• Sātmya Ricardo Barreto

    आयुर्वेद – Sātmya

    O termo Sātmya é traduzido como hábito, adequação, salubridade ou o alinhamento com a constituição natural de um indivíduo. Sātmya é relevante na manutenção da saúde e além disso, desempenha um papel crucial na gestão eficaz de várias doenças. Sātmya é importante como parâmetro de avaliação em exames de pacientes e varia com base em fatores como região geográfica, estação do ano, doença, uso repetido, etc.

    Deṣa Sātmya (região geográfica)

    O Āyurveda descreve diferente tipos de regiões geográficas, baseadas na predominância dos doshas. Por exemplo, os residentes de terras pantanosas, dominadas pelas qualidades snigdha (untuoso) e guru (pesado), são aconselhados a adotar uma dieta e estilo de vida que contrabalançam essas qualidades. Isto pode envolver a incorporação de alimentos secos e leves na sua rotina para manter uma saúde óptima. Então esta dieta é Sātmya para as pessoas que vivem em terras pantanosas.

    Outra faceta é Ṛtu Sātmaya (sazonal), o foco na adaptação às mudanças sazonais. Perante o stress ambiental extremo durante uma determinada estação, o corpo esforça-se por ajustar o seu ambiente interno. As ajudas externas tornam-se cruciais para uma adaptação mais harmoniosa a estes desafios. Como todos sabemos, durante o rigor do inverno, é aconselhável vestir roupas de lã para reter o calor interno. Procurar ambientes aquecidos protege o corpo do ar frio, enquanto consumir bebidas quentes e condimentos mais quentes acelera o metabolismo, e gera calor adicional. Uma dieta hipercalórica torna-se imprescindível para atender às elevadas demandas energéticas, combatendo eficazmente o frio. Ritu Sātmya, sublinha a necessidade de ajustes personalizados de acordo com as condições meteorológicas e as qualidades do ambiente prevalecentes.

    Em caso de doença (roga Sātmya), torna-se imperativo que os médicos reconheçam Sātmya como um fator contribuinte fundamental.

    Seguir as orientações de Sātmya não só auxilia no processo de recuperação, mas também serve como medida preventiva contra doenças futuras. Por exemplo se uma doença de vāta ocorreu por causa das suas características (seco, leve, etc), o tratamento e a habituação contrários a este servem de Sātmya para essa doença


    Passando para Oka Sātmaya, este conceito investiga práticas ou consumíveis que podem ser inerentemente prejudiciais, mas que podem ser adaptados ao corpo através da introdução gradual. Os exemplos incluem fumar cigarros ou consumir álcool – ações que, com o tempo, o corpo aprende a acomodar sem efeitos nocivos imediatos. Ênfase aqui no imediato. Outros exemplos podem ser comidas picantes, tornam-se Sātmya por habituação como, por exemplo, na Índia onde grande parte dos turistas tem dificuldade em aguentar o nível de picante de uma simples entrada num café ou restaurante.


    Roga Sātmya. Aqui, dietas e atividades são adaptadas para proporcionar alívio de doenças específicas. Por exemplo, ao lidar com um distúrbio Vāta caracterizado por secura, leveza e propriedades frias, a abordagem recomendada envolve adotar práticas, dietas e hábitos contrários a essas características e desta forma amenizar os sintomas e remover a causa da doença.

    Concluindo, Sātmya é uma pedra fundamental do Ayurveda, incorporando a profunda interconexão entre os indivíduos e seu ambiente. Este conceito, que reflecte a adaptabilidade e a adequação, estende-se, como vimos, a diversas dimensões. Vivemos num tempo em que existe uma tendência de homogeneizar a saúde e o bem estar, em que um tipo de alimentação e de estilo de vida irá beneficiar todas as pessoas da mesma forma. A abordagem holística do Ayurveda enfatiza a importância de alinhar o estilo de vida, a dieta e os hábitos com estes fatores inerentes para a preservação da saúde e prevenção de doenças. O conceito de Sātmya serve como princípio orientador, promovendo um equilíbrio harmonioso entre os indivíduos e a dinâmica em constante mudança do mundo ao seu redor.

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

    Inspirado no livro Āyurveda and Principles of Panchakarma da Dr. Mandip G

    Foto de Pixabay

  • Astrologia 2024

    ज्योतिष – JYOTIṢA

    Principais Indicações Astrológicas – Ano 2024

    Apesar do ano astrológico apenas iniciar quando o Sol dá entrada no rāśi (signo) de
    Mesha (Carneiro / Áries) no mês de Abril, é comum, no ocidente, considerar o início do
    ano civil como um momento importante de reflexão e de previsão acerca das
    promessas mais importantes para o ano que se inicia.
    Desta forma, a minha proposta neste texto, é colocar as algumas orientações
    astrológicas para este ano de 2024, para que cada um possa refletir nas mesmas,
    tentando integrar todas essas energias na sua vida, quer externa como interna, de
    forma a navegar nas ondas do samsara de forma mais segura, firme e consciente,
    tomando as melhores decisões a todo o momento, sempre que possível.

    Se o ano de 2023 foi um ano com uma energia forte e dinâmica, com mudanças
    rápidas e abruptas, com vários acontecimentos inesperados e necessidade de
    adaptação às novas situações de vida, o ano de 2024 vem trazer uma maior
    estabilidade e necessidade de estruturar e manter em segurança tudo o que foi
    iniciado e criado em 2023. Com Śani em Aquário e Guru a entrar em Touro em Abril,
    teremos uma prevalência de signos fixos que nos remetem para estabilidade,
    manutenção e segurança. É tempo de dar forma e sentido a tudo o que surgiu de novo
    nas nossas vidas, com afinco e determinação.

    Śani (Saturno) em Kumbha (Aquário)

    A transitar este signo desde 17 de janeiro de 2023, Śani aqui ficará até 29 de março de 2025.

    Neste signo, para além de ser um dos signos regidos por Śani, é o signo onde
    detém mais força.

    É um signo de ar e de modalidade fixa, muito associado ao coletivo, pelo que o tema
    social e mudanças na sociedade em geral, estarão em destaque durante este período.
    Antes de continuar, convido todos os que não tiveram ainda oportunidade de ler a
    newsletter na qual falo acerca de Saturno, para o fazerem, pois entender o que
    Saturno representa, é fundamental para perceber tudo aquilo pelo qual ele nos poderá
    fazer passar ao longo deste período. Saturno não é apenas o que restringe e pune, é
    também aquele com maior capacidade de nos ensinar e fazer crescer. Não da forma
    mais leve, isso é certo, mas da forma como precisamos e, claro, sempre de acordo com
    os nossos karmas.
    Importante verificar, em primeiro lugar, em que casa astrológica temos o signo de
    aquário no nosso mapa e quais os grahas (planetas) ali presentes assim como as casas
    e os planetas situados nos signos de Áries (carneiro), Leão e Escorpião, pois serão
    ativados também pelo olhar de Śani.
    Como graha maléfico, Śani atua predominantemente de forma mais severa, podendo
    levar a perdas e prejuízos, desonras, infortúnios, medos e inseguranças,
    desentendimentos, mas, atuando de forma mais benéfica, pode levar a progresso
    material, vitórias, capacidade de trabalho e foco, persistência, honras.
    Tudo irá depender do mapa de cada um, dos karmas individuais espelhados nas
    diferentes configurações presentes no mapa natal. Desta forma, os resultados
    poderão variar muito consoante a pessoa em questão.

    No entanto, e de forma mais generalizada, coloco abaixo novamente (já tinha
    colocado na newsletter de janeiro de 2023) os possíveis principais resultados para
    este trânsito de Śani em Aquário, pelas casas, tendo em conta o lagna (ascendente):

    Lagna/Ascendente

    Mesha (Carneiro / Áries)

    Śani estará na casa 11 a partir do lagna, é o regente da casa 10 na casa 11 e aspecta
    (olha), com maior força, as casas 1, 5 e 8.

    O trabalho árduo poderá vir a ser recompensado, com progresso económico e
    material. Importante não deixar para depois o que há para fazer. Não perder tempo e
    trabalhar com dedicação, para colher esses frutos.
    Poderão existir algumas dificuldades para a mãe e para os amigos. É um excelente
    momento para refletir acerca das verdadeiras amizades.

    Vrshabha (Touro)
    Śani estará na casa 10 a partir do lagna, é o regente da casa 9 na casa 10 e aspecta
    (olha), com maior força, as casas 12, 4 e 7.
    Posicionamento muito favorável para progresso na carreira, honras, prosperidade.
    Possibilidade de mudanças a nível profissional e a nível de residência.
    É tempo para investir na profissão e ter em atenção os possíveis conflitos a nível
    relacional.

    Mithuna (Gémeos)
    Śani estará na casa 9 a partir do lagna, é o regente da casa 8 na casa 9 e aspecta (olha),
    com maior força, as casas 11, 3 e 6.
    É o final da passagem de Śani pela casa 8 nos últimos 2,5 anos o que pode ter trazido
    alguns infortúnios. Não ficar preso ao passado, mas, apesar disso, é importante evitar
    o excesso de otimismo.
    Possibilidade de viagens e deslocações, tendência para problemas de saúde,
    problemas com inimigos. Conselho: dedicação a causas sociais.

    Karka (Caranguejo /Câncer)
    Śani estará na casa 8 a partir do lagna, é o regente da casa 7 na casa 8 e aspecta (olha),
    com maior força, as casas 10, 2 e 5.
    É o início do período da passagem de Śani pela casa 8, o que pode representar um
    período desafiante. Perdas, doenças e sofrimentos, mudanças no trabalho,
    incapacidade de levar projetos para a frente, são alguns dos possíveis resultados. É
    muito importante fortalecer a mente e o corpo. Poderão existir ganhos materiais
    provenientes de heranças e recursos de outros.

    Simha (Leão)
    Śani estará na casa 7 a partir do lagna, é o regente da casa 6 na casa 7 e aspecta (olha),
    com maior força, as casas 9, 1 e 4.
    O tema afetivo estará em destaque. Ter em atenção os relacionamentos (afetivos e
    parcerias profissionais), os quais poderão passar por uma fase mais delicada.
    Possibilidade de problemas de saúde. Necessidade de observar os desejos com
    cuidado e tomar decisões acertadas e objetivas.

    Kanya (Virgem)
    Śani estará na casa 6 a partir do lagna, é o regente da casa 5 na casa 6 e aspecta (olha),
    com maior força, as casas 8, 12 e 3.
    Possibilidade de prosperidade, vitória sobre os inimigos e boa saúde. Importante
    cuidar do corpo, instaurar bons hábitos, focar em pensamentos positivos, escutar os
    outros e não cair em comportamentos de procrastinação.

    Tula (Balança / Libra)
    Śani estará na casa 5 a partir do lagna, é o regente da casa 4 na casa 5 e aspecta (olha),
    com maior força, as casas 7, 11 e 2.
    O principal foco estará no tema dos filhos (poderá haver algumas questões mais
    difíceis de lidar). Possibilidade de mudanças na carreira, estabilidade financeira (evitar
    empréstimos e dívidas). Maior interesse pelos estudos.

    Vrishkha (Escorpião)
    Śani estará na casa 4 a partir do lagna, é o regente da casa 3 na casa 4 e aspecta (olha),
    com maior força, as casas 6, 10 e 1.
    Aqui, o principal objetivo de Śani é fazer com que a pessoa saia da sua zona de
    conforto. Aprender a deixar fluir e usufruir de novas experiências. Poderão existir
    mudanças/problemas familiares e relacionados com habitação, imóveis. Possibilidade
    de deslocações e mudanças de residência.

    Dhanus (Sagitário)
    Śani estará na casa 3 a partir do lagna, é o regente da casa 2 na casa 3 e aspecta (olha),
    com maior força, as casas 5, 9 e 12.
    Boas perspetivas: vitórias, felicidade, honras, aquisições, coragem capacidade de
    iniciativa, libertação de medos. Cuidado com as promessas irrealistas.
    É o fim do Sade Sati para os que possuem a Lua (Chandra) neste signo – período
    difícil de 7,5 anos no qual Śani transita pelo signo da lua, pelo signo anterior (casa 12 a
    partir da lua) e pelo signo seguinte (casa 2 a partir da lua).
    Possíveis problemas relacionados com o pai e irmãos.

    Makara (Capricórnio)
    Śani estará na casa 2 a partir do lagna, é o regente da casa 1 na casa 2 e aspecta (olha),
    com maior força, as casas 4, 8 e 11.
    Última fase do Sade Sati (últimos 2,5 anos) para os que possuem a Lua (Chandra)
    neste signo – período difícil de 7,5 anos no qual Śani transita pelo signo da lua, pelo
    signo anterior (casa 12 a partir da lua) e pelo signo seguinte (casa 2 a partir da lua).
    Infortúnios, problemas com familiares e financeiros, deslocações e mudanças de
    residência. Necessidade de ter em atenção a forma de comunicação. Bom momento
    para tratar do corpo, para dietas.

    Kumbha (Aquário)
    Śani estará na casa 1 a partir do lagna, é o regente da casa 12 na casa 1 e aspecta
    (olha), com maior força, as casas 3, 7 e 10.
    Auge do Sade Sati (últimos 2,5 anos) para os que possuem a Lua (Chandra) neste
    signo – período difícil de 7,5 anos no qual Śani transita pelo signo da lua, pelo signo
    anterior (casa 12 a partir da lua) e pelo signo seguinte (casa 2 a partir da lua).
    Possibilidade de dificuldades nos relacionamentos, problemas de saúde (necessidade
    de prestar muita atenção à saúde). Probabilidade de conquistas e honras. Possibilidade
    de deslocações e mudança de residência. Necessidade de maior conexão interna e
    capacidade de desapego dos resultados.

    Mina (Peixes)
    Śani estará na casa 12 a partir do lagna, é o regente da casa 11 na casa 12 e aspecta
    (olha), com maior força, as casas 2, 6 e 9.
    Início do Sade Sati (últimos 2,5 anos) para os que possuem a Lua (Chandra) neste
    signo – período difícil de 7,5 anos no qual Śani transita pelo signo da lua, pelo signo
    anterior (casa 12 a partir da lua) e pelo signo seguinte (casa 2 a partir da lua).
    Possibilidade de aumento dos gastos, despesas, prejuízos, tristezas, isolamento,
    mudanças de residência e deslocações. Aprender a diminuir as expectativas e fluir com
    a vida.

    Guru (Júpiter) em Vrshabha (Touro)
    Guru entrará no signo de Touro a 1 de maio de 2024 e lá ficará cerca de um ano. Guru
    sairá de Áries, signo pelo qual transita desde abril de 2023.
    Sendo Áries um signo de fogo e cardinal, ou seja, com uma energia de impulso,
    iniciativa e ígnea, podemos verificar que a passagem de Guru por este signo não
    passou despercebida, sendo que ainda esteve envolvido no eixo dos eclipses do ano
    anterior.
    Com a entrada de Guru em Touro, os aspetos materiais da vida ganharão certamente
    destaque, trazendo conquistas e ganhos e persecução de objetivos mais práticos,
    lógicos e terrenos. Segurança material, persistência e concretização serão palavras-
    chave deste ano.
    Durante o ano de 2024, Guru, em Touro, transitará pelas naksatras Krittika e Rohini.
    Em Krittika, teremos oportunidade de ser incisivos, corajosos e determinados nas
    nossas ações que irão frutificar com a passagem por Rohini, que nos remete para o
    crescimento, abundância e prosperidade, ainda que seja necessário um trabalho
    árduo.
    O signo de Touro, embora seja um signo regido por um benéfico, Vénus, é um signo
    inimigo para Guru, pelo que os seus resultados poderão ficar um pouco enfraquecidos.
    No entanto e apesar disso, tudo em que Guru toca, tem tendência para expandir e ser
    abençoado.

    A casa no nosso mapa por onde transitará Guru, em Touro, terá tendência a ser
    expandida e beneficiada. Se durante este trânsito Guru tocar em grahas maléficos,
    tenderá a suavizá-los e se tocar em grahas benéficos, trará boa fortuna, mas
    possivelmente alguma indulgência.
    Guru aspecta com a máxima força as casas 7, 5 e 9 a partir da sua posição, logo, em
    Touro, poderá ter um impacto maior nas casas onde temos os signos de Escorpião,
    Virgem e Capricórnio.
    O impacto mais ou menos positivo dependerá muito da força do Guru no nosso mapa
    e das configurações restantes. Mais uma vez, aconselho a leitura da newsletter que
    foca o tema de Guru, para melhor entendimento.
    Resultados tendencialmente mais positivos serão esperados para quem possui o lagna
    (ascendente) nos signos de Áries, Touro, Câncer, Leão, Virgem, Escorpião, Aquário e
    Peixes.

    Eclipses 2024

    Nota: Para melhor entendimento do fenómeno dos eclipses, aconselho a leitura das
    newsletters referentes aos nodos lunares: Rāhu e Ketu.

    Os nodos lunares andam sempre em sentido retrógrado e demoram cerca de 19 meses
    em cada signo. Rāhu e Ketu, os Chāyā grahas (planetas sombra) correspondem aos
    pontos do eclipse.
    Desde 2022 que o eixo no qual os eclipses têm ocorrido corresponde ao eixo. Áries –
    Libra e assim continuou durante todo o ano de 2023.

    Novo eixo dos eclipses
    A passagem dos nodos, Rahu e Ketu, irá ocorrer, entre 30/10/23 e 18/05/25, no eixo
    Virgem/Peixes. Rahu transitará por Peixes e Ketu transitará por Virgem.
    Os eclipses afectarão em particular quem tiver grahas no eixo Virgem/Peixes ou
    quando esse eixo corresponde a áreas importantes do mapa. De qualquer forma, as
    casas onde ocorrem os eclipses terão os seus temas afectados por estas energias.

    Verifique em que casas astrológicas tem estes dois signos, pois os assuntos significados
    por essas casas, serão alvo de mudanças e muita actividade/ instabilidade/mudança.
    Quanto mais visível o eclipse na região onde nos encontramos, maior os seus efeitos
    Os efeitos dos eclipses podem ocorrer até cerca de seis meses após a sua ocorrência,
    sendo responsáveis, muitas vezes, por mudanças abruptas na vida da pessoa,
    correspondendo a finais ou inícios de novos ciclos. São períodos que fogem por
    completo ao nosso controlo e quando decisões são tomadas, mudam, por completo, a
    nossa vida.
    Existe neste trânsito, um elevado potencial espiritual. Que possamos aproveitá-lo para
    crescer, através de do estudo e da devoção.

    Os eclipses ocorrerão nas seguintes datas:
    24 Março: eclipse lunar (10º virgem)
    8 Abril: eclipse solar (25ºpeixes)
    18 Setembro: eclipse lunar (1º peixes)
    2 Outubro: eclipse solar (15º virgem)

    No endereço
    https://www.timeanddate.com poderão consultar todas as zonas nas quais os eclipses serão
    visíveis, podendo, por esse motivo, serem mais afectadas pelos seus efeitos.

    Recomendação para os eclipses
    O mais relevante será mesmo a prática de japa com o mantra pessoal. 
    É igualmente recomendado escutar o “Hanuman Chalisa”.

    Algumas orientações dos śāstras relacionadas aos eclipses são:

    1. Numa faixa de três dias antes e após o eclipse, nenhuma atividade material
      auspiciosa deve ser iniciada.
    2. Mulheres grávidas jamais devem olhar um grahana (eclipse) e nem sequer sair de
      casa durante tal evento. Mulheres grávidas também não devem quebrar varas, moer
      grãos, fazer pão, cozinhar, cortar e limpar durante grahanas, pois tudo isso afetará a
      criança.
    3. Não se deve cochilar numa faixa de quatro horas antes e depois do grahana.
    4. Não se deve comer durante Sūrya ou Chandra grahana. Idealmente, a última
      refeição deve ser
      feita doze horas antes do Sūrya grahana ou nove (outros dizem seis) antes do Chandra
      grahana.
      5- Crianças, velhos e doentes são exceção e podem jejuar por três horas apenas.
      Alimento cozido antes de um grahana não deve ser consumido após este, deve ser
      jogado fora. Quando o luminar se põe antes do fim do grahana, só se deve comer no
      dia seguinte, após ter visto o luminar novamente
      em sua ascensão. Um banho é necessário nessa situação antes de se alimentar.
    5. Os resultados dos sacrifícios/práticas espirituais realizadas durante saṅkrānti, Sūrya
      vāsara, sap-tamī, vaidhṛti, vyatīpāta, hasta, tvaṣṭṛ, punarvasu, ekādaśī, caturdaśī,
      aṣṭamī, āmāvāsya e pūrṇimatithī são multiplicados centenas de vezes, mas os dos
      grahanas multiplicam-se milhões de vezes, de acordo o Padma purāṇa. Entre os
      muitos sacrifícios propostos nos textos sagrados, nenhum se equipara ao cantar do
      santo nome de Śrī Hari. Na própria Gītā, Śrī Kṛṣṇa diz que entre os sacrifícios
      espirituais, Ele é o cantar murmurado do mantra – yajñānāṁ japa-yajño’smi.
    6. Atividade sexual é desaconselhável 24 horas antes e depois de um grahana, mas,
      idealmente, deve-se considerar 72 horas antes e depois. Crianças nascidas após o ato
      sexual realizado durante um grahana, podem nascer com anomalias, mau caráter, etc.
      8.Folhas de tulasī podem ser depositadas sobre os alimentos para protegê-los da
      contaminação inerente ao momento dos eclipses.
    7. Não se deve cultivar a terra durante um grahana, nem remover as folhas de uma
      tulasī.
    8. Até o fim do grahana deve-se recitar japa, jejuando de sono.
    9. Após o grahana deve-se trocar de roupas.”

    Períodos de Retrogradação
    Os períodos de retrogradação são períodos para fazer pausas, de reflexão, de revisitar
    assuntos pendentes, períodos em que os assuntos significados pelo graha retrógrado,
    são convidados a serem revistos e ponderados.

    São vários os grahas que ficam retrógrados todos os anos e encontram, nesse período,
    possibilidade de estarem em destaque nas nossas mentes, nas nossas vidas.

    Listo aqui os períodos de retrogradação dos diferentes grahas neste ano de 2024:

    Śani – 29/06/24 (25º Aquário) a 15/11/24 (18º Aquário)
    Guru – 9/10/24 (27º Touro) a 4/2/25 (17º Touro)
    Maṅgala- 7/12/24 (11º Câncer) a 23/02/25 (22º Gêmeos)
    Budha – 2/04/24 (2º Áries) a 25/04/24 (21º Peixes)
    4/08/24 (9º Leão) a 28/08/24 (27º Câncer)
    26/11/24 (28º Escorpião) a 15/12/24 (12º Escorpião)

    Ciclos lunares

    É também muito importante estar atento aos ciclos lunares, observando os diferentes
    momentos da lua cheia e da lua nova, movimentos naturais aos quais também nós nos
    devemos adaptar e fluir com os mesmos.
    Porque há momentos de expansão, de dinamismo e de trabalho, mas também são
    necessários os momentos de pausa, descanso e interiorização, é fundamental que
    entendamos que, tal como a natureza, tudo é cíclico e devemos observar, aceitar e
    integrar esses mesmos ciclos nas nossas vidas.

    Hari Om
    Maria João Coelho
    Imagem – Fonte: https://www.hinduismtoday.com/magazine/october-november-december-2015/2015-10-educational-insight-
    jyotisha-hindu-astrology/

  • pranayama

    Prāṇāyāma

    Hoje vou falar-vos sobre prāṇāyāma, técnicas respiratórias do yoga. Esta é uma das técnicas do yoga, o quarto estágio do aṣṭāṅga yoga de Patañjali, o yoga clássico.

    Os primeiros dois estágios são as normas éticas, que sustentam esta filosofia prática, Yamas e Niyamas, depois segue-se āsana, prāṇāyāma, pratyāhāra, dhāraṇā, dhyāna e Samādhi.

    Prāṇāyāma divide-se em duas palavras: 

    Prāṇā – bio energia ou força vital, é a força primordial da vida.  É possível de ser obtido através da água e dos alimentos, duma caminhada na natureza, com a exposição solar, e através de técnicas do yoga.

    Āyāma, significa expansão, e na literatura também pode aparecer como controle, direcionamento.

    Assim, prāṇāyāma são técnicas respiratórias para direcionar, expandir, controlar a energia no nosso organismo.

    Podemos captar essas energia através de diferentes órgãos, e sensorialmente, que posteriormente circula em condutos, chamados de nāḍīs (rios, como a rede de capilares, mas impossíveis de serem vistos), e quando estes se cruzam formam os cakras (centros de energia, ou redemoinhos). Existem, segundo a literatura, 72000 nāḍīs!

    No yoga, existem dezenas de exercícios de prāṇāyāma, alguns servem para tranquilizar, outros trazem mais energia, uns curam, outros equilibram, e há até exercícios para refrescar ou aquecer.

    Procure um professor habilitado para poder praticar estas diferentes técnicas e poder usufruir de inúmeros bons resultados, conforme as suas necessidades.

    Para iniciantes vou sugerir uma técnica que traz alguma clareza e organização mental, o denominado de caturaṅga prāṇāyāma, conhecido como a respiração com o ritmo quadrado.

    A forma ideal de praticar esta técnica será com a digestão feita, num aposento fresco e limpo (ou ao ar livre, na natureza).

    Pode ser realizado na posição deitada, sentada ou até em pé (caso seja iniciante não execute em pé, pois as retenções do alento, quando não dominadas, podem trazer tonturas).

    A respiração deve ser sempre nasal, profunda e completa (use as suas mãos no abdómen para poder sentir a respiração a acontecer).

    Inicie fazendo vários ciclos de respiração, associando suaves paragens com os pulmões cheios e depois com os pulmões vazios.

    Se estiver fácil, evolua então para o ritmo, contacto até 4 quando inspira – pūraka, retendo o ar conte até 4, antar kumbhaka, expire mantendo essa contagem até 4, recaka, e finalmente permaneça sem ar, contando até 4 – śūnyaka, ou bāhya kumbhaka.

    Caso sinta a mente muito agitada, conte mentalmente 1, 2, 3, 4, em cada uma das fases mencionadas. Caso disponha de um metrónomo pode utilizar, com 60bpm.

    Gosto de executar esta técnica quando faço uma caminhada num parque, contando com os passos, e sincronizando a respiração com estes.

    À medida que o exercício se torna confortável, podemos aumentar a base da contagem, ou mātra, e em vez de 4 segundos, fazer em 6, 8, 16 ou até 32! Mas mais importante do que almejar tal conquista, mantenha a sua auto-avaliação, faça escolhas sensatas e razoáveis, e sinta-se bem. A prática destes exercícios deve ser agradável, e não deve haver desconforto em momento algum (consulte um professor de yoga para esclarecer qualquer dúvida).

    E boas práticas!

    Sónia Monteiro
  • Ricardo Barreto

    आयुर्वेद – Filosofias por detrás do āyurveda

    O āyurveda germinou numa vasta e variada paisagem de darśanas. A palavra darśana pode ser traduzida como visão válida ou instrumento para obter uma visão válida.

    Normalmente a palavra darśana é traduzida como filosofia mas analisando bem existe uma diferença entre o que no oeste chamamos filosofia e darśana. Enquanto na sua grande maioria, a filosofia no oeste lida com o conhecimento e os mistérios do mundo, tende a não ter um destino definido enquanto darśana tem como seu destino a cessação do sofrimento e a libertação.

    O āyurveda enquanto ciência, fez uso de várias darśanas, para a compreensão do universo e da natureza da realidade. A partir destas delas observou, descreveu e entendeu os factores causativos da manutenção de saúde e tratamento da doença.

    Uma breve introdução às darśanas que influenciaram o āyurveda:

    sāṃkhya de maharṣi kapila

    kapila descreve 24 princípios na criação do Universo, incluindo a forma não manifesta, a inteligência cósmica, o Eu, objectos de percepção, sentidos, faculdades motoras e 5 elementos.

    Apresenta prakṛti e puruṣa como avyakta (não manifesto) e explica o desenvolvimento do universo a partir deste estado.

    nyāya de maharṣi gautama

    Enfatiza a obtenção de conhecimento por meio de provas (pramanas) e lógica crítica.

    Descreve quatro fontes de conhecimento: percepção directa, inferência, analogia e palavras de uma autoridade.

    vaiśeṣika de maharṣi kanada

    Descreve a teoria atómica da criação

    Descreve as substâncias causadoras do Universo, incluindo éter, ar, fogo, água, terra, o Eu, mente, tempo e direção.

    Introduz seis categorias: substância, qualidade, ação, relação semelhante, relação dissimilar e relação inseparável.

    mīmāṃsā de maharṣi jaimini

    Envolve investigação para chegar à verdade e é baseado nos Vedas.

    Enfatiza rituais espirituais e disciplina para a libertação através do cumprimento do dharma (dever).

    vedānta de maharṣi bādarāyana/ veda vyāsa

    Explora o conhecimento e realização do Eu.

    yoga de maharṣi patañjali

    Descreve os 8 ramos do yoga para autodisciplina e libertação (mokṣa).

    Com base nestas 6 escolas, o āyurveda criou uma escola independente de pensamento.

    sāṃkhya – teoria de evolução, o entendimento e aplicação da triguṇa (sattva, rajas e tamas)

    yoga – fisiologia da mente e as suas patologias e mais contemporaneamente assimilou as práticas de yoga

    nyāya -métodos de investigação

    vaiśeṣika – 6 factores causativos, a indivisibilidade da unidade mais subtil

    mīmāṃsā – terapias espirituais, mantras, rituais de iniciação, metodologias de ensino, liberdade através do cumprimento do dever (dharma)

    vedānta – conceitos de pañcikaraṇa e paramātmā, brahma é eterno e imutável, a conquista final de cada ser humano. 

    Ainda que influenciado por estas filosofias o ayurveda mantém uma posição independente pois o seu objectivo é ligeiramente diferente das outras filosofias. 

    O objectivo do ayurveda é a manutenção da saúde e a erradicação das doenças para que a pessoa possa então prosseguir na conquista dos seus puruṣarthas.

    Ricardo Barreto
    Terapeuta de Ayurveda

    Foto de Tingey Injury Law Firm, Unsplash

  • Dores de crescimento Paulo Vieira

    As dores de crescimento

    A maior escola é o universo e a própria vida é a sala de aula. Se viver fosse um contrato de trabalho, então, uma das alíneas seria, obrigatoriamente, o compromisso individual pelo ganho de sabedoria e maturidade.


    O ganho de sabedoria e maturidade pressupõe necessariamente duas coisas, honestidade intelectual e honestidade emocional.


    Honestidade intelectual é a admissão clara da nossa própria ignorância, para nós mesmos e perante os demais também. Não pretenda aparentar ser mais sábio do que é. Liberte-se da pressão que isso gera de uma vez por todas e seja franco e justo sobre o que sabe e o que não sabe. O processo de encontro desta honestidade dói porque o ego não gosta de se sentir inferior, mesmo quando o é. Esta é uma das dores de crescimento.


    Honestidade emocional é a admissão clara das emoções, perante nós mesmos e perante os demais. Esta admissão revela-se muito difícil para as pessoas ditas espirituais e é muito comum no mundo do yoga e da meditação, onde esconder sentimentos e emoções parece ser uma prática geral. Fingem estar tudo bem, quando não está e têm vergonha de admitir que não está. Como é que um professor de yoga irá admitir que está triste e deprimido, quando o que ensina é que somos paz e felicidade?!


    Há que sair da visão estereotipada e ser autêntico. A viagem até à autenticidade gera muitas dores de crescimento pois há que encarar a pessoa emocional, que não é agradável e geralmente é escondida.
    As pessoas querem crescer, querem tornar-se a melhor versão, querem superar-se, etc. Para tal, é necessário sair da área de conforto e sentir desconforto. Não há outra alternativa. Se deseja crescer, consciencialize-se e convença-se que terá dores de crescimento e que estas fazem parte do processo.

    Paulo Abreu Vieira

    Professor de Vedanta e Fundador do Centro Arshavidya

  • Sandhi

    ज्योतिष – JYOTIṢA – Sandhi

    Hoje falaremos sobre o termo “Sandhi”, que, literalmente significa junção. Na astrologia falamos deste termo quando os grahas (planetas) se localizam no final de um signo, início do outro. Como o sistema de casas mais utilizado na astrologia védica é um sistema de casas inteiras, através do qual as fronteiras de um signo correspondem às fronteiras de uma casa astrológica, tal equivale a dizer que este fenómeno também ocorre quando os grahas se situam no final de uma casa astrológica, quase no início da casa seguinte.

    Ocorre quando se situam no último grau de um signo (aproximadamente entre o grau 29 de um signo e o grau 0 do outro signo). Estes pontos do mapa são considerados pontos difíceis, pois enfraquecem os grahas ali situados, prejudicando todos os seus temas e significados num mapa natal.
    Como é um ponto de mudança, muito sensível, reflete uma certa falta de posicionamento e direção do graha.

    É um ponto de transição entre duas energias diferentes, no qual o planeta ali posicionado, perde a sua expressão e integridade. Um graha localizado no meio de um signo, expressar-se-á de forma muito mais forte e evidente, do que um graha localizado nos inícios ou finais de um signo.

    Se nós possuirmos no nosso mapa natal um graha nestas condições, teremos então que prestar mais atenção a este graha, tentando entender a sua forma de atuação e por vezes, utilizar um Upāya (um “remédio astrológico”) para amenizar o potencial negativo deste graha.

    À semelhança do que acontece num mapa natal, também não é auspicioso dar início a qualquer nova atividade ou projeto, quando um graha, em trânsito, se encontra em mudança de signo, principalmente se o graha em questão, estiver relacionado com o tema do novo projeto (exemplo: desfavorável para casamentos ou inícios de novos relacionamentos, o momento em que Vénus se encontra nesta posição).

    Destes pontos de junção, existem alguns mais relevantes que se situam nas junções dos signos de água e de fogo, jala e agni-rāśis, ou seja, entre os signos de peixes e áries, câncer e leão, escorpião e sagitário. Estes pontos sensíveis são conhecidos como gaṇḍānta, “o fim do nó”, que corresponde, simultaneamente, ao ponto de junção ou transição (sandhi) de duas nakṣatras e de dois rāśis (signos). Este assunto foi já anteriormente abordado numa outra edição da newsletter. Recomendo a sua leitura.

    Hari Om
    Maria João Coelho
    Imagem – Fonte: https://myastrology.com

  • Vedanta nao é fast food

    Vedānta não é “fast-food”

    Numa sociedade que corre desenfreadamente e competitivamente em busca de resultados rápidos somos condicionados e treinados para desejar resultados rápidos. A ideia é esta: queremos tudo, e queremos para ontem.


    Desta forma, cultiva-se, quase inevitavelmente, a cultura da impaciência e a cultura da desistência. Não há paciência para esperar por resultados que não sejam rápidos, ou, pior ainda, há a tendência para desistir daquilo que aparenta não dar resultados imediatos.


    Olhando para a natureza apreciamos que tudo surge no tempo que tem que surgir. Uma semente poderá permanecer na terra sem germinar por duas semanas inteiras após ter sido semeada. Uma árvore poderá demorar anos para dar frutos. Os seres humanos só se tornam férteis na adolescência, etc. Há certas coisas na vida que demoram para dar fruto e talvez sejam as que mais realização trazem. Vedānta é uma delas. Vedānta não é fast-food. Não existe algo chamado Mac-mokṣa.


    O estudo demora o seu tempo e não há milagres. Há sim, um compromisso com um projeto de amadurecimento emocional que acompanha o estudo de Vedānta apoiado pelas práticas coadjuvantes que em si constituem o que é chamado de “uma vida de karmayoga”.


    Mokṣa é um projeto que requer a dedicação de uma vida, é um compromisso vitalício. Quem “vende” resultados rápidos está enganado e no seu engano engana os demais. Não se deixe enganar. Empenhe-se, mantenha-se empenhado e o fruto do Vedānta certamente virá.

    Paulo Abreu Vieira

    Professor de Vedanta e Fundador do Centro Arshavidya 

  • A Harmonia do Ser

    आयुर्वेद – Harmonia do Ser: Abordagem Holística do Ayurveda

    A abordagem holística do Ayurveda está directamente ligada à interconexão de sharira (corpo), indriya (sentidos), sattva (mente) e ātmā (o Eu). Esta perspectiva  diz que o nosso bem-estar e saúde está dependente do alinhamento harmonioso destes elementos fundamentais.

    sharira

    O corpo é onde o Eu assenta. É formado pelos 5 elementos fundamentais, espaço, ar, fogo, água e terra. É organizado por doshas, dhatus (tecidos corporais) e malas (excretas). O corpo é um dos lugares onde a saúde e a doença se expressam.

    Compreender como os doshas, dhatus e malas são impactados directamente pelas nossas acções e hábitos é fundamental dentro da sabedoria ayurvédica. Das escolhas alimentares às práticas de estilo de vida, o Ayurveda ensina-nos a nutrir o nosso corpo de uma forma que este mantenha o seu estado natural, promovendo o equilíbrio e a vitalidade.

    indriya

    O termo “indriya” abrange tanto as faculdades sensoriais como as faculdades motoras, abrange também o sistema interno de percepção do conhecimento. No Ayurveda, a noção de indriya vai além da mera existência estrutural de órgãos dos sentidos, como olhos, ouvidos, nariz, pele e língua. Cada sentido possui a capacidade de estabelecer uma conexão com a consciência e pode evoluir para um sentido intensificado na presença da mente e do Eu. 

    De acordo com o āyurveda, o processo de cognição começa dentro da pessoa. o Eu expressa vontade de percepção do conhecimento através da mente. A mente então conecta-se com o sentido particular. Este procura e conecta-se com a fonte para saber sobre aquele objeto específico. De um certo ponto de vista, a decisão de coisas boas/más, corretas/incorretas dependem da coordenação dos órgãos dos sentidos, dos sentidos, do intelecto, do Eu.

    Desta forma, a saúde dos sentidos é fundamental para o equilíbrio pois servem como portas entre o mundo externo e nossa paisagem interna.

    sattva

    Num contexto āyurvédico a palavra sattva é muitas vezes como sinónimo da mente visto sattva ser a sua natureza.  Já vimos que tem um papel importante no processo de cognição. É com a mente que pensamos, analisamos, ponderamos, criamos hipóteses, nos concentramos, temos auto controle, etc.

    Desta forma é importante cultivar uma mente tranquila, com qualidades de pureza e da clareza para que desta forma possamos tomar decisões apropriadas. O Ayurveda ensina que uma mente serena é indispensável para o bem-estar geral. Aprimorar o nosso discernimento, exercitar perseverança e conhecimento do Eu são terapias recomendadas como práticas que promovem equilíbrio mental.

    ātmā

    De acordo com o āyurveda, ātmā não é afectado por doenças, é eterno, é o observador de todas as actividades. Entre outros é responsável pela consciência, individualidade, usufrui do resultado das acções e mantem a memória individual

    O reconhecimento do ātma, a nossa essência é também parte de um bem-estar holístico. É importante descobrir como alinhar as nossas ações com nosso Eu superior e desenvolver um profundo senso de propósito, realização e conexão com o universo.

    A abordagem holística do Ayurveda, fundada nos pilares sharira, indriya, sattva e ātmā, convida-nos a embarcar numa jornada de autodescoberta. À medida que aprimoramos o equilíbrio destes elementos, encontramos não apenas saúde física e mental, mas também uma existência harmoniosa que ressoa com os ritmos eternos do universo.Ricardo Barreto
    Terapeuta de Ayurveda

    Foto de Nandhu Kumar

  • ज्योतिष – JYOTIṢA

    Combustão e Retrogradação

    Sūrya é considerado o Ātman, a alma, regendo a vida e a consciência e é a luz que
    permite que todo o universo de manifeste. Apesar disto e embora de natureza
    sattvica, pura, ele é considerado um graha maléfico pois pelo seu excesso de calor e
    secura pode ser causa de dificuldades, principalmente se existir algum graha muito
    próximo dele. Nesse caso, dá-se um fenómeno chamado de astangata (combustão). A
    combustão é um fenómeno astrológico que acontece quando os grahas (planetas) se
    movem tão próximos do Sol que se tornam invisíveis para nós. Quanto mais um graha
    se aproxima do Sol, mais distante se torna da Terra e quanto maior a sua proximidade
    ao astro rei, menor será a sua força e o seus significados sairão prejudicados, tanto
    quanto no mapa natal de um indivíduo, como quando em trânsito pelo mesmo.


    Devido ao trânsito de Budha (Mercúrio), ser muito idêntico ao de Sūrya, ele nunca fica
    muito distante, podendo estar afastado dele no máximo um signo. Apesar desta
    proximidade, a conjunção dos dois grahas é considerada uma configuração que denota
    também inteligência e capacidades cognitivas.


    Os grahas benéficos naturais (Guru e Śukra) quando combustos, perdem a sua
    habilidade para exercer a sua influência benéfica nas áreas do mapa com as quais se
    relacionam. Por exemplo, Guru combusto poderá prejudicar o tema “filhos” (um dos
    temas significados por Guru) e Śukra, quando combusto, prejudicará a área afetiva (um
    dos temas significados por Śukra). Os grahas maléficos naturais (Maṅgala e Śani), por
    sua vez, ganham a habilidade de exercer uma influência mais maléfica. Isto acontece
    em termos gerais, pois outras configurações do mapa podem atenuar ou acentuar
    estas tendências, como a força do graha, a casa astrológica na qual se situa, as casas
    astrológicas que rege, aspetos que recebe de outros grahas, entre outros.


    Como referido anteriormente, quanto maior a proximidade de Sūrya, mais severos
    tenderão a ser os resultados. Outro aspeto que importa referir é que, os efeitos
    negativos são mais evidentes quando o graha caminha em direção ao Sol do que
    quando ele começa a afastar-se, mesmo que esta distância seja a mesma: os aspetos
    aplicativos são sempre mais potentes que os aspetos separativos.

    As orbes de combustão (distância em graus do Sol) variam de um graha para o outro.
    Hart de Fouw considera as seguintes orbes: 17º para Maṅgala, 14º para Budha (12º
    quando retrógrado,), 11º para Guru, 10º para Śukra (8º quando retrógrado) e 15º para
    Śani. No entanto, a combustão é considerada significativa a partir de 10º, severa a
    partir de 6º e muito severa a partir de 3º.


    Quando um graha se encontra retrógrado (aparentemente a movimentar-se em
    sentido oposto zodiacal), ele distancia-se do Sol e fica mais próximo da Terra. Neste
    caso, o fenómeno da retrogradação é considerado um fator de força para o graha. Ele
    é considerado śākta (forte, poderoso), mas também irreverente, pois um graha
    retrógrado está associado a um comportamento menos previsível do graha, estando
    também associado a indecisões e mudanças de direção. Um graha śākta estará mais
    forte, podendo a sua influência ser potencialmente mais benéfica ou mais maléfica do
    que quando se encontra no estado de movimento direto.


    Desta forma, quando śāktas (em movimento retrógrado), Budha e Śukra, embora
    combustos, estarão mais fortalecidos do que se estiverem combustos e em movimento
    direto, sendo os seus significados beneficiados.
    Outros grahas que também possuem movimento retrógrado, para além de Budha e
    Śukra, são Maṅgala, Guru e Śani.

    Hari Om
    Maria João Coelho
    Imagem – Fonte: https://socientifica.com.br/

  • Swami Dayananda Ashram

    Vedanta Camp no ashram do Swami Dayananda em Rishikesh

    De 10 a 14 de novembro de 2023, o Acarya Paulo Abreu Vieira, fundador do Centro Arsha Vidya em Portugal, conduziu um Vedanta camp onde ensinou aos alunos versos selecionados do Bhagavadgita, transmitindo-lhes também o conhecimento do karmayoga como a visão da unidade.

    O grupo contou com as bênçãos de Swami ji Sakshakrtananda na forma de sua presença e também na forma de duas aulas de Vedanta, a primeira ocorrendo no início do camp e a segunda no final.

    Swami ji falou sobre a história do Dayananda Ashram e também sobre a grandeza de Pujya Swami Dayananda. Em seguida, ele ensinou aos alunos que o eu é diferente de todos os papéis que desempenhamos na vida, transmitindo de forma brilhante o conhecimento de que a consciência está sempre intocada pelos problemas e fricções que fazem parte do desempenho de papéis.

    Os alunos tiveram também a oportunidade de frequentar aulas de Yoga uma vez que o grupo contava com duas professoras de Yoga, Sónia Monteiro e Sónia Vilela, ambas portuguesas. Esta foi uma oportunidade para todos os estudantes, alguns de Portugal e outros do Brasil, vivenciarem em primeira mão o estilo de vida num ashram Vedanta. Todos gostaram e foram enriquecidos pela experiência e pelo ensino.

  • Vedanta

    Amizades e Vedānta

    O estudo de Vedānta só é efetivo se o estilo de vida for adequado. Por estilo de vida digo uma vida de karmayoga, que é uma vida de valores éticos e morais, e também uma vida de contribuição social e comunitária na qual se deseja diminuir o impacto mental nocivo das paixões e aversões, em sânscrito chamadas de rāgas e dveṣas, respetivamente. Como diz um dos meus mestres, o Swami Sadātmānanda, não existem dois compartimentos de vida diferentes, “a vida de Vedānta” e a “a minha vida pessoal”. Para Vedānta funcionar, Vedānta é o compartimento e a vida deverá ser Vedānta.


    Se Vedānta é uma prioridade, terão que haver escolhas de vida conducentes e de suporte ao Vedānta. As escolhas são relativas ao uso do tempo de vida e ao uso das companhias que escolhemos para usar esse tempo. A verdade é que uma boa parte do tempo de vida tem que ser usado para o Vedānta para que este dê frutos. Outra verdade é que as amizades ou companhias deverão, pelo menos, não atrapalhar o estudo.


    “Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és” – este é um dito popular muito conhecido e que tem muito de verdade. Portanto, rodeie-se de pessoas que o apoiem nos seus objetivos. Rodeie-se de pessoas que o ajudem a ser uma pessoa melhor. Rodeie-se de pessoas que tragam inspiração para a sua vida. Evite a companhia de pessoas que não seguem o dharma. Se alguns amigos seus não têm valores éticos e morais e são dados a ações impróprias, talvez seja melhor ponderar se essas amizades são benéficas para si. Talvez não sejam. Se não forem, não invista nelas.

    Paulo Abreu Vieira

    Professor de Vedanta e Fundador do Centro Arshavidya 

  • Como tornar a sua refeição ayurvédica por Ricardo Barreto

    आयुर्वेद – Como tornar a sua refeição ayurvédica

    A alimentação é um dos pilares da saúde mais importantes no ayurveda. Nas redes sociais e na internet passa-se muitas vezes a ideia de que uma receita de comida indiana é ayurvédica. Naturalmente a comida indiana utiliza muitos ingredientes que estão descritos nos textos clássicos mas muitas vezes, estes não são preparados nem consumidos de forma adequada. Então vamos ver como podemos tornar a nossa refeição ayurvédica.

    Apetite e digestão: a chave para a absorção de nutrientes

    A nossa digestão é considerada a base de uma boa saúde. Para melhorar a digestão, é preciso sintonizar com sinais de fome do corpo. Coma apenas quando tiver apetite de verdade, não pela hora ou a situação. Comer sem fome pode levar à comida não ser digerida nem absorvida apropriadamente e isto é suficiente para criar desequilíbrios no corpo especialmente se for feito repetidamente. Respeite sua fome, se sente que não tem apetite para a refeição tente fazer jejum. O mesmo se aplica em casos de indigestão.

    Quantidade certa: manter a digestão equilibrada

    O Ayurveda incentiva a moderação em todos os aspectos da vida, e a alimentação não é excepção. Sobrecarregar o prato é sobrecarregar o sistema digestivo e perturbar o equilíbrio do corpo. A quantidade ideal de comida é aquela que garante que o nosso fogo digestivo não se extinga nem por falta de combustível nem por excesso dele. Tente sempre acabar de comer antes de estar com a satisfação a 100%.

    Ingredientes frescos e sazonais: a recompensa em cada prato

    A natureza fornece diferentes alimentos em diferentes estações para ajudar o nosso corpo a adaptar-se às mudanças ambientais. Escolha uma variedade de frutas e vegetais coloridos, grãos integrais e legumes da estação. Isto não só garante que a sua refeição esteja repleta de nutrição, mas também que esteja alinhada com os ritmos naturais. Dê ênfase a ingredientes frescos, sazonais e de origem local.

    Sem distrações: comer com consciência

    Coma com o mínimo de distrações. Desligue a TV, guarde o telefone e saboreie cada garfada. Preste atenção aos sabores, texturas e aromas da comida. Comer devagar permite que o corpo entenda os sinais de saciedade evitando comer demais. Esta abordagem consciente promove uma conexão mais profunda entre o corpo e a alimentação.

    Alimentos para a saúde e a recuperação: adaptando sua dieta às suas necessidades

    A alimentação, além de manter a saúde, também é um tratamento. Cada pessoa é única e a sua condição de saúde ou de doença varia. As recomendações alimentares devem estar adequadas ao estado da pessoa. Os hábitos alimentares de uma pessoa doente não devem ser os mesmos de uma pessoa saudável. Muitas vezes não tomar uma refeição, simplificar uma receita, evitar certos alimentos, usar diferentes especiarias é suficiente para redirecionar o corpo para um estado de equilíbrio. De forma geral, consumir comida quente, leve e não muito seca é recomendado.

    Incorporar ayurveda nas refeições vai além de estilos culinários e ingredientes indianos. Uma refeição ayurvédica resulta da aplicação de princípios baseados na manutenção da digestão e nutrição dos tecidos corporais com alimentos saudáveis processados de forma adequada. Além disso, é uma abordagem consciente e intencional para nutrir o corpo. Existem outros factores como os 6 sabores, os alimentos incompatíveis que também devem ser levados em consideração mas ao abraçar estes simples cinco aspectos – apetite e digestão, quantidade certa, ingredientes frescos e sazonais, comer com consciência e adaptar a sua dieta às suas necessidades – pode transformar a sua refeição numa refeição ayurvédicas; uma refeição que não crie desequilíbrios no corpo e seja fonte de vitalidade e bem-estar.

    Até já!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

  • Otimismo ou realismo

    Otimismo ou realismo

    Entre o ideal e o factual a distância geralmente é grande. Aquilo que consideramos ótimo para nós é muitas vezes uma forma de idealismo, uma meta quase inalcançável, uma utopia. O factual é a verdade crua e nua que se relaciona com os factos da vida, aqueles que permanecem inalteráveis mesmo perante um idealismo de grande potencial.

    Estas duas posições, chamemos-lhes assim, vêm de duas atitudes diferentes. A primeira é o positivismo, que descamba no otimismo. A segunda é o objetivismo, força que nos coloca da apreciação real das coisas, tal e qual elas são, sem desculpas ou negacionismos. Ser positivo é interessante, porém é falacioso, pois na sua génese reside a omissão daquilo que é negativo.

    Tal omissão degenera num conhecimento parcial das coisas, que é aquele que prefere e elege as ditas coisas positivas, agradáveis, convenientes até. Esta parcialidade cognitiva é a causa de muitos prolemas da vida, aqueles derivados da falta de coragem de lidar com aquilo que é considerado negativo e que precisa de ser visto como tal, para que se possa melhorar e crescer. Ser realista, por outro lado, permite a obtenção de um conhecimento mais integral, pois aqui há ausência de um negacionismo covarde, e dá-se então, desejavelmente, claro, a contemplação e a confrontação daquilo que consideramos ser negativo, para que se possa melhorar e crescer.

    Dito isto, cabe a cada um escolher ou descobrir para onde tende, se para o otimismo ou para o realismo. Se o propósito é crescer e é para isso que cá estamos, não somente como estudantes de Vedānta mas também como humanos, então, certamente o realismo bate em muitos pontos o realismo na corrida de ajuda ao crescimento. E ainda, ser maduro deverá incluir a capacidade de análise daquilo que realmente consideramos negativo nas nossas vidas, para que a mudança para melhor efetivamente aconteça. Aponte para o céu, mas esteja pronto para acertar na terra.