• Os 6 sabores de acordo com o āyurveda

    आयुर्वेद – Os 6 sabores de acordo com o āyurveda – parte 1

    Um dos factores para uma alimentação equilibrada de acordo com o āyurveda é o uso dos 6 sabores. Sabor, conhecido em sânscrito como rasa, é a sensação interpretada pela língua quando uma substância entra em contacto com ela.

    Os 6 sabores são um conceito único de āyurveda que define que, aparte da diferenciação a nível de experiência sensorial, cada um destes sabores tem uma função específica.

    Os 6 sabores são:

    • svādu ou madhu  – doce
    • amla – azedo
    • lavaṇa – salgado
    • tikta – amargo
    • uṣṇa ou kaṭu – picante
    • kaṣāya – adstringente

    Cada um destes sabores deve a sua composição a uma combinação de 2 dos 5 grandes elementos.

    • doce – terra e água
    • azedo – terra e fogo
    • salgado – água e fogo
    • amargo – ar e fogo
    • picante – ar e espaço
    • adstringente – ar e terra

    Cada um destes sabores têm um impacto directo nos doṣas. Levando em consideração a ordem apresentada anteriormente, podemos dizer que:

    • os 3 primeiros sabores (doce, azedo e salgado) tendem a agravar kapha e a pacificar vāta
    • os 3 últimos sabores (amargo, picante e adstringente) tendem a agravar vāta e a pacificar kapha
    • adstringente, amargo e doce tendem pacificar pitta e os restantes 3 (azedo, salgado e picante) agravam pitta.

    Estes sabores nutrem também o corpo em ordem sucessiva. Assim sendo o sabor doce é o que mais nutre o corpo e o adstringente o que nutre menos.

    Apenas com estas informações conseguimos ver a relevância dos sabores não só no contexto de tratamento como também na prevenção de saúde. Em artigos anteriores já falámos das alterações sazonais e o seu impacto nos doṣas e é com base neste conceito de rasa que surgem sugestões para modificações na dieta. Por exemplo, durante a primavera existe um agravamento natural de kapha e por isso a nível de alimentação o uso predominante de sabores doce, azedo e salgado são contra-indicados. Por outro lado, uma pessoa com doenças que tenham origem em pitta deverão ter a recomendação de evitar a predominância dos sabores azedo, salgado e picante.

    āyurveda recomenda o uso diário destes 6 sabores mas isto não quer dizer que devemos consumir os sabores nas mesmas proporções pois cada sabor tem a sua função portanto a sua predominância de cada sabor deve ser adaptado de acordo às necessidade do corpo e  às alterações sazonais.

    Na segunda parte do artigo vamos falar acerca das funções de cada um destes sabores e entender um pouco melhor em que substâncias se encontram pois quando dizemos sabor doce não estamos necessariamente ou directamente a falar de açúcar. 

    Até já!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

    imagem de  Vanessa Loring – pexels.com

  • Ayurveda Especiarias

    आयुर्वेद – Āyurveda – Especiarias para melhorar a digestão

    O processo de digestão começa quando pensamos na comida. Cores, aroma, textura e sabor alteram a nossa experiência de consumo e de assimilação. Desta forma as especiarias melhoram o sabor da comida. São uma parte essencial da “alimentação ayurvédica” e devido às suas qualidades medicinais podem ser usadas para equilibrar os doṣas, aumentar a digestão, absorção de nutrientes, circulação, etc.

    Sendo a digestão um elemento central em questões de saúde e doença ficam aqui algumas especiarias que devem fazer parte de qualquer cozinha pois tem o potencial de ajudar na digestão ao mesmo tempo que ajudam a trazer sabor à comida.

    CARDAMOMO

    É considerado um excelente digestivo, especialmente benéfico na redução do inchaço e gases intestinais.

    É excelente para equilibrar kapha, principalmente no estômago e nos pulmões. Também é útil para pacificar vāta. As sementes são frequentemente mastigadas para refrescar o hálito.

    CANELA

    É frequentemente usado em preparações de ervas ayurvédicas para aumentar a bio disponibilidade de outras ervas.

    É excelente para pacificar Kapha e bom para equilibrar vāta também. Tende a aumentar pitta.

    No Āyurveda, a canela é usada para equilibrar a digestão e pacificar distúrbios estomacais. Combinado com outras ervas e especiarias quentes, como gengibre e pimenta preta, pode ser fervido em um chá de ervas para aliviar o desconforto associado a constipações.

    CRAVINHO

    Considera-se que o cravinho melhora a circulação, a digestão e o metabolismo e ajuda a combater distúrbios estomacais, como gases, inchaço e náusea. Muito usado em ingrediente em produtos de higiene bucal para promover a saúde dos dentes e refrescar o hálito.

    O cravo tem sabores picantes e amargos. O cravo ajuda a pacificar vāta e kapha e aumenta pitta.

    SEMENTES DE COENTRO

    é uma especiaria tridoṣa muito apreciada na Āyurveda. É um tempero refrescante e tem sabores doces e adstringentes. Os textos Āyurvédicos sugerem que é bom para a digestão, abre o apetite, ajuda a combater alergias e também ajuda a purificar o sangue.

    COMINHO

    especiaria aromática ligeiramente aromática e picante, ajuda na digestão e na secreção de sucos digestivos. Ajuda a eliminar as toxinas do corpo. Melhora o intelecto, alivia kapha, acção antioxidante.

    GENGIBRE EM PÓ

    é um tempero quente, de sabor picante. Ajuda a pacificar vāta e kapha e aumenta pitta. Está incluído em muitas formulações ayurvédicas devido às suas propriedades curativas. É útil para ajudar na digestão, aumentar o apetite, pacificar distúrbios estomacais e manter a saúde das articulações e do sistema respiratório.

    PIMENTA PRETA

    É considerado um importante tempero. É um ingrediente essencial em muitas formulações ayurvédicas. Possui propriedades de limpeza e antioxidante e ajuda a transportar os benefícios de outras ervas para diferentes partes do corpo.

    É excelente para pacificar kapha e vāta e aumenta pitta. Ajuda a melhorar a digestão e a circulação de nutrientes, estimula o apetite e ajuda a manter a saúde do sistema respiratório e das articulações.

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

  • Ayurveda Detox Ricardo Barreto

    आयुर्वेद – Āyurveda – Detox: Sim ou Não? – Parte 2

    Hoje vamos falar de pañcakarma, os 5 procedimentos.

    pañcakarma é um processo de purificação que tem como objectivo eliminar os doṣas em excesso do corpo e restabelecer o equilíbrio.

    Tradicionalmente estes são os 5 procedimentos

    • virecana – purgação terapêutica
    • vamana – vómito terapêutico
    • vasti / basti – “enema” terapêutico
    • raktamokṣaṇa – venecção
    • nasya – instilação nasal

    Cada uma destas terapias, devido à sua área de acção é considerada a melhor para cada um dos doṣas:

    • nasya e vamama na zona do corpo associada a kapha
    • virecana na zona do corpo associada a pitta
    • basti na zona do corpo associada a vāta

    Como referido anteriormente o objectivo de pañcakarma é eliminar os doṣas em excesso do corpo, vamos então ver, de acordo com os textos clássicos, quais poderão ser esses indicadores.

    Entre outros, estes são alguns exemplos de sinais de doṣas agravados:

    Indigestão, perda de peso excessiva, excesso de peso, anemia, sensação de peso, exaustão, fraqueza, mau cheiro do corpo, falta de energia, insónia ou sonolência excessiva, impotência, perda de força e tez apesar de uma dieta nutritiva.

    Tendo em consideração alguns dos exemplos listados podemos facilmente pensar que todos nós de uma forma ou de outra estamos a precisar de pañcakarma mas na verdade estes procedimentos só deveriam acontecer se os doṣas estiverem muito agravados.

    Embora pañcakarma seja, muitas vezes, promovida como experiência de spa, com pacotes na Índia de 4, 15, 20 dias, não é de facto, uma experiência muito prazerosa.

    Quando é bem feito, precisa de 3 etapas

    • uma etapa de preparação que normalmente passa por beber ghee/manteiga clarificada durante vários dias até chegar ao ponto de saturação e fazer várias terapias físicas de oleação e sudação.
    • uma etapa onde se aplicam os procedimentos de pañcakarma necessários que podem e normalmente deixam a pessoa fraca e com a digestão prejudicada
    • uma etapa pós tratamento que visa e trazer ao corpo força e vitalidade, e este é considerado o passo mais importante com reintrodução alimentar, rotinas diárias e formulações medicinais direccionadas ao rejuvenescimento.

    Se o processo de pañcakarma for bem sucedido na remoção dos doṣas em excesso do corpo e o restabelecimento do poder digestivo as doenças devem pacificar, a saúde da pessoa deve ser estabelecida, deve haver melhora a nível dos órgãos dos sentidos, da mente, intelecto e compleição, a pessoa deve sentir-se rejuvenescida. Da mesma forma, se o processo for feito de forma inadequada ou de forma excessiva claro, terá os resultados opostos aos benefícios.

    Então existem então algumas considerações a fazer.

    O āyurveda é de facto a favor da purificação do corpo. Esta purificação pode ser feita de forma mais solta com algum controle de alimentação, exercício físico e uso de substâncias que ajudem nesse processo (como referido no artigo anterior) ou, como vimos hoje por um processo de pañcakarma que embora apresente benefícios maravilhosos, é normalmente caro, longo e não muito agradável de se fazer.

    E apesar destas terapias de purificação serem recomendadas regularmente nos textos ayuvédicos como parte de uma rotina sazonal, se olharmos para o nosso contexto actual, existe uma grande diferença na maneira como vivemos e no que consumimos em termos de alimentos e percepções. A questão aqui é, se realmente não houver uma alteração nas coisas que fazemos diariamente será pañcakarma a solução a longo termo?

    Na última década, passei muitos meses no vaidyagrama, um hospital tradicional de ayurveda no sul da Índia e testemunhei resultados maravilhosos com pancakarma. Ao investigar o histórico destas pessoas, em muitos casos, a sua condição poderia, quase com toda a certeza, ter sido evitada por uma alimentação e estilo de vida mais conscientes.

    A prevenção é sempre a melhor cura.

    Ricardo Barreto

  • आयुर्वेद – Āyurveda – Detox: Sim ou Não? – Parte 1

    Será o detox nos dias de hoje mais importante do que nunca? Será o detox nos dias de hoje mais importante do que nunca? O que o āyurveda diz sobre “detox”?

    O conceito de detox está longe de ser novo, inúmeras culturas e religiões reconhecem o conceito de limpeza não só a nível do corpo mas também a nível mental e espiritual mas a verdade é que, hoje em dia, a palavra detox está em praticamente em qualquer círculo envolvido em serviços ou produtos de saúde e bem estar.

    Certamente nunca terá havido algum período na história em que estivéssemos mais expostos a poluição e a toxinas ambientais, no ar, na água, no solo (plásticos, pesticidas, cosméticos e produtos de limpeza). E como isso não fosse já por si problemático junta-se à lista uma quantidade alarmante de comidas ultra processadas e um estilo de vida sedentário. No nosso dia a dia, consciente ou inconscientemente, estamos expostos a estas substâncias “tóxicas” mas nem sempre o corpo sabe o que fazer com elas. Algumas destas toxinas são expelidas juntamente com as excretas e outras acumulam nos tecidos do corpo onde, temporariamente causam menos mal.

    O nosso corpo está programado para fazer detox: o nosso fígado, rins, pulmões, sistema digestivo e pele estão constantemente a desintoxicar-nos. O grande problema acontece quando nós sobrecarregamos estes órgãos ou sistemas do corpo e prejudicamos a sua capacidade de se auto desintoxicar. Então na verdade, nós não conseguimos fazer detox, nós simplesmente podemos facilitar o processo ao não nos expormos a “toxinas” ou a suportar estes órgãos a fazerem o seu trabalho com mais eficácia.

    No āyurveda o foco são os doṣas, os tecidos do corpo, os excretos (principalmente fezes, urina e suor) e o importante fogo digestivo. doṣas em desequilíbrio afectam e prejudicam a digestão que por sua vez prejudica os tecidos corporais e os canais de excreção. Desta forma o fogo digestivo, o sistema digestivo e tracto gastro intestinal tem um papel fundamental nos processos de purificação do corpo. 

    Quando a comida não é digerida apropriadamente torna-se numa “toxina” chamada āma.  A palavra āma pode ser traduzida como cru, não digerido, verde (contrário de maduro) e, como o nome indica, é que algo que não foi digerido apropriadamente pelo corpo. Se este āma não for eliminado pode movimentar-se pelo corpo, alojar-se nos tecidos e causar diversas doenças. Os sintomas de āma podem ir de fatiga, falta de energia, passando por diversos problemas digestivos (indigestão, prisão de ventre, diarreia, etc), problemas de circulação, dor e inflamação nas articulações até problemas mais graves como a aterosclerose, por exemplo. Este āma não deve então, de forma alguma permanecer no corpo.

    Um “detox” ayurvédico passaria primeiramente por digerir este āma.

    • Se for em pouca quantidade e se não estiver associado aos doṣas ou aos tecidos, o processo de digestão de āma pode passar por jejum na dieta, exercício físico, etc.
    • Se for em mais quantidade, a estas medidas adicionaria-se o uso de substâncias que ajudem a cozinhar o āma como por exemplo gengibre, pimenta preta, canela etc,
    • Se for em grande quantidade, outros procedimentos de pañcakarma (tópico do próximo artigo) seriam utilizados.

    Uma vez que o āma esteja cozinhado, os canais desobstruídos, os doṣas pacificados, o fogo digestivo equilibrado os diferentes sistemas do corpo funcionam de forma apropriada e o “detox” acontece naturalmente.

    Um modelo para um simples “detox” ayurvédico apropriado para pessoas saudáveis ou que, de forma geral não têm grandes problemas de saúde poderia passaria por:

    • favorecer comida vegetariana, leve, cozinhada e de fácil digestão
    • evitar ou mesmo eliminar lacticínios, fritos, alimentos crus, comidas ultra-processadas, etc
    • preferir canjas e sopas leves, fruta cozida
    • consumir água morna, chá de gengibre, cominhos, etc 
    • exercícios gentis sem muito esforço como yoga, caminhadas
    • descanso adequado, número de horas necessário, deitar cedo e cedo erguer
    • diferentes terapias de oleação e de suor

    Uma semana com esta rotina deverá ajudar o corpo a “desintoxicar” mas como sempre, a prevenção continua a ser o melhor remédio. Se não nos intoxicarmos com alimentos ou produtos alimentares insalubres, um dia jejum semanal ou quinzenal e actividade física regular são suficientes para manter o corpo limpo.

    Este artigo é simplesmente informativo e não substitui parecer profissional personalizado.

    No próximo artigo vamos falar mais detalhadamente acerca de pañcakarma, os processos que o āyurveda recomenda quando doṣas e āma estão em grande quantidade e faremos a nossa conclusão final.

    Até já!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

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  • आयुर्वेद -Āyurveda – O Mundo Moderno

    Āyurveda tem vindo a ganhar popularidade nas últimas décadas. Cada vez mais pessoas procuram abordagens naturais e holísticas para a saúde pois e apesar das suas raízes milenares, o āyurveda parece estar a tornar-se cada vez mais relevante no mundo moderno ao oferecer perspectivas únicas sobre saúde e bem-estar.

    Um dos princípios fundamentais do āyurveda é o princípio dos opostos. Este princípio define que o excesso de certas qualidades deve ser equilibrado com os seus opostos. Isto pode parecer básico pois é o que fazemos naturalmente por exemplo, com o uso de diferentes guarda roupas consoante o calor do verão e o frio do inverno. Mas vamos expandir um pouco mais este conceito.

    Ao olhar para o mundo moderno podemos constatar que este é rápido, irregular e instável. Ainda que existiram problemas em qualquer momento da existência humana, não será errado assumir que nunca houve uma altura em que mudanças se dessem tão rápido. Mudanças rápidas criam mais irregularidades e aumentam a instabilidade não só no mundo exterior como no mundo interior. Aplicando o princípio dos opostos, o remédio para algumas aflições do mundo moderno seriam calma, regularidade e estabilidade.

    āyurveda reconhece que para saúde e bem estar verdadeiros tem de haver equilíbrio a conexão entre o corpo, a mente, e o Eu. O corpo humano efectivamente não precisa de instruções. A nossa anatomia e fisiologia foi muito bem estruturada para dar sinais claros de quando precisa de manutenção, quando precisa de energia a fome chega, quando precisa de eliminar sentimos necessidades fisiológicas, quando sente frio treme, e por aí adiante. De uma forma simplista o corpo apenas requer que seja nutrido e usado adequadamente. A mente é mais complexa mas, de acordo com as ciências védicas, a sua natureza é sattva. A mente está equilibrada quando não está influenciada negativamente pela energia de rajas ou inércia de tamas. Uma mente equilibrada é uma mente presente e pacífica, capaz de navegar as manipulações dos gostos e das aversões. Finalmente, de acordo com o āyurveda, o Eu é eterno e não sofre qualquer tipo de aflições.

    Quando um carro está a ir rápido demais, de forma irregular e instável a coisa mais segura a fazer é mesmo parar.

    Da mesma forma, devíamos aprender a baixar o nosso ritmo excessivo nem que seja uns minutos por dia. Parar… respirar fundo… deixar a mente acalmar e de forma consciente voltar aos nossos afazeres. Quer queiramos quer não, o corpo gosta de rotinas. O corpo nutre-se ou desnutre-se dependendo da qualidade dos hábitos que criamos para eles. Portanto, ter uma rotina regular de saúde favorável ao desempenho do corpo é uma forma de criar regularidade e estabilidade.

    Com os desenvolvimentos tecnológicos e com a maneira como a tecnologia infiltrou quase todas as áreas das nossas vidas, acabamos por viver uma desconexão nunca vista em relação ao mundo natural. No contexto virtual, a tecnologia permite conectar mais pessoas do que nunca, mas será que estamos realmente mais conectados ao mundo real? Aos poucos fomos trocando tempo ao ar livre na natureza por entretenimento na TV, actividades lúdicas por consolas e telemóveis. Chegamos ao ponto de vermos famílias sentadas na mesma mesa e cada elemento a olhar para um aparelho que aos poucos se tornou a sua conexão com a realidade.

    Qualquer solução para os problemas do mundo moderno não passa necessariamente por mudar o que é, mas sim como aprender a lidar com tudo o que se encontra à nossa volta de forma mais saudável. Perceber as qualidades a que estamos expostos e nos causam desequilíbrios, usar princípios apropriados para nos equilibrarmos. Coisas simples como parar para respirar fundo, ter rotinas saudáveis, passar mais tempo na natureza e reavivar contacto humano são exemplos de como o āyurveda e outras ciências milenares terão sempre muito a oferecer pois os princípios sobre quais foram desenvolvidas não mudam.

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

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  • आयुर्वेद – Āyurveda – A mente e o Ayurveda. Parte 2

    No último artigo falámos de algumas considerações acerca da mente de acordo com o āyurveda, hoje seguimos com perspectivas acerca de saúde mental e possíveis tratamentos.

    Saúde mental

    Embora não existam textos clássicos específicos sobre saúde mental, baseado nas informações espalhadas neles, podemos dizer que as doenças da mente são caracterizadas por:

    • diminuição das funções gerais da mente (controle dos órgãos dos sentidos, autocontrole, hipótese e consideração)
    • diminuição do discernimento, memória, etc
    • falta de força de vontade
    • viciação de rajas e tamas
    • possível envolvimento de elementos fisiológicos

    Alguns factores gerais que podem comprometer a saúde mental

    • contacto insalubre com o tempo, intelecto e sentidos (3 factores referidos noutro artigo)
    • não seguir uma boa conduta de valores pessoais, sociais, éticos, espirituais, etc
    • supressão inadequada de impulsos mentais, verbais e físicos.
      • por exemplo, medo, vaidade, mentiras, insultos, etc devem ser suprimidos
      • impulsos naturais como urina, fezes, fome e sono, etc não devem ser suprimidos
    • karma de vidas passadas
    • a natureza ou constituição do indivíduo
    • concretização de desejos ou aversões

    Sendo āyurveda um sistema holístico é por vezes, muito difícil fazer uma distinção clara ou separação do funcionamento do corpo e da mente visto estarem sempre interligados. Mas, de acordo com o āyurveda, distúrbios emocionais como inveja, depressão, ansiedade, raiva são causados por rajas e tamas desregulados. Outras patologias mais complexas têm também um envolvimento com vāta, pitta e kapha.

    Tratamento

    Existem três grandes correntes de tratamento

    • daivavyapāśraya (terapia espiritual) – inclui mantras, oferendas, rituais, peregrinações, etc
    • yuktivyapāśraya – regime de alimentação e estilo de vida, medicação, tratamentos
    • sattvāvajaya – controle da mente ou afastamento da mente de objectos insalubres

    Todas estas correntes terapêuticas podem e são normalmente utilizadas em qualquer doença, mas no contexto específico da mente gostaria de explorar um pouco sattvāvajaya. A palavra sattvāvajaya é composta por sattva, que neste caso quer dizer mente e avajaya que pode ser traduzida como conquista, vitória, etc. Então sattvāvajaya quer dizer: conquista ou vitória sobre a mente.

    A verdade é que esta palavra aparece uma única vez nos textos clássicos e é simplesmente explicada como: “a remoção da mente de objectos prejudiciais”. Mas se olharmos para o resto dos textos, normalmente terapias para a mente assentam no autoconhecimento, conhecimento em geral, aumento do discernimento, coragem, memória e do poder de concentração.

    Então na verdade, uma intervenção ayurvédica no contexto de saúde mental, passa sempre por uma reavaliação de nutrição e estilo de vida, um possível reforço fitoterápico com formulações que suportem as funções mentais e também algumas técnicas de suporte que passam por uma espécie de “psicoterapia” que pode inclui trabalho emocional, regulação dos processos mentais, reformulação de ideias, orientar objectivos, auto controlo, auto conhecimento, reavaliação da realidade, etc.

    Embora não esteja implícito nos textos em si, podemos apreciar a importância que uma vida e prática de yoga, o estudo de vedanta, meditação, e variadas terapias têm nestes processos. De uma perspectiva āyurvedica estes não só são úteis para a prevenção, mas também como um suporte fundamental no tratamento de doenças da mente.

    Existem certas teorias ou opiniões de que o facto de os textos clássicos não se debruçarem muito sobre doenças da mente corpo em comparação a doenças do corpo.

    Uma das teorias diz que possivelmente haveriam pessoas especializadas nesta terapia de sattvāvajaya por isso não havia necessidade de muita explicação.

    Outra seria devido ao facto de que, devido a um estilo de vida mais simples e mais alinhado com a natureza e de forma geral menos stressado, havia menos recorrências de problemas relacionados com a mente.

    Fica aqui uma contemplação para o novo ano!

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de āyurveda

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  • आयुर्वेद – Āyurveda- A mente e o Ayurveda. Parte 1

    “Embora todos nós tenhamos mentes e as usemos constantemente, não sabemos o que realmente é nossa mente. Estamos tão envolvidos nas atividades da mente que não paramos para descobrir o que a própria mente realmente é. Sem conhecer a natureza da mente e suas funções, como podemos realmente abordá-la? O problema é que, para conhecer a mente, devemos primeiro conhecer a nós mesmos. Devemos entender quem realmente somos.”

    David Frawley

    O objecto de estudo do āyurveda é a vida humana. Dentro deste conceito de vida existem 4 aspectos que são levados em consideração, o corpo físico, os sentidos, a mente e ātma.

    Então já que não é possível falar em saúde plena sem falar de saúde mental, hoje vamos explorar um pouco as perspectivas ayuvédicas sobre mente.

    A mente, é chamada antaḥkaraṇa, ou a “consciência interior”. Toda a criação se baseia e se manifesta através da mente e esta é responsável pela nossa percepção do mundo externo. A mente pode ser vista então como a causa do conhecimento.

    De acordo com os textos clássicos do āyurveda, aquilo que é responsável pelo acto de contemplar e pensar é conhecido como manasa ou mente.

    A mente apresenta as seguintes características:

    É singular

    A qualquer momento a mente pode ser associada a um único orgão do sentido e recebe informação desse orgão. Porque é tremendamente rápida pode parecer que se consegue associar a mais do que um sentido ao mesmo tempo mas na verdade só no conseguimos focar numa percepção de cada vez

    É subtil

    É considerada uma partícula subtil na natureza. Pode assumir qualquer forma ou tamanho. Conseguimos pensar num átomo ou num planeta e a mente consegue viajar e permear ambos.

    É activa mas sem consciência própria

    A mente executa as suas funções mas não actua por si própria, ela é inspirada pelo ātma

    Está além de percepções sensoriais

    É a causa do conhecimento externo e percepções internas, consegue perceber os objectos dos sentidos e controla todos os sentidos do corpo.

    É responsável pelas acções dos orgão dos sentidos

    Os órgãos dos sentidos só são capazes de perceber objetos quando estes estão associados à mente.

    É tridimensional

    Tem 3 qualidades, sattva, rajas e tamas

    É dito que manasa tem seis “objectos

    – pensamento – acerca do que pode ou não ser feito

    – análise ou consideração

    – raciocínio ou especulação

    – concentração ou meditação

    – determinação ou intenção definitiva

    – tudo o resto que pode ser conhecido por manasa – por exemploprazer ou dor

    Algumas funções de manasa

    – controle dos sentidos

    – auto controle

    – criar hipóteses

    – ponderar

    Desta forma āyurveda considera que uma pessoa é mentalmente saudável se

    – tem o seu intelecto, resiliência e memória intactos

    – consegue discriminar entre o certo e o errado, o saudável e o insalubre

    – tem controle apropriado sobre si mesmo e os seus sentidos

    – tem o poder dos 6 objectos (referidos acima)

    No próximo artigo vamos explorar de uma maneira mais prática, um pouco sobre saúde mental de acordo com o āyurveda

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de āyurveda

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  • आयुर्वेद – Āyurveda- Estilo de Vida Saudável

    Excepto em casos de maior gravidade, os maiores desafios relacionados com a nossa saúde e bem estar estão ligados às coisas que fazemos (ou não fazemos) diariamente. São estas acções que determinam como nos vamos sentir a curto, médio e longo prazo. Normalmente são coisas relativamente simples como dormir o suficiente, como nos alimentamos, como usamos o nosso corpo, quanta estimulação damos à nossa mente, etc.

    Hoje em dia somos bombardeados com mil e uma alternativas para atingir o bem estar pleno. Há sugestões para todos os gostos e feitios: do crudivorismo à dieta cetogénica, do crossfit ao tai chi, sono polifásico ao sono de 8 horas, das meditações dinâmicas ao yoga nidrā. E claro, todas as possibilidades entre estas hipóteses mencionadas e podemos adicionar também os extremismos….  é muita coisa.

    O āyurveda menciona 3 pilares de tratamento. āhāra (alimentação), vihāra (estilo de vida) e oṣadhi (medicamento)

    Em artigos passados já falámos de alimentação (1,2), falaremos de medicamentos no futuro, então hoje gostava de falar brevemente acerca de Estilo de Vida.

    Normalmente associamos alimentação e estilo de vida a intervenções fundamentalmente ligadas à prevenção mas na verdade, o primeiro passo num tratamento em āyurveda passa por remover a causa da doença.

    Por exemplo, se eu tenho refluxo por excesso de consumo de álcool, parar ou reduzir o consumo eliminará o refluxo. Se eu tenho insónias porque bebo café, parar de beber café dar-me-á um sono descansado. A lógica é simples mas criámos uma mentalidade que nos dá a liberdade para continuar a fazer o que queremos sem grandes repercussões a curto prazo, onde solução prática e imediata passa por tomar um antiácido e continuar o consumo excessivo de álcool e um comprimido para dormir para continuar com o consumo de cafeína. E não uma questão de demonizar o álcool ou o café mas se o corpo dá sinais de incompatibilidade eventualmente a médio e longo prazo complicações irão surgir.

    A verdade é que, em muitos casos, se os desequilíbrios não forem crónicos ou bem enraizados, alterações na alimentação e estilo de vida são suficientes para reverter a situação.

    Quando falamos de estilo de vida estamos a falar das actividades que suportam o bem estar e o equilíbrio.

    Neste campo, as recomendações normalmente assentam em:

    • exercício físico 
    • sono e descanso
    • rotinas diárias, rotinas sazonais
    • saúde mental e emocional
    • autoconhecimento

    Em āyurveda dá-se extrema importância à individualidade portanto estas recomendações devem ser adaptadas de forma individual mas gostaria de deixar aqui alguns pontos básicos que podem servir, de forma geral, como um guia diário.

    • deitar cedo e cedo erguer
    • actividade contemplativa
    • actividade física (idealmente até suar)
    • seguir recomendações de alimentação (1,2)
    • não suprimir nem forçar os impulsos naturais (fezes, gases, urina, sono, etc)
    • não usar demasiado os sentidos (demasiada exposição a aparelhos electrónicos, música, etc)
    • parar actividades físicas, verbais e mentais antes de chegar ao ponto de exaustão
    • praticar compaixão com todos os seres vivos
    • ter discriminação acerca do potencial resultado das acções e agir de acordo

    Agora restam as perguntas: Como se quer sentir amanhã? Que passos poderia começar a dar hoje para garantir que isso aconteça?

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de āyurveda

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  • आयुर्वेद- Āyurveda -Rotinas simples para um Outono Saudável

    Quando falamos de estações temos sempre de nos relembrar que o mais importante é compreender as qualidades dos doṣas.

    Tradicionalmente na India, o Outono tende a ser uma estação quente que que sucede a estação chuvosa, esta sucessão de qualidades tende a agravar o pitta doṣa. No entanto em Portugal,  o Outono é geralmente associado a um tempo mais fresco, seco e ventoso que são qualidades que tendem a aumentar vāta doṣa.

    Assim sendo as rotinas de Outono devem levar em consideração um possível aumento de vāta. Ficam aqui algumas sugestões.

    Alimentação

    • comidas quentes e nutritivas
      • por exemplo, se toma pequeno almoço uma das sugestões seria papas de aveia com frutas cozidas com especiarias como a canela, cardamomo, etc
      • esta é uma altura perfeita para começar a re-introduzir sopas quentes na sua dieta.
      • batata doce, todas as variedades de abóbora, beterraba, vegetais cozidos ao vapor etc
    • chás
      • gengibre, cardamomo, etc
        • este ajudam a melhorar a digestão e ajudam a manter o corpo quente

    Estilo de Vida

    • deitar cedo e cedo erguer
      • sono apropriado é fundamental para saúde a geral mas é um hábito ainda mais importante para manter nesta altura em que o vāta tende a desequilibrar
    • rotina de yoga, meditação, pranayama
      • rotinas menos vigorosas e de enraizamento
    • proteção dos elementos
      • manter o corpo protegido do excesso de vento e frio
    • aplicação de óleo
      • esta é a altura em que a pele tem tendência a secar por causa da tendência do aumento de vāta

    A Evitar

    • comida demasiado seca
    • jejum prolongado
    • bebidas frias ou geladas
    • noitadas
    • excesso de actividade física

    Na prática sabemos que a mudança de estações não acontece com a passagem de uma data no calendário mas sim nas mudanças do ambiente à nossa volta. É importante observar e ir sentindo como as alterações climatéricas vão influenciando o funcionamento do nosso corpo e ir fazendo os ajustes necessários para evitar o desequilíbrio dos doṣas.

    Não posso deixar de relembrar que estas sugestões são recomendadas para pessoas saudáveis.

    Desejos de um Outono Saudável 🍁🍁🍁

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

    www.instagram.com/wayofayurveda_pt

    +351 925380997

  • आयुर्वेद- Āyurveda

    ORIGENS DO ĀYURVEDA 

    uma breve história de acordo com o Caraka Saṃhitā

    A certa altura, após alterações ao estilo de vida que desconectaram os seres humanos dos ciclos da natureza, doenças começaram a dificultar a vida da humanidade ao criar impedimentos à observação de práticas físicas, mentais e espirituais que garantiam a longevidade. 

    Cheios de compaixão, sábios sagrados reuniram-se para uma assembleia num local auspicioso perto dos Himalaias para tentar arranjar respostas para este problema que se tinha tornado um grande obstáculo para o ser humano.

    Esta assembleia era composta de grandes sábios dotados de grande conhecimento espiritual, grande autocontrole e iluminação. Após terem feito as suas preces começaram as suas deliberações auspiciosas. Todos concordaram que a saúde era a melhor fonte de virtude, riqueza, gratificação e emancipação; enquanto as doenças eram destruidoras desta fonte, do bem-estar e da própria vida. Os sábios concentraram-se em encontrar a solução. 

    Em estados de alta contemplação, perceberam que Indra (Rei das Deidades) seria quem lhes diria os meios corretos para superar as doenças. Este conhecimento tinha sido passado para Indra pelos gémeos Aśvin (médicos celestiais), que por sua vez o receberam de Prajāpati (Senhor de todos os seres) que o aprendeu de Brahmā (o Criador) que por sua vez se tinha lembrado desta ciência.

    Mas agora, quem deveria ir à residência de Indra para perguntar sobre os meios corretos para combater e prevenir as doenças? 

    O sábio Bharadvāja voluntariou-se.

    Bharadvāja, tendo chegado à residência celestial de Indra, viu-o sentado no meio de grupos de sábios divinos, a brilhar como fogo.

    Aproximou-se dele com palavras de louvor e humildemente submeteu a mensagem dos sábios:

    “Manifestaram-se doenças aterrorizantes para todas as criaturas, ó Senhor das Deidades! Aconselhe-me acerca das medidas adequadas para as corrigir!”. 

    Indra, tendo sentido a ampla inteligência deste grande sábio, transmitiu-lhe o Āyurveda. Bharadvāja, inteligente e focado, adquiriu o Āyurveda de forma adequada e alcançou uma vida longa e imensamente feliz. 

    Āyurveda revelou-se como conhecimento de saúde e bem estar tanto para os saudáveis como para os doentes. 

    Os outros sábios, desejosos de longa vida, também receberam de Bharadvāja, o benevolente conhecimento para melhorar a vida. Os grandes sábios compreenderam adequadamente os princípios pelos quais atingiram o mais alto nível de bem-estar e longevidade.

    Um destes sábios, Punarvasu Atreya, pela sua benevolência, concedeu o conhecimento de Āyurveda a seis dos seus discípulos. Estes discípulos foram então encorajados a escrever textos de Āyurveda que mais tarde seriam apresentados de volta a Atreya.

    Agniveśa, um dos discípulos escreveu o primeiro tratado e os outros seguiram. De forma auspiciosa, estes compêndios foram aprovados pelos sábios e foram estabelecidos como bases fortes para o bem-estar dos vivos.

    Os grandes sábios, benfeitores de todas as criaturas, foram elogiados pela sua compaixão para com os seus semelhantes. Estas palavras enfáticas e sábias foram ouvidas pelas deidades, que ficaram extremamente satisfeitas.

    A versão original desta história aqui resumida está presente no Caraka Saṃhitā. De facto, o texto original chama-se Agniveśa Tantra, uma obra que continha a documentação dos diálogos entre Agniveśa e colegas com o seu mestre Purnavaso Atreya. Mais tarde, o texto Agniveśa Tantra foi editado pelo ācārya Caraka tornando-se o Caraka Saṃhitā, que acabou por se tornar, possivelmente, o livro mais importante da história do Āyurveda.

    Nesta história podemos apreciar o uso da palavra “relembrado” que aponta para o facto de que Āyurveda não é um conhecimento “inventado”, mas sim um conhecimento “relembrado” pelo Criador. Como se o Āyurveda fosse o reflexo de uma observação natural do funcionamento do corpo/mente humana e da maneira como estes interagem com o meio ambiente ao seu redor. Por outro lado aceitando ou não a história mitológica, a verdade é que este conhecimento tem vindo a ser transmitido de professor para aluno há milhares de anos criando um fluxo de conhecimento, a que nós hoje temos acesso e usufruirmos, devido ao trabalho das pessoas que se têm vindo a dedicar ao estudo e à transmissão desta ciência.

    Neste guru pūrṇimā agradeço com reverência todos os sábios/as, mestres/as, professores/as e alunos/as que mantiveram e mantêm o Ayurveda vivo até aos dias de hoje.  🙏🙏🙏

    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

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  • Āyurveda – Alimentação Saudável e āyurveda. Parte 2.

    Depois de termos visto os 8 factores que devem ser levados em consideração em relação à alimentação, vamos ver os métodos que o āyurveda prescreve para refeições saudáveis.

    Alimentos quentes e recém-cozidos

    A comida recém cozida tem um elemento de frescura e de sabor difícil de atingir quando comemos comida pré cozinhada ou preservada. A comida preparada e consumida na altura estimula o processo digestivo, tende a ser digerida mais rapidamente. Além disto, normaliza as funções dos doṣas ao evitar obstruções no processo de digestão.

    Por o āyurveda ter origem em tempos antigos, pode haver o argumento de que, sem os métodos de preservação como frigoríficos e congeladores de hoje em dia, a comida iria estragar-se e pôr a saúde em risco, daí a existência desta sugestão. Pode ser um argumento válido mas o impacto de comida fresca e recém cozinhada na digestão é inquestionável.

    Comida untuosa

    Quando uma refeição é demasiado seca parece que fica mais difícil de mastigar e de digerir. Imagine comer duas ou três daquelas famosas bolachas de arroz simples sem beber nada…

    Refeições mais untuosas estimulam o processo digestivo, digerem mais facilmente, nutrem o corpo, dão firmeza aos órgãos dos sentidos, aumentam a força e melhoram a tez.

    Untuoso não quer dizer que a refeição deva ser extremamente oleosa ou gordurosa. Hoje em dia, com o aumento de doenças cardiovasculares associadas a dietas demasiado ricas em gorduras temos de ter cuidado com as quantidades que ingerimos mas devemos garantir que existe a quantidade ideal de lubrificação  especialmente de gorduras saudáveis e o menos processadas possível.

    Quantidade adequada

    Da mesma forma que pôr demasiada lenha na fogueira põe em risco a integridade do fogo, o excesso de comida, ainda que saudável, pode prejudicar a digestão.

    É dito que devemos dividir o nosso estômago em três partes e encher ⅓ com comida, ⅓ com líquidos e deixar o último terço vazio para garantir um bom processo de digestão.

    Esta quantidade vai variar de pessoa para pessoa. Se a seguir à refeição não houver desconforto, sensação de peso ou dores no abdómen ou outras partes do corpo; se não houver desconforto ou sensação de peso a respirar, andar e sentar; se a mente e os sentidos estão energizados, então podemos dizer que a quantidade está adequada.

    Após a digestão completa das refeições anteriores

    A digestão é o processo que fundamentalmente nutre o nosso corpo. É um processo com princípio, meio e fim e o corpo deve ter o tempo necessário para completar este ciclo da melhor forma possível.

    O que acontece é que muitas vezes acabamos por começar um processo de digestão antes do anterior ter acabado. De acordo com o Ayurveda, isto é uma causa de viciação dos doṣas e acaba por gerar problemas a vários níveis.

    A recomendação básica é deixar um espaço mínimo de 3 horas entre refeições, pois este é o tempo médio de digestão. É claro que este intervalo varia de acordo com a quantidade, as qualidades dos alimentos e a capacidade digestiva da pessoa a dado momento.

    Combinação adequada de alimentos

    Este é um tópico complicado e controverso pois tem muitas variantes técnicas mas na sua maioria tem a ver com a combinação de alimentos de origem animal, por exemplo peixe com leite, leite com frutas ácidas, etc.

    Por outro lado, alimentos consumidos fora de localidade, por exemplo comida muito seca no deserto; fora de tempo, por exemplo alimentos frios no inverno; alimentos pesados e em quantidade excessiva para o agni, etc são consideradas combinações inadequadas.

    Lugar certo e com os acessórios certos

    Devemos comer num local favorável e com acessórios apropriados, pois é importante sentirmo-nos confortáveis e satisfeitos ao comer. Hoje em dia existe muita fast-food e comida de balcão que é conveniente em termos de tempo mas não nos permite tirar o proveito necessário da refeição. 

    Não muito rápido

    Não se deve comer muito rápido pois é necessário sermos capazes de verificar as qualidades do alimento, o seu sabor ou até mesmo detectar quaisquer defeitos no alimento. É importante garantir que o alimento não entre na passagem errada.

    Não muito devagar

    Não se deve comer muito devagar pois corremos o risco de não ficarmos satisfeitos, acabar por comer demais, a comida tende a ficar fria e acima de tudo é digerida irregularmente.

    Com a devida concentração na alimentação e com estado mental normal

    Se bem que a refeição é por vezes vista como um evento social, o āyurveda recomenda comer com a máxima concentração na comida. Existem várias razões para isto e podemos levar em consideração todos os pontos vistos anteriormente. É dito também que quando estamos num estado mental/emocional alterado, com raiva, tristeza excessiva, etc, devemos adiar a refeição pois o processo digestivo pode ficar prejudicado. 

    Com auto consciência

    A nossa alimentação deve ser o resultado de um processo de auto observação, devemos comer de acordo com a nossa individualidade, os nossos gostos e necessidades que provavelmente vão ser diferentes dependendo do dia, estação do ano e idade. A alimentação é um processo de nutrição do corpo, deve ser feita a partir de alimentos integrais e saudáveis sem comprometer o prazer da pessoa que a consome.

    Ricardo Barreto

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  • Āyurveda – Rotinas simples para uma Primavera Saudável

    Rotinas simples para uma Primavera Saudável

    Na cultura védica, o ano é dividido em 2 partes. Esta divisão é marcada pela aparente jornada do sol em direção a norte ou sul a partir do equador. Esta jornada é aparente para nós pois na realidade é a terra que está em movimento.

    Estas divisões são uttarāyaṇa (ou ādānakāla), que designa a  jornada do sol em direcção ao norte e dakṣiṇāyana (ou visargakāla) que designa a jornada do sol em direção ao sul..

    Cada uma destas divisões engloba três estações definidas de acordo com a posição do sol, no uttarāyaṇa há o inverno tardio, a primavera e verão; no dakṣiṇāyana, há a estação chuvosa, o outono e o inverno.

    Como esta divisão das estações é geográfica em relação ao hemisfério norte e à Índia especificamente, as suas características específicas não podem ser aplicadas universalmente mas apresentam uma linha de raciocínio que podemos usar em qualquer parte.

    Na visão do Ayurveda, estes dois movimentos impactam os seres humanos de maneiras diferentes. Diz-se que em uttarāyaṇa, a intensidade, calor e o efeito de secura do sol enfraquecem a qualidade refrescante natural da Terra dando a este movimento uma predominância mais fogosa retirando a força ao ser humano. O contrário acontece em dakṣiṇāyana, onde a lua é tida como mais poderosa, assim sendo, o sol perde intensidade e a terra devolve a força ao ser humano.

    Então seguindo esta lógica, nas estações mais frias, inverno e inverno tardio a força das pessoas está no máximo, no verão e na estação chuvosa está no mínimo e nas restantes ela está moderada.

    E isto pode parecer estranho pois na nossa experiência parece que é no verão que temos vontade de estar mais activos e no inverno mais vontade de recolher. Mas imaginem caminhar numa terra árida 30 minutos debaixo de um sol quente?

    Por outro lado, um dos factores mais importantes para a nossa saúde no Ayurveda, a nossa digestão, está de forma geral, mais poderosa nos meses frios pois existe uma concentração natural de calor no centro do corpo que melhora a capacidade digestiva.

    Isto tudo para dizer que existe uma dinâmica nas mudanças das estações e que esta dinâmica afecta a maneira de como o nosso corpo funciona. Para o Ayurveda, o vigor de uma pessoa é promovido ao seguir uma dieta e estilo de vida sazonal.

    Então o que acontece na Primavera?

    O kapha doṣa que aumentou e acumulou durante o inverno começa a ser liquidificado pelo raios de sol da primavera, isto enfraquece o fogo digestivo e causa vários problemas. Imaginemos um bloco de gelo (kapha) a derreter e a ir em direção a uma fogueira (digestão)…

    Quais são as recomendações do Ayurveda para  a Primavera?

    Existem várias terapias que podem ser feitas para apaziguar rápidamente este kapha doṣa agravado mas esta deve ser feitas com algum acompanhamento profissional portanto vamos focar-nos na alimentação e estilo de vida.

    Visto que a tendência da digestão é ficar mais fraca, esta é uma boa altura para evitar alimentos:

    que são muito pesados para digerir (p. ex, carne, feijão preto)

    alimentos ou processamentos que têm muita gordura (p. ex, queijos, fritos)

    alimentos com a predominância de sabor doce (p. ex, hidratos de carbono)

    alimentos com qualidades frias (p. ex iogurte)

    Em relação ao estilo de vida, algumas recomendações são:

    evitar dormir durante o dia

    fazer exercício físico regular

    fazer massagens secas (sem óleo) e vigorosas.

    Esta é uma boa altura para começar a fazer refeições mais leves e fáceis de digerir. A nossa tendência é começar a comer saladas e comidas cruas mas não nos podemos esquecer que o poder digestivo está fraco nesta altura portanto, a minha sugestão seria vegetais e folhas verdes cozidas ao vapor e temperadas com o mínimo de gordura possível, trocar os feijões por lentilhas cozinhadas com especiarias que ajudam a digestão como os cominhos, cardamomo, gengibre, etc.

    É uma boa altura para fazer uso de chá de gengibre. Se não seguir uma alimentação vegana pode também beber água (à temperatura ambiente) com um pouco de mel.

    Relembrando que estas são recomendações para pessoas saudáveis, portanto deverão ser ajustadas a cada caso individual para uma pessoa que está num processo de doença.


    Desejos de uma Primavera Saudável 🌻🌻🌻


    Ricardo Barreto

    Terapeuta de Ayurveda

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  • Um janeiro saudável com Āyurveda

    O Āyurveda fala sobre como os ciclos da natureza influenciam a nossa atividade física, mental e emocional e traz soluções práticas para acomodar o corpo durante cada estação. Por isso, uma certa tomada de consciência é preciso para que possamos viver no fluxo da vida. É só quando conseguimos fluir com a vida que temos saúde, energia, capacidade de lidar com as situações desafiantes e alegria incondicional.

    Como estamos no mês de Janeiro, um mês com muito frio e solidão no hemisfério norte, é natural sentir uma tendência de nos recolhermos mais, de ficar mais tempo em casa ou até de diminuir o ritmo. A sociedade e os preconceitos mentais colocam bastante pressão no início do ano quando todos freneticamente começam novas resoluções, projetos, mudanças grandes, etc, só porque é um ano novo. Como a maioria de nós já reparámos ao longo da vida, poucos ou nenhum propósito como imposição vai ser alcançado e depois ficamos com a frustração de não ser capazes de realizar coisas importantes.

    O Janeiro é um mês perfeito para uma reflexão profunda, para descanso e contemplação. A natureza também não tem nada de explosivo no inverno, permanece apenas, largando mais e mais e ganhando novas formas mais tarde. Ventos gelados são eclipsados por um céu cinzento e sombrio, no entanto a quietude da paisagem traz uma paz especial. Agora, que tudo parou e o próprio tempo parece lento, podemos aproveitar esta oportunidade tranquila para estabelecer novos hábitos, devagar. Como vamos trabalhar no nosso crescimento espiritual este ano? E quanto à nossa saúde física?

    Este é o mês em que é preciso determinação para sobreviver ao inverno desolador. Janeiro é chamado de “inverno morto”. A segunda-feira da última semana de Janeiro é chamada de “segunda-feira azul” porque estatisticamente é o dia mais deprimente do ano. Por isso, é natural sentir alguma nostalgia e, se tiver mais desequilíbrios, até depressão. Como podemos cuidar mais de nós?

    Janeiro no corpo

    Ayurvedicamente, Janeiro é um mês de transição da secura Vata para a humidade Kapha. Nesta época do ano, a escuridão e o frio podem nos deixar com uma sensação de preguiça e muito sono, com visivelmente menos energia. O corpo continua a se adaptar ao frio. Quando saímos, a respiração se torna visível e o corpo fica gelado até os ossos. O nariz fica entupido conforme as passagens nasais incham para proteger o delicado tecido respiratório do frio. A pele fica entorpecida à medida que os capilares restringem o fluxo sanguíneo no esforço de preservar o calor.

    Menos fluxo sanguíneo e falta de exposição ao sol também tornam a pele pálida e seca. Pode se sentir dez anos mais velho em janeiro, mas não se desespere! É só o frio. A frequência cardíaca diminui com o clima mais frio, levando à estagnação sistémica do sangue. O corpo concentra a maior parte do sangue no centro para manter aquecidos os órgãos vitais e isso vai fortalecer o poder digestivo.

    Rotina para Janeiro

    • agora é o tempo para hibernar, refletir, sonhar. Plante e alimente as sementes que vão florescer na primavera.
    • uma boa noite de sono (pelas 22h00) está no topo da lista em janeiro e deve vir com facilidade para a maioria.
    • é bom acordar com o sol, mas não se force a acordar muito mais cedo (é natural dormir mais nesta época do ano).
    • para apoiar o processo de dormir cedo e ter um bom descanso, termine de comer ao pôr de sol.
    • mantenha-se aquecido, especialmente a região lombar (os rins são particularmente sensíveis ao frio).
    • continue a praticar Abhyaṅga diariamente.
    • os pulmões e os seios da face precisam de cuidados extras, portanto use o pote Neti e o óleo Nasya diariamente para garantir uma boa saúde respiratória.
    • adicione exercícios respiratórios regulares (prāṇāyāma) à sua rotina diária para manter o sangue circulando.
    • práticas suaves de yoga que trazem calor e enraizamento/alongamento.
    • desfrute alimentos azedos e fermentados. Muitos alimentos fermentados aquecem e são azedos, o que não só criará calor, mas também vai humedecer as glândulas e a pele.
    • alimentos quentes e substâncias ainda são importantes.
    • não se esqueça de beber água morna/temperatura ambiente várias vezes durante o dia.

    Desejamos saúde e consciência para o Novo Ano 2022!

    Elena Călinoiu
    Professora de yoga
    Técnica de Ayurveda
    +351 938 349 114