• Sinastria ānukūlya

    ज्योतिष – JYOTIṢA

    Sinastria (ānukūlya)

    A palavra ānukūlya tem como significado aquilo que é favorável, aquilo que é adequado. Desta forma,
    esta técnica da astrologia indiana, no ocidente conhecida como sinastria, tem como objetivo analisar o
    grau de compatibilidade entre duas pessoas, especificamente entre casais, através da análise individual
    e conjunta dos seus mapas natais.


    Kāma, a satisfação sensorial, é um dos quatro objetivos do ser humano (puruṣārtha). No entanto, para
    obter kāma, é ideal a existência do casamento ou alguma situação similar. O próprio desejo sexual é
    essencial para a manifestação de novas vidas, pelo que uma vida conjugal pode e deve ser algo muito
    auspicioso.


    A vida em família, gṛhāstha, através da prática do karma yoga, é uma das mais bonitas formas que o ser
    humano tem ao seu alcance para ganhar a maturidade emocional e a purificação da mente, para poder
    estar apto para o autoconhecimento, para o estudo do “Eu” ilimitado. É desejável que possamos, neste
    caminho em família, estar acompanhados de alguém que nos compreenda, respeite, possua valores
    semelhantes e nos apoie neste caminho. Para tal, é muito importante que possa existir harmonia entre
    o casal em diversas áreas da sua vida.


    Através desta técnica, conseguimos compreender se a experiência afetiva será boa ou não. Convém
    frisar que, embora esta técnica seja aplicada essencialmente a casais, ela pode ser utilizada para
    verificar compatibilidade entre pessoas com diferentes vínculos familiares, de amizade ou mesmo
    profissionais.


    Desta forma, a sinastria implica analisar, em primeiro lugar, o mapa individual de cada pessoa, pois é
    neste mapa que observamos as tendências mais ou menos favoráveis da experiência afetiva dessa
    pessoa, os seus padrões kármicos de relacionamento. A análise do mapa natal individual revela as
    promessas natais do indivíduo nessa área, pelo que será sempre prioridade face à análise conjunta. A
    conjugação nunca se poderá sobrepor às promessas do mapa de cada um.


    Assim, o estudo começa com a análise individual do mapa de cada um dos membros do casal, com o
    estudo das casas astrológicas relacionadas com o tema e com o estudo dos significadores de
    relacionamento. Através deste estudo, podemos concluir acerca da duração dos relacionamentos, do
    número de relacionamentos, da tendência para divórcio e/ou viuvez, da fidelidade e /ou adultério, da
    natureza dos parceiros ou parceiras.


    O passo seguinte é, então, a sinastria. Esse tipo de análise envolve, tradicionalmente, aṣṭa ou daśa-kuta,
    (técnica que analisa oito ou dez itens distintos), todos inferidos a partir do rāśi (signo) e nakṣatra
    ocupado por Chandra (Lua) nos mapas dos casais. O mais utilizado é o modelo do sul da Índia, o daśa-
    kuta. (analisa: rāśi, rāśyadhipati, vaśya, mahendra, gaṇa, yonī, dina, strī-dīrgha, rajju e vedha).
    A técnica da sobreposição de jātakas (mapas natais), é mais contemporânea, mas extremamente eficaz
    para evidenciar as dinâmicas relacionais, através dos relacionamentos estabelecidos entre os grahas
    (planetas) de duas pessoas.

    Aqui analisam-se variadíssimas conexões entre os principais significadores do mapa de cada um, sendo
    as principais as que se estabelecem entre o lagna (ascendente), Chandra (lua), Sūrya (sol) e Śukra
    (vénus).
    Quanto mais e harmoniosas conexões se estabelecerem entre estes significadores, maiores as hipóteses
    de existir harmonia entre o casal a diversos níveis: emocional, intelectual, capacidade de comunicar,
    forma de expressar amor, semelhança de educação e valores, entre outros.


    Como é natural, na maior parte das vezes deparamo-nos com um misto de conexões harmoniosas e
    menos harmoniosas, o que se traduz em relacionamentos mais desafiantes, mas com potencial de
    crescimento, caso haja maturidade nos dois elementos do casal.
    Para além disso, existe sempre a possibilidade da utilização de upāyas (remédios astrológicos), para
    casar/ relacionar-se e preservar relacionamentos.


    Para além da prática do mantra pessoal e do autoconhecimento, é dito que é favorável o estudo dos
    kāma-śāstras, seguir as recomendações do āyurveda no que diz respeito à vida sexual e afetiva, realizar
    vratas como o Soma-vrata, Kātyāyaṇī-vrata, recitar o Svayaṁvara Pārvatī mantra e ainda escutar a
    narração do casamento de Śiva e Pārvatī, conforme o Śiva-purāṇa.


    Hari Om
    Maria João Coelho

  • आयुर्वेद – Como viver uma vida realizada: Sabedoria do Caraka Samhita

    O Caraka Samhita é indiscutivelmente o texto clássico de referência de ayurveda. Supostamente terá sido compilado por volta de 1500 AC e contém nele conhecimentos profundos sobre a biologia humana. Encontramos também conceitos que esclarecem a natureza holística do ser humano, a constituição individual, os cinco elementos fundamentais, os meandros da digestão, do metabolismo e muitos outros. Estes conceitos servem como pilares de conhecimento que contribuem significativamente para o estudo, a prática e pesquisa de ayurveda até aos dias de hoje.

    O texto pinta um quadro vívido do que significa viver verdadeiramente, e não apenas de existir, mas de prosperar.

    A vida ideal, definida

    Uma vida de verdadeira realização é aquela em que o corpo e a mente estão em harmonia, livres de doenças. É uma vida marcada pela exuberância da juventude, um espírito robusto, força física e uma boa reputação. Uma vida verdadeiramente plena incorpora as qualidades de coragem e uma compreensão das artes e das ciências.

    Uma vida de riqueza sensorial

    Na busca por uma vida plena, os sentidos desempenham um papel fundamental. O texto incentiva-nos a abraçar uma vida de riqueza sensorial, onde nossos sentidos são saudáveis e os objetos de nossa percepção sensorial são uma fonte de alegria. Por outro lado é também uma vida marcada por uma capacidade inata de discernir o que é verdadeiro e o que é falso, que é permanente e o que é passageiro.

    Liberdade , autonomia e o caminho virtuoso

    Talvez um dos aspectos mais marcantes de uma vida plena seja a liberdade de seguir os próprios desejos. Aqueles que vivem uma vida assim têm o poder de atingir os seus objetivos e a liberdade. Este senso de autonomia é essencial para a felicidade. Mas uma vida que vale a pena viver não envolve apenas ganhos pessoais. O texto lembra-nos da importância de desejarmos o bem a todos os seres, mostrando que nossa felicidade está intrinsecamente ligada à felicidade dos outros. Exige uma vida livre do desejo pela riqueza dos outros, marcada pela veracidade, pelo amor à paz e por ações ponderadas.

    Acto de equilíbrio

    Para saborear verdadeiramente a essência da vida, o texto enfatiza a necessidade de equilíbrio. Isto significa experimentar os objectivos fundamentais da vida – dharma, artha, kama e moksha – sem que um comprometa o outro. Envolve respeitar nossos superiores e servir os mais velhos com a maior reverência.

    Auto-domínio

    Uma vida plena também envolve auto domínio . Quem segue este caminho têm controle inabalável sobre sua luxúria, raiva, inveja, arrogância e orgulho. A pessoa entrega-se a actos de caridade, meditação, aquisição de conhecimento e abraça a tranquilidade da solitude.

    Uma busca por conhecimento e espiritualidade

    Na busca por uma vida significativa, o conhecimento desempenha um papel crucial. Aqueles que levam uma vida verdadeiramente benéfica são versados nas artes e nas ciências e são devotados à sabedoria espiritual. Trabalham incansavelmente, não apenas no presente, mas com um olhar atento para a próxima vida, e são abençoados com memória e inteligência.

    Concluindo, o texto em seja um texto de medicina geral, oferece-nos insights profundos sobre o que significa levar uma vida plena e verdadeiramente significativa. Lembra-nos que a verdadeira felicidade não é apenas a ausência de dor e sofrimento, mas a presença de alegria, equilíbrio e um compromisso inabalável com o bem-estar de todos os seres. É uma vida bem vivida, repleta de sabedoria, virtude e uma busca incessante por conhecimento e espiritualidade.

    Até já!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

    Foto de Marian Strinoiu – pexels.com

  • Vedanta Paulo Abreu Vieira

    Vedānta não é erudição académica

    A exposição continuada ao ensinamento de Vedānta, que consiste em assistir às aulas de forma regular e comprometida põe o aluno em contacto com a imensa vastidão e a profundidade da literatura de Vedānta existente, que dá suporte e ajuda aos professores, e que coadjuva e complementa o ensinamento das Upaniṣads, que por vezes é encriptado e precisa de mais explicações.


    Perante tal visão da imensamente vasta e profunda literatura de Vedānta e perante a visão da incapacidade humana de estudar tudo numa só vida, a tentativa de alguns é a de cobrir o máximo de literatura, num esforço mais académico e de erudição do que o de ganhar a verdadeira compreensão e visão da não dualidade, que afinal de contas é o grande objetivo do estudo. O objetivo do estudo de Vedānta não é a erudição académica, mas sim, o ganho da visão de que o Eu é Absoluto e Ilimitado.


    Esquecendo este propósito, ou, talvez, estando presos aos padrões consumistas antigos e muito enraizados da mente ignorante, inconscientemente redirecionam a mente consumista e samsārika para a “aquisição” de mais “um texto de Vedānta”. O objetivo passa a ser a aquisição de textos estudados para fins académicos e de massagem ao ego, e não para o ganho da visão da não dualidade.


    Estas palavras não são uma crítica, apesar de poderem ser interpretadas erradamente como tal. São sim, e esse é que é o propósito, uma chamada de atenção para o objetivo do estudo, que é, e repito, o ganho da visão do Eu Ilimitado e não o academismo intelectual.


    Também poderá ser comum em alguns alunos mais antigos e em alguns professores, desenvolverem para si mesmos e por si mesmos uma “pseudo-hierarquia” do género: “como já estudei mais textos, sou mais avançado, sou hierarquicamente superior”, ou “como residi mais anos na Índia, sei mais de Vedānta”, etc. Estas hierarquias são fantasiadas por egos inseguros que ainda precisam de aprovação e revelam que algures o caminho desviou-se. Como dizia o Swami Chinmayananda: “Não interessa em quantas Upaniṣads tocaste, interessa sim quantas te tocaram”.
    Relembre que o propósito do estudo são dois tipos de maturidade: 1 – emocional; 2 – espiritual. Boa sorte para os seus estudos!

    Paulo Abreu Vieira

    Professor de Vedanta e Fundador do Centro Arshavidya 

  • Ricardo Barreto Terapeuta de Ayurveda

    आयुर्वेद – pāda abhyaṅga – rotina de oleação dos pés

    No Ayurveda, abhyaṅga refere-se à aplicação de óleo. Este óleo pode ser simples ou medicado. De forma geral esta aplicação de óleo pode, e por vezes deve ser personalizada com base na constituição do indivíduo, idade, estação do ano, doenças específicas e fatores ambientais.

    Seguindo os princípios descritos nos textos clássicos ayurvédicos a aplicação de óleo deve fazer parte de uma rotina diária pois desacelera o envelhecimento, ajuda na recuperação da fadiga e ajuda em problemas causados por vāta dosha. abhyaṅga refere-se à aplicação de óleo no corpo mas é dito que, na impossibilidade de a fazer na integra, a cabeça, os ouvidos e os pés são os locais que não devem ser descuidados.

    Hoje vamos falar brevemente de pāda abhyaṅga

    Alguns benefícios de pāda abhyaṅga

    • suaviza a rugosidade das solas dos pés
    • alivia a rigidez
    • corrige a secura excessiva
    • alivia a exaustão
    • trata da dormência nos pés
    • promove força e estabilidade nos pés
    • nutre os olhos, prevenindo diversas doenças oftalmológicas

    É também associada a uma melhora do sono, sistema nervoso, ansiedade, stress e outros.

    Procedimento

    • aquecer o óleo em banho maria até estar confortável ao toque
    • espalhar uma pequena quantidade de óleo nas mãos
    • com pressão moderada e lentamente:
      • massajar do tornozelo aos dedos dos pés
      • massajar cada dedo do pé individualmente, da base à cabeça
      • massajar o espaço entre os dedos
      • massajar as solas dos pés
    • massagem pode demorar entre 5 a 15 minutos por pé
    • colocar uma meia e deixar o tempo desejado *

    *Normalmente em ayurveda não é recomendado deixar o óleo no corpo mas no caso de pāda abhyaṅga, como se usa uma pequena quantidade até pode ser deixado durante o sono.

    Pode utilizar simples óleo de sésamo, oléo de amêndoas, azeite, ghee, etc ou um óleo medicado para o efeito.

    pāda abhyaṅga deve ser feito de estômago vazio portanto é normalmente recomendado como uma rotina matinal ou uma rotina de sono.

    pāda abhyaṅga e de facto quaisquer terapias de oleação devem ser evitados durante gripe, febres, indigestão, doenças de pele.

    Já experimentou?

    Até já!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

    Foto de Towfiqu barbhuiya. pexels.com

  • Maria Joao Coelho Astrologia Vedica

    ज्योतिष – JYOTIṢA

    Trânsitos astrológicos final do ano

    A minha proposta neste texto, é colocar as principais orientações astrológicas para este final de ano de
    2023, para que cada um possa refletir nas mesmas, tentando integrar todas essas energias na sua vida,
    quer externa como interna, de forma a navegar nas ondas do samsara de forma mais segura, firme e
    consciente, tomando as melhores decisões a todo o momento, sempre que possível.


    O ano de 2023 tem sido um ano com uma energia muito forte. Uma energia dinâmica, rápida e intensa
    que certamente levou e ainda levará a mudanças muito significativas na vida de cada um. Tem sido,
    certamente, um ano de grandes oportunidades para aqueles que estão dispostos a abrir mão do
    controlo e fluir com a vida, numa atitude de maior flexibilidade e desapego do que já não faz mais
    sentido permanecer nas suas vidas.


    Um ano para quebrar padrões, de forma a aproveitar as novas oportunidades que a vida reserva.
    Um ano com desafios quer a nível material como a nível espiritual. O maior deles será tentar encontrar
    uma ponte segura entre os dois lados, o que apenas será possível se existir uma verdadeira conexão
    interna e uma vontade sincera no nosso crescimento.


    Eclipses de final do ano
    Teremos ainda, neste final do ano, dois eclipses:
    14 de outubro: Lua nova -eclipse solar (anular) a 26º de virgem.
    Será visível na América do Sul (exceto sul do Chile e da Argentina), América do Norte
    (exceto Groenlândia) e América Central. 
    28 de outubro: Lua cheia- eclipse lunar (parcial) a 10º de áries
    Será visível na Europa, Ásia e África, extremo leste da América e parte da Austrália. No Brasil, parte da
    Região centro-Norte poderá contemplar o fenômeno.
    Quanto mais visível o eclipse na região onde nos encontramos, maior os seus efeitos.
    Os eclipses afetarão em particular quem tiver grahas no eixo áries – libra ou quando esse eixo
    corresponde a áreas importantes do mapa. De qualquer forma, as casas onde ocorrem os eclipses terão
    os seus temas afetados por estas energias. Este eixo áries-libra tem sido alvo da passagem dos nodos
    lunares – Rahu e Ketu – nos últimos 18 meses, aproximadamente. Estes dois eclipses fecham aqui a
    passagem por estes signos, encerrando assuntos ligados a estes dois signos no mapa de cada um. Um
    ciclo se fecha e outro se abre, num novo eixo.
    Os efeitos dos eclipses podem ocorrer até cerca de seis meses após a sua ocorrência, sendo
    responsáveis, muitas vezes, por mudanças abruptas na vida da pessoa, correspondendo a finais ou
    inícios de novos ciclos. São períodos que fogem por completo ao nosso controlo e quando decisões são
    tomadas, mudam, por completo, a nossa vida.

    Novo eixo dos eclipses
    A passagem dos nodos, Rahu e Ketu, irá ocorrer, entre 30/10/23 e 18/05/25, no eixo Virgem/Peixes.
    Rahu transitará por Peixes e Ketu transitará por Virgem. Verifique em que casas astrológicas tem estes
    dois signos, pois os assuntos significados por essas casas, serão alvo de mudanças e muita atividade/
    instabilidade.
    Existe neste trânsito um elevado potencial espiritual. Que possamos aproveitá-lo para crescer, através
    de do estudo e da devoção.

    Recomendações para os eclipses
    O mais relevante será mesmo a prática de japa com o mantra pessoal. 
    É igualmente recomendado escutar o “Hanuman Chalisa”.

    Algumas orientações dos śāstras relacionadas aos eclipses são:

    1. Numa faixa de três dias antes e após o eclipse, nenhuma atividade material auspiciosa deve ser
      iniciada.
    2. Mulheres grávidas jamais devem olhar um grahana (eclipse) e nem sequer sair de casa durante tal
      evento. Mulheres grávidas também não devem quebrar varas, moer grãos, fazer pão, cozinhar, cortar e
      limpar durante grahanas, pois tudo isso afetará a criança.
    3. Não se deve cochilar numa faixa de quatro horas antes e depois do grahana.
    4. Não se deve comer durante Sūrya ou Chandra grahana. Idealmente, a última refeição deve ser
      feita doze horas antes do Sūrya grahana ou nove (outros dizem seis) antes do Chandra grahana.
      5- Crianças, velhos e doentes são exceção e podem jejuar por três horas apenas. Alimento cozido antes
      de um grahana não deve ser consumido após este, deve ser jogado fora. Quando o luminar se põe antes
      do fim do grahana, só se deve comer no dia seguinte, após ter visto o luminar novamente
      em sua ascensão. Um banho é necessário nessa situação antes de se alimentar.
    5. Os resultados dos sacrifícios/práticas espirituais realizados durante saṅkrānti, Sūrya vāsara, sap-tamī,
      vaidhṛti, vyatīpāta, hasta, tvaṣṭṛ, punarvasu, ekādaśī, caturdaśī, aṣṭamī, āmāvāsya e pūrṇimatithī são
      multiplicados centenas de vezes, mas os dos grahanas multiplicam-se milhões de vezes, de acordo o
      Padma purāṇa. Entre os muitos sacrifícios propostos nos textos sagrados, nenhum se equipara ao cantar
      do santo nome de Śrī Hari. Na própria Gītā, Śrī Kṛṣṇa diz que entre os sacrifícios espirituais, Ele é o
      cantar murmurado do mantra – yajñānāṁ japa-yajño’smi.
    6. Atividade sexual é desaconselhável 24 horas antes e depois de um grahana, mas, idealmente, deve-se
      considerar 72 horas antes e depois. Crianças nascidas após o ato sexual realizado durante um grahana,
      podem nascer com anomalias, mau caráter, etc.
      8.Folhas de tulasī podem ser depositadas sobre os alimentos para protegê-los da contaminação inerente
      ao momento dos eclipses.
    7. Não se deve cultivar a terra durante um grahana, nem remover as folhas de uma tulasī.
    8. Até o fim do grahana deve-se recitar japa, jejuando de sono.
    9. Após o grahana deve-se trocar de roupas.”

    Final da Retrogradação de Śani (Saturno)
    Śani está retrógrado desde 17/06/23 e findará este período a 4/11/23.
    Śani transita o signo de aquário desde o início deste ano e apenas irá para peixes no final de março de
    2025.
    Este trânsito de Śani por aquário e seus efeitos para cada ascendente, foram já descritos na newsletter
    do início do ano.
    Assuntos significados por Śani no mapa natal, têm sido alvo de revisão desde junho. Devemos aproveitar
    este período até início de novembro, para rever valores, observar as limitações na nossa vida, as áreas
    em que sentimos maiores dificuldades e encontrar novas soluções, com mais maturidade,
    responsabilidade, assertividade e discernimento. Através de uma maior conexão e fortalecimento
    internos, temos agora a possibilidade extraordinária de transcender limites, principalmente os da
    mente.
    Esta retrogradação pela nakshatra shatabhisha, ajudará nesse processo de cura interna e de
    crescimento emocional.
    Situações mais complexas e lentas iniciadas em junho, tenderão a começar a fluir (também lentamente)
    a partir do início de novembro.

    Retrogradação de Guru (Júpiter)
    Guru entrou no seu movimento retrógrado no passado dia 5/09/23 e apenas voltará ao movimento
    direto no último dia do ano, 31/12/23.
    Guru transita por Áries até à primavera do próximo ano, trazendo força, dinamismo e energia aos
    assuntos significados por Guru. Durante este período de retrogradação, há a oportunidade de revisitar
    temas de Guru: espiritualidade, estudos, formações, ensino, relação com professores, finanças, filhos,
    repensando na direção a tomar e escolhas relativas a cada um deles.
    Este trânsito de Guru poderá beneficiar, em particular, os que possuem o Lagna (ascendente) e /ou
    Chandra (Lua) nos signos de gémeos, câncer, leão, sagitário, capricórnio e peixes.
    Neste período de retrogradação, Guru transitará pela nakshatra Bharani e pela nakshatra Aswini. O
    momento será propício para atividades ligadas à cura, para cuidar da saúde a todos os níveis, para dar
    inícios a novos empreendimentos, novos estudos, dar expressão aos talentos. O momento é favorável à
    fertilidade e à prosperidade. A conexão espiritual será muito favorecida neste período, pelo que o
    momento pede força, convicção e devoção.


    Hari Om
    Maria João Coelho
    Imagem – Fonte: https://www.sevenwindsyoga.com/

  • ज्योतिष – JYOTIṢA

    GAṆḌĀNTA

    Hoje falaremos de um conceito muito importante no jyotiṣa, que é o conceito de gaṇḍānta. Tem o
    significado literal de “o fim do nó”, e corresponde, simultaneamente, ao ponto de junção ou transição
    (sandhi) de duas nakṣatras e de dois rāśis (signos). Eles estão situados nas junções dos signos de água e
    de fogo, jala e agni-rāśis, ou seja, entre os signos de peixes e áries, câncer e leão, escorpião e sagitário,
    pois há um perfeito alinhamento de nakṣatra e rāśi nesses pontos, demarcando assim os ciclos de
    criação (fogo) e dissolução (água) por que passam todas as coisas neste mundo.

    Estes pontos, considerados inauspiciosos, situam-se, em termos de nakṣatras, nos primeiros 3º e 20’ de Ashvini (em áries), Magha (em leão) e Mula (em sagitário) e nos últimos 3º e 20´ de Ashlesha (em câncer), Jyeshtha (em escorpião) e Revati (em peixes). Também em astrologia eletiva (Muhūrta), evitam-se os dias de passagem de chandra ou outro graha por estes pontos, para novos inícios ou atividades auspiciosas.


    Estes pontos de transição ou “nós kármicos” estão associados a uma dinâmica tensa e difícil, sendo que
    todos os grahas (planetas), situados nestes pontos, ficam debilitados e tendem a trazer dificuldades aos
    temas a eles associados num mapa natal. Estas questões fazem-se sentir na vida de um indivíduo, por
    meio de relacionamentos pessoais, eventos traumáticos ou lutas internas. Quando o lagna (ascendente)
    ou chandra (lua) calham nestes pontos no mapa natal, considera-se esta situação um doṣa, situação
    muito desarmoniosa que afetará toda a vida do indivíduo, em geral.


    O gaṇḍānta situado em peixes/revati e áries/ashvini está associado a finais e inícios de novos ciclos, o que pode levar o indivíduo a indecisões, dificuldade em entender estes ciclos, levando a grande confusão mental.


    O gaṇḍānta situado em câncer/ ashlesha e leão/ magha traz consigo mudanças psicológicas profundas
    que conduzem o indivíduo a um novo estado de consciência e a um enorme crescimento.
    O gaṇḍānta situado em escorpião/jyeshta e sagitário/mula, é talvez dos mais difíceis, pois as mudanças
    psicológicas são muito fortes e a vivência das emoções bastante intensa, pois muita maturidade é
    necessária para avançar para um estado de maior consciência.


    Sendo estes pontos de grande sensibilidade e com capacidade de trazer infortúnios à vida de uma
    pessoa em termos materiais, eles podem ser extremamente relevantes no caminho espiritual. Através
    de um entendimento mais profundo, estes pontos são “janelas” de expansão da consciência, e podem
    inclinar o indivíduo para a necessidade de se debruçar de forma mais profunda internamente, de
    maneira a poder transcender as necessidades terrenas e com um maior conhecimento, entendimento e
    aceitação, enveredar pelo verdadeiro caminho do autoconhecimento.

    Maria João Coelho

  • Análise gramatical da Bhagavadgita Paulo Abreu Vieira

    भगवद्गितायाः व्याकरणम् – Análise gramatical da Bhagavadgītā (continuação)

    Símbolos usados na análise gramatical:
    √ – raíz verbal; ⊘ – indeclinável; m – género masculino; f – género feminino; n – género neutro; I/1 – primeira pessoa singular; II/1 – segunda pessoa singular (a numeração romana indica a pessoa, a numeração indo-arábica indica o número, que pode ser singular, dual ou plural; 1/1 – 1º caso singular; 1/2 – 1º caso dual; 1/3 – 1º caso plural; 2/1 – 2º caso singular (existem oito casos, vibhaktis, no total; 7/1 – sétimo caso singular; P – parasmaipadī; Ā – ātmanepadī; U – ubhayapadī; VA – voz ativa (kartari prayoga); VP – voz passiva.

    निमित्तानि च पश्यामि विपरीतानि केशव ।
    न च श्रेयोऽनुपश्यामि हत्वा स्वजनमाहवे ॥ १.३१ ॥

    पदच्छेदो (सन्धिच्छेदः) विभक्तिपरिच्छेदः पदार्थो व्युत्पत्तिश्च
    निमित्तानि 2/1n – indicadores, presságios; च Ø – e; पश्यामि I/1 1P√दृश्, लट्, कर्तरि – eu vejo; विपरीतानि – invertidos, opostos, maus; केशव 8/1m – ó Keśava (Aquele que matou o demónio Keśin – केशिनं वाति हन्ति इति केषवः); न Ø – não; च O – e; श्रेयः 2/1n – auspicioso, bom; अनुपश्यामि I/1 अनु1P√दृश्, लट्, कर्तरि – eu vejo; हत्वा Ø √हन् क्त्वा – tendo morto; स्वजनम् 2/1m – a minha própria gente (स्वस्य जनः स्वजनः); आहवे 7/1m – na guerra.

    अन्वयः
    हे केशव, विपरित्तानि निमित्तति च पश्यामि आहवे स्वजनं हत्वा श्रेयश्च न अनुपश्यामि ॥

    अनुवादः
    Tradução:
    V.1.31 – Ó Keśava (Senhor Kṛṣṇa), eu vejo maus presságios e não vejo nada de bom se matar a minha própria gente na guerra.

  • O mundo é a nossa casa. Artigo por Paulo Abreu Vieira

    O Mundo é a nossa Casa

    As identificações do ego são muitas e o ego precisa delas, até certo ponto, pelo menos. Uma delas, e muito bem enraizada, é a identificação com o nosso lugar – “é aqui que eu pertenço”, “esta é a minha casa”, “esta é a minha rua”, “esta é a minha cidade”, “este é o meu país”.


    Repare: não existe “meu” nem “minha”, se conseguir ver que a posse é transitória, temporal…de facto bem breve dada a idade do Universo.
    Esta identificação com o lugar é instintiva e social. Instintiva porque somos animais e estamos instintivamente programados para defendermos aquilo que nos pertence, como a nossa propriedade. Social porque somos condicionados e programados para pensarmos que pertencemos a um dado lugar, como uma cidade ou país.


    Fruto desta identificação surgem conflitos desnecessários com os outros que não pertencem ao mesmo lugar que nós e, nesse sentido, parecemos não diferentes dos animais irracionais, que disputam até à morte o território.


    Então, há que pensar com uma certa profundidade para conseguir transcender as barreiras da mente instintiva e da programação social que nos encerram, por vezes mortalmente, dentro de um modelo fragmentador e separatista. A verdade é que somos todos pessoas a viver num planeta mágico – um pequeno berlinde azul, se visto de muito longe – inserido num todo harmonioso chamado Universo.


    Se existe um lugar ao qual todos pertencemos, sem exceção alguma, esse lugar é este mundo, este cosmos, livre de fronteiras e espaçoso o suficiente para todos podermos viver em harmonia.
    Liberte-se da territorialidade, liberte-se dos “patriotismos”. Somos todos Um Universo em movimento expressando algo fundamentalmente transcendente e eterno, o Ser.

    Paulo Abreu Vieira

  • Ricardo Barreto Ayurveda

    आयुर्वेद – Os 6 sabores de acordo com o āyurveda – parte 2

    A acção de cada um dos sabores é determinada pela sua composição relativa aos 5 elementos (como vimos no artigo passado). Hoje vamos ver brevemente as funções de cada um destes sabores e qual o seu impacto no corpo e mente.

    madhura – doce

    Tem as qualidades de frescura, peso e humidade/oleosidade.

    De uma forma geral o sabor doce promove a força dos tecidos corporais, promove a compleição e a longevidade. Dá prazer e satisfação emocional.

    Em excesso causa doenças de kapha e tecido adiposo, obesidade, problemas digestivos, letargia etc. Pode levar ao apego e à possessividade.

    Não está só presente no açúcar, mel e etc mas também em substâncias como o arroz , centeio, leite, batata frutas doces, etc

    amla – azedo

    Tem as qualidades de leveza, calor e humidade.

    De uma forma geral o sabor amargo em moderação aumenta o apetite, fogo digestivo. Causa a secreção de fluídos no corpo. Dá vigor à mente e aos sentidos.

    Em excesso causa problemas de visão, excesso de sede, acidez, problemas de pele, e outros problemas digestivos. Pode levar à inveja e à raiva.

    Está presente nos citrinos de forma geral mas também em iogurte, vinagres e fermentados.

    lavaṇa – salgado

    Tem as qualidades de peso, calor e humidade.

    De uma forma geral o sabor salgado em moderação aumenta o apetite e a digestão, estimula a produção de saliva, limpa os canais. Dá confiança e motivação.

    Em excesso causa inflamação, retenção de líquidos e velhice prematura (queda de cabelo, rugas, etc). Pode levar à ganância e excesso de ambição.

    Está presente nos sais e consequentemente em produtos salgados.

    tikta – amargo

    Tem as qualidades de frescura, leveza e secura.

    De uma forma geral o sabor amargo em moderação ajuda a secar excesso de muco e tecido adiposo, promove o intelecto, limpa a garganta, dá firmeza à pele. Dá insatisfação.

    Em excesso provoca a perda de força e doença de vāta. Pode levar à tristeza, pesar.

    Está presente em certas folhas verdes, especiarias como o a curcuma e o feno grego, no café, chá, etc

    kaṭu – picante

    Tem as qualidades de calor, secura e leveza.

    De uma forma geral o sabor picante em moderação promove secreções, ajuda na circulação, apetite e digestão e limpa os canais. Dá extroversão e coragem.

    Em excesso provoca perda de libido e força e inflamação, tonturas, e problemas de pele. Pode levar á violência, raiva.

    Está presente em especiarias e alimentos picantes como a malagueta, pimentas, gengibre, alho etc

    kaṣāya – adstringente

    Tem as qualidades de peso, secura e frescura.

    De uma forma geral o sabor adstringente em moderação purifica o sangue, reduz excesso de muco, ajuda a formar fezes, ajuda na cicatrização. Dá introversão.

    Em excesso provoca secura, obstipação com inchaço abdominal, reduz libido e pode levar à perda de tecido corporal. Pode levar a insegurança e medo

    Está presente em leguminosas, banana verde, raiz de lótus, quiabos etc.

    Excepções

    Existem algumas excepções, ficam aqui alguns exemplos

    • arroz com mais de 6 meses, cevada, feijão mungo, mel embora sendo doces tendem a não agravar kapha
    • romã e outros frutos silvestres embora azedos não tendem a agravar pitta
    • sal dos himalayas tende a ser menos prejudicial à visão
    • gengibre seco e alho sendo picantes não tendem a agravar vāta

    Esta foi só uma pequena introdução de como o āyurveda analisa os sabores e a importância da sua utilização para manter o equilíbrio do corpo. Por outro lado, mostra também como a alimentação pode ser utilizada para manipular os doshas.

    Até já!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

    imagem de Vanessa Loring – pexels.com

  • A Grandeza de Saturno

    ज्योतिष – JYOTIṢA

    “A Grandeza de Saturno”

    Como habitualmente, sentei-me para escrever o texto mensal. Vários temas surgiram na minha mente, mas senti que neste momento era necessário fazer uma pausa na linha de pensamento e escrever sobre o que vou escrever. Talvez tenha sentido esta vontade porque Saturno se prepara para entrar no seu período de retrogradação que irá de 17 de junho até 4 de novembro e convida à reflexão …ou porque muitas pessoas têm sentido o efeito terapêutico desta obra ou ainda porque muitas outras têm sentido curiosidade acerca dele, mas entendi que seria importante falar um pouco acerca do livro, a “Grandeza de Saturno”.


    Este livro veio parar às minhas mãos através do Professor Paulo Vieira. Foi uma bênção receber este presente! A “grandeza de Saturno” é um mito terapêutico, contado e recontado ao longo de muitos séculos. Mais que um livro ou uma obra, é uma pérola de sabedoria, de reverência não só a Saturno, como a toda a tradição védica.


    Por um lado, podemos ficar a conhecer as principais histórias associadas a cada deidade que preside cada graha (planeta), compreendendo melhor as suas caraterísticas, o seu significado, o seu poder e a sua forma de atuação, o que permite uma maior consciência acerca dos arquétipos de cada um e acerca da forma como os nossos karmas, a eles associados, se revelam.


    Por outro lado, existe um potencial enorme de conexão interna, com as nossas crenças, com a nossa fé, pois somos conduzidos de forma mágica pelas páginas do livro e convidados a sentir, a observar, a viver os nossos medos, receios, ilusões, sonhos …. uma porta para o nosso interior, para a nossa cura!
    E como ponto fulcral e principal, a reverência a Śani, o Senhor Saturno, tão poderoso e temido, o Senhor do tempo e do karma, que não poupa nada nem ninguém, mas tão importante na nossa vida, no nosso crescimento, na nossa maturidade emocional, na busca por mokṣa. Numa das edições anteriores da Mukti, tive oportunidade de falar um pouco sobre Śani. Fica aqui o convite para a sua leitura.


    Este livro, para além de evidenciar todo o seu poder, toda a sua grandiosidade, toda a sua capacidade, tem como objetivo mudar a nossa forma de olhar para Śani. Compreender Śani no nosso íntimo, é apaziguar os nossos receios, é aprender a fluir com a vida, é abraçá-la sem medo, mas com responsabilidade, aceitação e entrega e é a oportunidade para transcender a visão limitada que temos acerca do mundo, acerca de nós. É o caminho para o autoconhecimento, para a verdadeira libertação.


    São muitas as pessoas com quem contacto que têm tido a oportunidade de abraçar este livro, muitas vezes em momentos muito delicados e confusos das suas vidas, e sentem o efeito poderoso e de verdadeira cura deste maravilhoso mito!
    Graças ao Dr. Robert E. Svoboda, que fez a tradução desta obra para o inglês como reverência a Śani num momento bastante delicado da sua vida, temos a oportunidade de entrar em contacto com esta história e beneficiar de todo o seu profundo ensinamento.
    Existe também já uma belíssima tradução para o português de Eliane Cilmara Edições.
    Ambos os livros estão disponíveis para compra em diversos sites.


    O meu voto é que esta história possa ser cada vez mais partilhada e acolhida no coração de cada um, de forma verdadeira e comprometida.


    Om sham shanaishcharaya namah 
    Maria João Coelho

  • Análise gramatical da Bhagavadgita Paulo Abreu Vieira

    भगवद्गितायाः व्याकरणम् – Análise gramatical da Bhagavadgītā (continuação)

    Símbolos usados na análise gramatical:
    √ – raíz verbal; ⊘ – indeclinável; m – género masculino; f – género feminino; n – género neutro; I/1 – primeira pessoa singular; II/1 – segunda pessoa singular (a numeração romana indica a pessoa, a numeração indo-arábica indica o número, que pode ser singular, dual ou plural; 1/1 – 1º caso singular; 1/2 – 1º caso dual; 1/3 – 1º caso plural; 2/1 – 2º caso singular (existem oito casos, vibhaktis, no total; 7/1 – sétimo caso singular; P – parasmaipadī; Ā – ātmanepadī; U – ubhayapadī; VA – voz ativa (kartari prayoga); VP – voz passiva.

    गाण्डीवं स्रंसते हस्तात्त्वक्चैव परिदह्यते ।
    न च शक्नोम्यवस्थातुं भ्रमतीव च मे मनः ॥ १.३० ॥

    पदच्छेदो (सन्धिच्छेदः) विभक्तिपरिच्छेदः पदार्थो व्युत्पत्तिश्च
    गाण्डीवं 2/1n – Gāṇḍīvam (nome do arco de Arjuna); स्रंसते III/1, 1A√स्रंस्, लट् – escorrega, cai; हस्तात् 5/1m – da mão; त्वक् 1/1f – pele; च Ø – e; एव Ø – de facto; परिदह्यते III/1, परि + 1P√दह्, कर्मणि प्रयोग – está a ser queimada, queima; न Ø – não; च Ø – e; शक्नोमि III/1, 5P√शक् – consigo; अवस्थातुं Ø अव +1P√स्था + तुमुन् – permanecer; भ्रमति III/1, 1P√भ्रम् – anda à roda, rodopia; इव Ø – como que; च Ø e; मे 6/1, अस्मद् शब्द सर्वनाम – minha; मनः 1/1n – mente.

    अन्वयः
    हस्तात् गाण्डीवं स्रंसते त्वक् च एव परिदह्यते अवस्थातुं न च शक्नोमि मे मनः च ब्रमति इव ॥

    अनुवादः
    Tradução:
    V.1.30 – O arco Gāṇḍīvam escorrega da (minha) mão, a (minha) pele, de facto, queima, não consigo permanecer de pé e a minha cabeça parece que anda à roda.

    Paulo Abreu Vieira

  • Vedanta e os relacionamentos amorosos

    Como o Vedānta pode ajudar nos relacionamentos amorosos

    Um dos maiores desafios para os seres humanos são os relacionamentos amorosos, porque é neles que os grandes desafios emocionais inevitavelmente aparecem.

    Dentro da tradição de Vedānta um relacionamento íntimo a longo prazo, como o casamento ou a união de facto, é Yoga. Significa isto que deverá servir para o crescimento emocional de ambos. De facto, qualquer relacionamento com o mundo deverá ser visto como Yoga.


    Um grande objetivo do Yoga é diminuir as tendências impulsivas da mente que tantas vezes são contrárias ao dharma – à ética e à moral – e que afastam a pessoa da paz, da tranquilidade e da felicidade que ela tanto procura e deseja para si. Paralelamente, o objetivo do Yoga é também o de conseguir fazer aquilo que realmente deve ser feito a cada momento e que está de acordo com os vários papéis da vida, como o de mãe, pai, irmão, companheiro, filho, profissional, etc. Portanto, Yoga é decidir e agir de forma informada seguindo a ética e os valores para que as tendências instintivas e impulsivas da mente percam progressivamente o seu poder potencialmente e geralmente nefasto. Falar é fácil, o Yoga é difícil.


    É muito comum no relacionamento surgir insegurança, ciúme, medo da perda, ansiedade, raiva, necessidade de controlar e desentendimentos sobre as tarefas da casa. Tudo isto tem que ser endereçado e trabalhado para que sirvam para crescer e não para detonar o relacionamento e transformá-lo num suplício.


    O Vedānta ajuda a identificar e a superar as emoções desagradáveis que podem prejudicar as relações e mostra que cada ser humano naturalmente as tem, o que possibilita o desenvolvimento de empatia. Para além disso, como confere a realização interior e a verdadeira felicidade, a pessoa deixa de as procurar no outro, evitando assim a dependência emocional. E como incentiva a prática da compaixão, da gratidão e da humildade, que ajudam a fortalecer e a enriquecer o relacionamento. Para além disso, no Vedānta há o grande benefício que advém da convivência com os restantes alunos que são um suporte de crescimento e de ajuda. Finalmente, a presença do professor nos momentos de maior dificuldade ajuda a dar uma orientação.

    Paulo Abreu Vieira

  • Os 6 sabores de acordo com o āyurveda

    आयुर्वेद – Os 6 sabores de acordo com o āyurveda – parte 1

    Um dos factores para uma alimentação equilibrada de acordo com o āyurveda é o uso dos 6 sabores. Sabor, conhecido em sânscrito como rasa, é a sensação interpretada pela língua quando uma substância entra em contacto com ela.

    Os 6 sabores são um conceito único de āyurveda que define que, aparte da diferenciação a nível de experiência sensorial, cada um destes sabores tem uma função específica.

    Os 6 sabores são:

    • svādu ou madhu  – doce
    • amla – azedo
    • lavaṇa – salgado
    • tikta – amargo
    • uṣṇa ou kaṭu – picante
    • kaṣāya – adstringente

    Cada um destes sabores deve a sua composição a uma combinação de 2 dos 5 grandes elementos.

    • doce – terra e água
    • azedo – terra e fogo
    • salgado – água e fogo
    • amargo – ar e fogo
    • picante – ar e espaço
    • adstringente – ar e terra

    Cada um destes sabores têm um impacto directo nos doṣas. Levando em consideração a ordem apresentada anteriormente, podemos dizer que:

    • os 3 primeiros sabores (doce, azedo e salgado) tendem a agravar kapha e a pacificar vāta
    • os 3 últimos sabores (amargo, picante e adstringente) tendem a agravar vāta e a pacificar kapha
    • adstringente, amargo e doce tendem pacificar pitta e os restantes 3 (azedo, salgado e picante) agravam pitta.

    Estes sabores nutrem também o corpo em ordem sucessiva. Assim sendo o sabor doce é o que mais nutre o corpo e o adstringente o que nutre menos.

    Apenas com estas informações conseguimos ver a relevância dos sabores não só no contexto de tratamento como também na prevenção de saúde. Em artigos anteriores já falámos das alterações sazonais e o seu impacto nos doṣas e é com base neste conceito de rasa que surgem sugestões para modificações na dieta. Por exemplo, durante a primavera existe um agravamento natural de kapha e por isso a nível de alimentação o uso predominante de sabores doce, azedo e salgado são contra-indicados. Por outro lado, uma pessoa com doenças que tenham origem em pitta deverão ter a recomendação de evitar a predominância dos sabores azedo, salgado e picante.

    āyurveda recomenda o uso diário destes 6 sabores mas isto não quer dizer que devemos consumir os sabores nas mesmas proporções pois cada sabor tem a sua função portanto a sua predominância de cada sabor deve ser adaptado de acordo às necessidade do corpo e  às alterações sazonais.

    Na segunda parte do artigo vamos falar acerca das funções de cada um destes sabores e entender um pouco melhor em que substâncias se encontram pois quando dizemos sabor doce não estamos necessariamente ou directamente a falar de açúcar. 

    Até já!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

    imagem de  Vanessa Loring – pexels.com