma que embora apresente benefícios maravilhosos, é normalmente caro, longo e não muito agradável de se fazer.

    E apesar destas terapias de purificação serem recomendadas regularmente nos textos ayuvédicos como parte de uma rotina sazonal, se olharmos para o nosso contexto actual, existe uma grande diferença na maneira como vivemos e no que consumimos em termos de alimentos e percepções. A questão aqui é, se realmente não houver uma alteração nas coisas que fazemos diariamente será pañcakarma a solução a longo termo?

    Na última década, passei muitos meses no vaidyagrama, um hospital tradicional de ayurveda no sul da Índia e testemunhei resultados maravilhosos com pancakarma. Ao investigar o histórico destas pessoas, em muitos casos, a sua condição poderia, quase com toda a certeza, ter sido evitada por uma alimentação e estilo de vida mais conscientes.

    A prevenção é sempre a melhor cura.

    Ricardo Barreto

  • ज्योतिष– JYOTIṢA

     Lunações

    Como tivemos oportunidade de abordar numa edição anterior, Chandra (Lua), tal como os pensamentos, movimenta-se de forma rápida e oscilante. Chandra relaciona-se com os nossos processos mentais, emocionais e (in)decisões, representando a nossa mente emocional.

    Governante da noite, Chandra está também intimamente ligado ao conceito das nākṣatras, conceito também já abordado numa edição anterior. Estas são asterismos, mansões lunares ou constelações de 13 graus e 20 minutos cada, que corresponde a uma divisão zodiacal em 27 partes, cada uma com a sua especificidade e deidade associada, e representam, na mitologia, as 27 esposas de Chandra Deva. Na medida em que Chandra leva aproximadamente 27 dias a dar a volta completa ao zodíaco, é referido que Chandra se deitaria cada noite com uma esposa diferente. Dado aos prazeres, Chandra acaba por receber influência de cada uma das nākṣatras, sendo que também esse facto é extremamente relevante na análise da personalidade de um jīva (indivíduo).

    Relativamente ao mapa natal, praticamente todos os autores clássicos são da opinião que nascer em śukla-pakṣa (quinzena brilhante) outorga bons resultados, enquanto que nascer em kṛṣṇa-pakṣa (quinzena escura) pode levar a maus resultados. No entanto, Chandra é especialmente fraco durante o quarto minguante, que vai de kṛṣṇa aṣṭāmi (oitavo dia lunar da quinzena escura) à śukla pratipad (primeiro dia da quinzena brilhante), sendo que em kṛṣṇa-chaturdaśī (décimo quarto dia da quinzena escura) e em āmāvāsya (lua nova) Chandra outorga os piores resultados, pois esses dois dias lunares são classificadas nos clássicos como doṣas (defeitos ou desarmonias que afetam o mapa natal de forma integral).

    Chandra é especialmente forte no quarto crescente, que vai de śukla aṣṭāmi (oitavo dia da quinzena brilhante) à kṛṣṇa pratipad (primeiro dia da quinzena escura), pois é nesse período que a sua luminosidade é maior e ainda coincide com a sua fase ascendente.

    Na fase cheia, pūrṇimā, Chandra detém máxima luz e outorgará bons frutos. Por sua vez na fase nova, āmāvāsya e no dia anterior a este (14º dia da quinzena escura), em kṛṣṇa-chaturdaśī, Chandra detém pouca ou nenhuma luz.

    Devido às suas diferentes fases, é inevitável que possamos sentir nas nossas vidas, no nosso dia a dia, os efeitos destas oscilações de Chandra, assim como pela sua passagem pelos diferentes rāśis (signos), os quais irão impregnar Chandra com as suas caraterísticas peculiares.

    No entanto, cada diferente fase tem a sua energia e deve ser aproveitada para agir de determinada forma:

    – Lua Nova (āmāvāsya): indica quando o mês lunar começa, ou seja, uma nova lunação. Esta fase é boa para criação/planeamento de novas ideias/atividades nas várias áreas da vida. Momento excelente para reflexão, contemplação, estudos.

     – Lua Crescente: fase da lua que convida a agir. Por isso, é um bom momento para iniciativas e resultados rápidos.

    – Lua Cheia (pūrṇimā): momento excelente para exposição, visibilidade. Representa o ápice do mês lunar que começou na Lua Nova, de colheita de resultados anteriormente semeados. Fase com muita energia, na qual as emoções poderão manifestar-se de forma mais intensa.

    – Lua Minguante: Esta é uma fase para começar a desacelerar o ritmo, de observação e de maior recolhimento, fase para analisar os resultados das ações das semanas anteriores.

    Fica aqui um calendário das diferentes fases da lua para os próximos três meses, para melhor planeamento e direcionamento das nossas ações.

    Nota: Importante consultar as newsletters referentes aos rāśis (signos) e às nākṣatras, para um melhor entendimento.

    Hari Om

    Maria João Coelho

    Foto – Fonte: https://www.sitedecuriosidades.com/

  • A Coragem de Olhar para Dentro

    Geralmente quando se pensa em coragem associamo-la aos atletas de desportos de combate, de desportos radicais, ou a profissões de risco nas quais é grande e constante a convivência com a iminência da morte. Penso que tal associação está correta e é muito válida, porque, de facto, esses atletas e profissionais acima referidos têm muita coragem. Afinal de contas, enfrentar a própria morte ou a possibilidade elevada de uma lesão física que poderá limitar para sempre a vida é um sinal de grande coragem e é, definitivamente, louvável e memorável.

    Contudo, agora gostaria de trazer a atenção do leitor para outro tipo de direcionamento dessa força interna chamada coragem. Falo-lhe da coragem para olhar para dentro e ver, muito honestamente, o que precisa de ser visto, sem rodeios, sem desculpas e sem negações.

    Somos feitos de bom e de mau. Em cada um há um tanto de coisas boas a que poderemos chamar de virtudes e valores e há, também, inevitavelmente, outro tanto de coisas más – ou que conotamos como más – a que podemos chamar de defeitos ou desvirtudes. Nem tudo são rosas nos seres humanos.

    Acontece que somos ou estamos treinados para mostrar o nosso bom e esconder o nosso mau, até porque essa é uma forma segura de sermos aceites e amados pelos outros, como é óbvio, facilmente entendível, necessário e muito desejável numa sociedade, pois, para que uma sociedade funcione bem, é necessário que todos nos possamos entender e respeitar, no mínimo, e, utopicamente, que nos possamos amar e acolher, mesmo perante as enormes divergências mútuas.

    Será que o bom que mostramos é realmente o nosso genuíno bom? Ou será o bom que os outros querem ver e que é necessário mostrarmos para sermos aceites e amados? Ou seja, será que estamos a fazer de conta que somos bons, ou estamos mesmo a mostrar bondade genuína? A resposta a estas questões é difícil e cada um tem que olhar para dentro e descobrir. Para olhar para dentro é necessário muita coragem pois corremos o risco de ver coisas das quais não gostamos. Este é o risco de descobrir a verdade – pode ser dura de aguentar.

    Falo-lhe do lado sombra que tende a ficar na penumbra, em silêncio, esquecido, adorando passar despercebido como se não existisse. E uma parte de nós sabe que ele existe, mas é conivente e negligente, ou mesmo covarde – é preferível não olhar para o que é feio, pois assim não se sente a dor da feiura. E todos temos muita feiura escondida para a qual nos recusamos a olhar.

    O guerreiro interno recusa-se à covardia pois sabe muito bem que dela advém a estagnação ou a regressão do processo de maturidade e isso é insuportável para ele, que já descobriu a glória que lhe é destinada por direito. Por isso cavalga para essa glória, deseja esse triunfo sobre a sombra, sobre o seu lado de feiura.

    Amor que é amor, ama o feio e o bonito, simplesmente por que ama, e quando esse amor ama, vê o feio como bonito. Tal é o poder do amor e a sua intrínseca incondicionalidade. Seguindo o mesmo trajeto de pensamento, o amor próprio é aquele que acolhe todas as dimensões psicológicas que coabitam internamente, sejam elas de carácter esteticamente belo ou não. Então, olhar para o lado sombrio da psique é amor próprio e é coragem também, pois é a certeza do encontro da feiura que jaze em cada um e do sentir das dores subsequentes desse triste mas glorioso encontro.

    Não é fácil admitir a mentira entranhada na forma de ser e esculpida anos a fio pelo cinzel da ignorância e da vergonha. Não é fácil admitir a inveja do sucesso dos nossos irmãos e amigos, que desejam intimamente a mesma felicidade e realização que todos os outros.  Não é fácil admitir as raivas suprimidas por desejos de agradar e de aceitação, que tantas vezes nos separam daquilo que deveríamos ter sido. Não é fácil brilhar na presença daqueles que ainda não têm luz pois a antecipação da pena crucifica essa nossa luz. Não é fácil chorar as nossas fraquezas quando todos esperam a nossa força, porque eles mesmos são fracos. Não é fácil olhar para dentro, pois se o fizermos de forma honesta e corajosa iremos descobrir o quanto falta crescer.

    Olhar para dentro é amor próprio e amar nunca foi fácil. Todavia, se amar é incondicional e acolher, então amor próprio é o acolhimento incondicional de tudo aquilo que somos, tanto de mau, quanto de bom.

    Fevereiro 2023

    Paulo Abreu Vieira

  • आयुर्वेद – Āyurveda – Detox: Sim ou Não? – Parte 1

    Será o detox nos dias de hoje mais importante do que nunca? Será o detox nos dias de hoje mais importante do que nunca? O que o āyurveda diz sobre “detox”?

    O conceito de detox está longe de ser novo, inúmeras culturas e religiões reconhecem o conceito de limpeza não só a nível do corpo mas também a nível mental e espiritual mas a verdade é que, hoje em dia, a palavra detox está em praticamente em qualquer círculo envolvido em serviços ou produtos de saúde e bem estar.

    Certamente nunca terá havido algum período na história em que estivéssemos mais expostos a poluição e a toxinas ambientais, no ar, na água, no solo (plásticos, pesticidas, cosméticos e produtos de limpeza). E como isso não fosse já por si problemático junta-se à lista uma quantidade alarmante de comidas ultra processadas e um estilo de vida sedentário. No nosso dia a dia, consciente ou inconscientemente, estamos expostos a estas substâncias “tóxicas” mas nem sempre o corpo sabe o que fazer com elas. Algumas destas toxinas são expelidas juntamente com as excretas e outras acumulam nos tecidos do corpo onde, temporariamente causam menos mal.

    O nosso corpo está programado para fazer detox: o nosso fígado, rins, pulmões, sistema digestivo e pele estão constantemente a desintoxicar-nos. O grande problema acontece quando nós sobrecarregamos estes órgãos ou sistemas do corpo e prejudicamos a sua capacidade de se auto desintoxicar. Então na verdade, nós não conseguimos fazer detox, nós simplesmente podemos facilitar o processo ao não nos expormos a “toxinas” ou a suportar estes órgãos a fazerem o seu trabalho com mais eficácia.

    No āyurveda o foco são os doṣas, os tecidos do corpo, os excretos (principalmente fezes, urina e suor) e o importante fogo digestivo. doṣas em desequilíbrio afectam e prejudicam a digestão que por sua vez prejudica os tecidos corporais e os canais de excreção. Desta forma o fogo digestivo, o sistema digestivo e tracto gastro intestinal tem um papel fundamental nos processos de purificação do corpo. 

    Quando a comida não é digerida apropriadamente torna-se numa “toxina” chamada āma.  A palavra āma pode ser traduzida como cru, não digerido, verde (contrário de maduro) e, como o nome indica, é que algo que não foi digerido apropriadamente pelo corpo. Se este āma não for eliminado pode movimentar-se pelo corpo, alojar-se nos tecidos e causar diversas doenças. Os sintomas de āma podem ir de fatiga, falta de energia, passando por diversos problemas digestivos (indigestão, prisão de ventre, diarreia, etc), problemas de circulação, dor e inflamação nas articulações até problemas mais graves como a aterosclerose, por exemplo. Este āma não deve então, de forma alguma permanecer no corpo.

    Um “detox” ayurvédico passaria primeiramente por digerir este āma.

    • Se for em pouca quantidade e se não estiver associado aos doṣas ou aos tecidos, o processo de digestão de āma pode passar por jejum na dieta, exercício físico, etc.
    • Se for em mais quantidade, a estas medidas adicionaria-se o uso de substâncias que ajudem a cozinhar o āma como por exemplo gengibre, pimenta preta, canela etc,
    • Se for em grande quantidade, outros procedimentos de pañcakarma (tópico do próximo artigo) seriam utilizados.

    Uma vez que o āma esteja cozinhado, os canais desobstruídos, os doṣas pacificados, o fogo digestivo equilibrado os diferentes sistemas do corpo funcionam de forma apropriada e o “detox” acontece naturalmente.

    Um modelo para um simples “detox” ayurvédico apropriado para pessoas saudáveis ou que, de forma geral não têm grandes problemas de saúde poderia passaria por:

    • favorecer comida vegetariana, leve, cozinhada e de fácil digestão
    • evitar ou mesmo eliminar lacticínios, fritos, alimentos crus, comidas ultra-processadas, etc
    • preferir canjas e sopas leves, fruta cozida
    • consumir água morna, chá de gengibre, cominhos, etc 
    • exercícios gentis sem muito esforço como yoga, caminhadas
    • descanso adequado, número de horas necessário, deitar cedo e cedo erguer
    • diferentes terapias de oleação e de suor

    Uma semana com esta rotina deverá ajudar o corpo a “desintoxicar” mas como sempre, a prevenção continua a ser o melhor remédio. Se não nos intoxicarmos com alimentos ou produtos alimentares insalubres, um dia jejum semanal ou quinzenal e actividade física regular são suficientes para manter o corpo limpo.

    Este artigo é simplesmente informativo e não substitui parecer profissional personalizado.

    No próximo artigo vamos falar mais detalhadamente acerca de pañcakarma, os processos que o āyurveda recomenda quando doṣas e āma estão em grande quantidade e faremos a nossa conclusão final.

    Até já!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

    www.instagram.com/wayofayurveda_pt

    +351 925380997

  • भगवद्गितायाः व्याकरणम् – Análise gramatical da Bhagavadgītā – 20

    Símbolos usados na análise gramatical:

    √ –  raíz verbal; ⊘ –  indeclinável; m – género masculino; f – género feminino; n – género neutro; I/1 – primeira pessoa singular; II/1 – segunda pessoa singular (a numeração romana indica a pessoa, a numeração indo-arábica indica o número, que pode ser singular, dual ou plural; 1/1 – 1º caso singular; 1/2 –  1º  caso dual; 1/3 – 1º  caso plural; 2/1 – 2º  caso singular (existem oito casos, vibhaktis, no total; 7/1 – sétimo caso singular; P – parasmaipadī; Ā – ātmanepadī; U – ubhayapadī; VA – voz ativa (kartari prayoga); VP – voz passiva.

    सञ्जय उवाच ।

    एवमुक्तो हृषीकेशो गुडाकेशेन भारत ।

    सेनयोरुभयोर्मध्ये स्थापयित्वा रथोत्तमम् ॥ १.२४ ॥

    भीष्मद्रोणप्रमुखतः सर्वेषां च महीक्षिताम् ।

    उवाच पार्थ पश्यैतान्समवेतान्कुरूनिति ॥  १.२५ ॥

    पदच्छेदो (सन्धिच्छेदः) विभक्तिपरिच्छेदः पदार्थो व्युत्पत्तिश्च

    सञ्जयः 1/1m – Sañjaya; उवाच III/3 √वच्, लिट् – disse; एवम् Ø – desta forma; उक्तः 1/1m, √वच् + क्त – foi falado; हृषीकेशः 1/1m – Hṛṣīkeśa, o mestre dos órgãos dos sentidos  e de ação (Senhor Kṛṣṇa), (हृषीकाणाम् इन्द्रियाणाम् ईशः इति); गुडाकेशेन 3/1m – por Gudākeśa (Arjuna) (गुडाका निद्रा ईशः गुडाकेशः); भारत 8/1 – ó Bhārata (Dhṛtarāṣṭra); सेनयोः 6/2f – dos dois exércitos; उभयोः 6/2f – dos dois; मध्ये 7/1n – no meio;  स्थापयित्वा Ø (√स्था णिच् क्त्वा); रथोत्तमम् 2/1m – a excelente carruagem; भीष्मद्रोणप्रमुखतः Ø – mesmo à frente de Bhīṣma e Droṇa; सर्वेषां 6/3m – de todos; च Ø – e; महीक्षिताम् 6/3m – dos governantes da terra (मह्याम् ईष्टे इति महीक्षित्, तेषां महीक्षिताम्); उवाच III/1 √वच्, लिट् – disse; पार्थ 8/1m – ó Pārtha (Arjuna); पश्य II/1 √दृश्, लोट् – vê, que vejas; एतान् 2/3m एतद् शब्दः – estes;  समवेतान् 2/3m – reunidos, juntos; कुरून् 2/3m – Kauravas;  इति Ø – assim disse (o Senhor Kṛṣṇa).

    अन्वयः

    सञ्जय उवाच, (हे) भारत गुडाकेशेन एवम् उक्तः हृषीकेशो, उभयोः सेनयोः मध्ये रथोत्तमम् स्थापयित्वा

    भीष्मद्रोणप्रमुखतः सर्वेषां च महीक्षिताम्, (हे) पार्थ, एतान् समवेतान् कुरून् पश्य इति उवाच ॥

    अनुवादः

    Tradução:

    V.1.24 e 1.25 – Sañjaya disse: Ó Bhārata (Dhṛtarāṣṭra), sendo Hṛṣīkeśa (Senhor Kṛṣṇa, o mestre dos órgãos dos sentidos) comunicado (comandado) desta forma por Guḍākeśa (Arjuna), (e) tendo posicionado a excelente carruagem entre os dois exércitos, mesmo à frente de Bhīṣma, Droṇa e de todos os governantes da terra, (o Senhor Kṛṣṇa) disse: “ó Pārtha (Arjuna), vê estes Kauravas (aqui) reunidos”.

  • A Importância do Yoga em Vedānta

    Grandes objetivos geralmente exigem grandes esforços. Grandes conquistas exigem grandes compromissos. Grandes viagens exigem grandes preparações. Quanto maior for a dimensão daquilo que deseja, em princípio maior será o investimento necessário.

    Dito isto, mokṣa, a libertação do sofrimento, é o derradeiro objetivo do Vedānta, que definitivamente não é ganho com uma atitude casual perante a vida. Para que a libertação seja ganha é necessário um compromisso constante acompanhado de muita resiliência.

    Yoga é o meio para ganhar o necessário e essencial para a frutificação do Vedānta, e isso abrange ganhar uma mente afiada e um coração relativamente pacificado e bondoso. Para que estes, mente afiada e coração bondoso, sejam ganhos, a pessoa tem que levar uma vida de valores éticos e morais. Quanto a isto não há dúvida alguma.

    Para além disso, uma vida de valores éticos e morais é chamada uma vida de dharma e certamente vai atrair circunstâncias de vida conducentes e imensamente favoráveis para o processo de estudo de Vedānta.

    O processo de estudo requer uma certa introspeção saudável. Esta só é possível se existir uma certa preparação emocional. Se não for assim o aluno não consegue estar consigo mesmo em paz e irá procurar distrações e o Yoga torna a pessoa capaz e elegível para a introspeção sem causar escapismo.

    Somente o aluno que tenha ganho o valor pela solitude, pela meditação e pelos valores éticos e morais é que terá a disposição interna de mergulhar no ensinamento de Vedānta e torná-lo parte de si. Sem a disposição interna gerada por uma vida de Yoga, o Vedānta é incapaz de germinar a semente do conhecimento, assim como uma semente é incapaz de germinar em cimento.

    Não há Vedānta sem Yoga e Yoga sem Vedānta fica incompleto. O Yoga completa-se com Vedānta e tudo o que ajudar a pessoa a ganhar maturidade, foco mental, capacidade meditativa e a seguir o dharma pode ser chamado de Yoga, seja ele vindo da Índia ou de outro lugar.

    Então, lembre-se de que o processo de crescimento está nas suas mãos, pois mais ninguém poderá crescer por si. Crescer é algo que terá que fazer sozinho. E lembre-se também que o Vedānta está nas mãos do professor. Chegue às aulas de Vedānta munido de Yoga, deixe que o ensinamento e o professor façam a sua função e verá em primeira mão como é bom resultado das aulas.

    Paulo Abreu Vieira