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आयुर्वेद – Como tornar a sua refeição ayurvédica
A alimentação é um dos pilares da saúde mais importantes no ayurveda. Nas redes sociais e na internet passa-se muitas vezes a ideia de que uma receita de comida indiana é ayurvédica. Naturalmente a comida indiana utiliza muitos ingredientes que estão descritos nos textos clássicos mas muitas vezes, estes não são preparados nem consumidos de forma adequada. Então vamos ver como podemos tornar a nossa refeição ayurvédica.
Apetite e digestão: a chave para a absorção de nutrientes
A nossa digestão é considerada a base de uma boa saúde. Para melhorar a digestão, é preciso sintonizar com sinais de fome do corpo. Coma apenas quando tiver apetite de verdade, não pela hora ou a situação. Comer sem fome pode levar à comida não ser digerida nem absorvida apropriadamente e isto é suficiente para criar desequilíbrios no corpo especialmente se for feito repetidamente. Respeite sua fome, se sente que não tem apetite para a refeição tente fazer jejum. O mesmo se aplica em casos de indigestão.
Quantidade certa: manter a digestão equilibrada
O Ayurveda incentiva a moderação em todos os aspectos da vida, e a alimentação não é excepção. Sobrecarregar o prato é sobrecarregar o sistema digestivo e perturbar o equilíbrio do corpo. A quantidade ideal de comida é aquela que garante que o nosso fogo digestivo não se extinga nem por falta de combustível nem por excesso dele. Tente sempre acabar de comer antes de estar com a satisfação a 100%.
Ingredientes frescos e sazonais: a recompensa em cada prato
A natureza fornece diferentes alimentos em diferentes estações para ajudar o nosso corpo a adaptar-se às mudanças ambientais. Escolha uma variedade de frutas e vegetais coloridos, grãos integrais e legumes da estação. Isto não só garante que a sua refeição esteja repleta de nutrição, mas também que esteja alinhada com os ritmos naturais. Dê ênfase a ingredientes frescos, sazonais e de origem local.
Sem distrações: comer com consciência
Coma com o mínimo de distrações. Desligue a TV, guarde o telefone e saboreie cada garfada. Preste atenção aos sabores, texturas e aromas da comida. Comer devagar permite que o corpo entenda os sinais de saciedade evitando comer demais. Esta abordagem consciente promove uma conexão mais profunda entre o corpo e a alimentação.
Alimentos para a saúde e a recuperação: adaptando sua dieta às suas necessidades
A alimentação, além de manter a saúde, também é um tratamento. Cada pessoa é única e a sua condição de saúde ou de doença varia. As recomendações alimentares devem estar adequadas ao estado da pessoa. Os hábitos alimentares de uma pessoa doente não devem ser os mesmos de uma pessoa saudável. Muitas vezes não tomar uma refeição, simplificar uma receita, evitar certos alimentos, usar diferentes especiarias é suficiente para redirecionar o corpo para um estado de equilíbrio. De forma geral, consumir comida quente, leve e não muito seca é recomendado.
Incorporar ayurveda nas refeições vai além de estilos culinários e ingredientes indianos. Uma refeição ayurvédica resulta da aplicação de princípios baseados na manutenção da digestão e nutrição dos tecidos corporais com alimentos saudáveis processados de forma adequada. Além disso, é uma abordagem consciente e intencional para nutrir o corpo. Existem outros factores como os 6 sabores, os alimentos incompatíveis que também devem ser levados em consideração mas ao abraçar estes simples cinco aspectos – apetite e digestão, quantidade certa, ingredientes frescos e sazonais, comer com consciência e adaptar a sua dieta às suas necessidades – pode transformar a sua refeição numa refeição ayurvédicas; uma refeição que não crie desequilíbrios no corpo e seja fonte de vitalidade e bem-estar.
Até já!
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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आयुर्वेद – Como viver uma vida realizada: Sabedoria do Caraka Samhita
O Caraka Samhita é indiscutivelmente o texto clássico de referência de ayurveda. Supostamente terá sido compilado por volta de 1500 AC e contém nele conhecimentos profundos sobre a biologia humana. Encontramos também conceitos que esclarecem a natureza holística do ser humano, a constituição individual, os cinco elementos fundamentais, os meandros da digestão, do metabolismo e muitos outros. Estes conceitos servem como pilares de conhecimento que contribuem significativamente para o estudo, a prática e pesquisa de ayurveda até aos dias de hoje.
O texto pinta um quadro vívido do que significa viver verdadeiramente, e não apenas de existir, mas de prosperar.
A vida ideal, definida
Uma vida de verdadeira realização é aquela em que o corpo e a mente estão em harmonia, livres de doenças. É uma vida marcada pela exuberância da juventude, um espírito robusto, força física e uma boa reputação. Uma vida verdadeiramente plena incorpora as qualidades de coragem e uma compreensão das artes e das ciências.
Uma vida de riqueza sensorial
Na busca por uma vida plena, os sentidos desempenham um papel fundamental. O texto incentiva-nos a abraçar uma vida de riqueza sensorial, onde nossos sentidos são saudáveis e os objetos de nossa percepção sensorial são uma fonte de alegria. Por outro lado é também uma vida marcada por uma capacidade inata de discernir o que é verdadeiro e o que é falso, que é permanente e o que é passageiro.
Liberdade , autonomia e o caminho virtuoso
Talvez um dos aspectos mais marcantes de uma vida plena seja a liberdade de seguir os próprios desejos. Aqueles que vivem uma vida assim têm o poder de atingir os seus objetivos e a liberdade. Este senso de autonomia é essencial para a felicidade. Mas uma vida que vale a pena viver não envolve apenas ganhos pessoais. O texto lembra-nos da importância de desejarmos o bem a todos os seres, mostrando que nossa felicidade está intrinsecamente ligada à felicidade dos outros. Exige uma vida livre do desejo pela riqueza dos outros, marcada pela veracidade, pelo amor à paz e por ações ponderadas.
Acto de equilíbrio
Para saborear verdadeiramente a essência da vida, o texto enfatiza a necessidade de equilíbrio. Isto significa experimentar os objectivos fundamentais da vida – dharma, artha, kama e moksha – sem que um comprometa o outro. Envolve respeitar nossos superiores e servir os mais velhos com a maior reverência.
Auto-domínio
Uma vida plena também envolve auto domínio . Quem segue este caminho têm controle inabalável sobre sua luxúria, raiva, inveja, arrogância e orgulho. A pessoa entrega-se a actos de caridade, meditação, aquisição de conhecimento e abraça a tranquilidade da solitude.
Uma busca por conhecimento e espiritualidade
Na busca por uma vida significativa, o conhecimento desempenha um papel crucial. Aqueles que levam uma vida verdadeiramente benéfica são versados nas artes e nas ciências e são devotados à sabedoria espiritual. Trabalham incansavelmente, não apenas no presente, mas com um olhar atento para a próxima vida, e são abençoados com memória e inteligência.
Concluindo, o texto em seja um texto de medicina geral, oferece-nos insights profundos sobre o que significa levar uma vida plena e verdadeiramente significativa. Lembra-nos que a verdadeira felicidade não é apenas a ausência de dor e sofrimento, mas a presença de alegria, equilíbrio e um compromisso inabalável com o bem-estar de todos os seres. É uma vida bem vivida, repleta de sabedoria, virtude e uma busca incessante por conhecimento e espiritualidade.
Até já!
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
Foto de Marian Strinoiu – pexels.com
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आयुर्वेद – pāda abhyaṅga – rotina de oleação dos pés
No Ayurveda, abhyaṅga refere-se à aplicação de óleo. Este óleo pode ser simples ou medicado. De forma geral esta aplicação de óleo pode, e por vezes deve ser personalizada com base na constituição do indivíduo, idade, estação do ano, doenças específicas e fatores ambientais.
Seguindo os princípios descritos nos textos clássicos ayurvédicos a aplicação de óleo deve fazer parte de uma rotina diária pois desacelera o envelhecimento, ajuda na recuperação da fadiga e ajuda em problemas causados por vāta dosha. abhyaṅga refere-se à aplicação de óleo no corpo mas é dito que, na impossibilidade de a fazer na integra, a cabeça, os ouvidos e os pés são os locais que não devem ser descuidados.
Hoje vamos falar brevemente de pāda abhyaṅga
Alguns benefícios de pāda abhyaṅga
- suaviza a rugosidade das solas dos pés
- alivia a rigidez
- corrige a secura excessiva
- alivia a exaustão
- trata da dormência nos pés
- promove força e estabilidade nos pés
- nutre os olhos, prevenindo diversas doenças oftalmológicas
É também associada a uma melhora do sono, sistema nervoso, ansiedade, stress e outros.
Procedimento
- aquecer o óleo em banho maria até estar confortável ao toque
- espalhar uma pequena quantidade de óleo nas mãos
- com pressão moderada e lentamente:
- massajar do tornozelo aos dedos dos pés
- massajar cada dedo do pé individualmente, da base à cabeça
- massajar o espaço entre os dedos
- massajar as solas dos pés
- massagem pode demorar entre 5 a 15 minutos por pé
- colocar uma meia e deixar o tempo desejado *
*Normalmente em ayurveda não é recomendado deixar o óleo no corpo mas no caso de pāda abhyaṅga, como se usa uma pequena quantidade até pode ser deixado durante o sono.
Pode utilizar simples óleo de sésamo, oléo de amêndoas, azeite, ghee, etc ou um óleo medicado para o efeito.
pāda abhyaṅga deve ser feito de estômago vazio portanto é normalmente recomendado como uma rotina matinal ou uma rotina de sono.
pāda abhyaṅga e de facto quaisquer terapias de oleação devem ser evitados durante gripe, febres, indigestão, doenças de pele.
Já experimentou?
Até já!
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
Foto de Towfiqu barbhuiya. pexels.com
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आयुर्वेद – Os 6 sabores de acordo com o āyurveda – parte 2
A acção de cada um dos sabores é determinada pela sua composição relativa aos 5 elementos (como vimos no artigo passado). Hoje vamos ver brevemente as funções de cada um destes sabores e qual o seu impacto no corpo e mente.
madhura – doce
Tem as qualidades de frescura, peso e humidade/oleosidade.
De uma forma geral o sabor doce promove a força dos tecidos corporais, promove a compleição e a longevidade. Dá prazer e satisfação emocional.
Em excesso causa doenças de kapha e tecido adiposo, obesidade, problemas digestivos, letargia etc. Pode levar ao apego e à possessividade.
Não está só presente no açúcar, mel e etc mas também em substâncias como o arroz , centeio, leite, batata frutas doces, etc
amla – azedo
Tem as qualidades de leveza, calor e humidade.
De uma forma geral o sabor amargo em moderação aumenta o apetite, fogo digestivo. Causa a secreção de fluídos no corpo. Dá vigor à mente e aos sentidos.
Em excesso causa problemas de visão, excesso de sede, acidez, problemas de pele, e outros problemas digestivos. Pode levar à inveja e à raiva.
Está presente nos citrinos de forma geral mas também em iogurte, vinagres e fermentados.
lavaṇa – salgado
Tem as qualidades de peso, calor e humidade.
De uma forma geral o sabor salgado em moderação aumenta o apetite e a digestão, estimula a produção de saliva, limpa os canais. Dá confiança e motivação.
Em excesso causa inflamação, retenção de líquidos e velhice prematura (queda de cabelo, rugas, etc). Pode levar à ganância e excesso de ambição.
Está presente nos sais e consequentemente em produtos salgados.
tikta – amargo
Tem as qualidades de frescura, leveza e secura.
De uma forma geral o sabor amargo em moderação ajuda a secar excesso de muco e tecido adiposo, promove o intelecto, limpa a garganta, dá firmeza à pele. Dá insatisfação.
Em excesso provoca a perda de força e doença de vāta. Pode levar à tristeza, pesar.
Está presente em certas folhas verdes, especiarias como o a curcuma e o feno grego, no café, chá, etc
kaṭu – picante
Tem as qualidades de calor, secura e leveza.
De uma forma geral o sabor picante em moderação promove secreções, ajuda na circulação, apetite e digestão e limpa os canais. Dá extroversão e coragem.
Em excesso provoca perda de libido e força e inflamação, tonturas, e problemas de pele. Pode levar á violência, raiva.
Está presente em especiarias e alimentos picantes como a malagueta, pimentas, gengibre, alho etc
kaṣāya – adstringente
Tem as qualidades de peso, secura e frescura.
De uma forma geral o sabor adstringente em moderação purifica o sangue, reduz excesso de muco, ajuda a formar fezes, ajuda na cicatrização. Dá introversão.
Em excesso provoca secura, obstipação com inchaço abdominal, reduz libido e pode levar à perda de tecido corporal. Pode levar a insegurança e medo
Está presente em leguminosas, banana verde, raiz de lótus, quiabos etc.
Excepções
Existem algumas excepções, ficam aqui alguns exemplos
- arroz com mais de 6 meses, cevada, feijão mungo, mel embora sendo doces tendem a não agravar kapha
- romã e outros frutos silvestres embora azedos não tendem a agravar pitta
- sal dos himalayas tende a ser menos prejudicial à visão
- gengibre seco e alho sendo picantes não tendem a agravar vāta
Esta foi só uma pequena introdução de como o āyurveda analisa os sabores e a importância da sua utilização para manter o equilíbrio do corpo. Por outro lado, mostra também como a alimentação pode ser utilizada para manipular os doshas.
Até já!
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
imagem de Vanessa Loring – pexels.com
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आयुर्वेद – Os 6 sabores de acordo com o āyurveda – parte 1
Um dos factores para uma alimentação equilibrada de acordo com o āyurveda é o uso dos 6 sabores. Sabor, conhecido em sânscrito como rasa, é a sensação interpretada pela língua quando uma substância entra em contacto com ela.
Os 6 sabores são um conceito único de āyurveda que define que, aparte da diferenciação a nível de experiência sensorial, cada um destes sabores tem uma função específica.
Os 6 sabores são:
- svādu ou madhu – doce
- amla – azedo
- lavaṇa – salgado
- tikta – amargo
- uṣṇa ou kaṭu – picante
- kaṣāya – adstringente
Cada um destes sabores deve a sua composição a uma combinação de 2 dos 5 grandes elementos.
- doce – terra e água
- azedo – terra e fogo
- salgado – água e fogo
- amargo – ar e fogo
- picante – ar e espaço
- adstringente – ar e terra
Cada um destes sabores têm um impacto directo nos doṣas. Levando em consideração a ordem apresentada anteriormente, podemos dizer que:
- os 3 primeiros sabores (doce, azedo e salgado) tendem a agravar kapha e a pacificar vāta
- os 3 últimos sabores (amargo, picante e adstringente) tendem a agravar vāta e a pacificar kapha
- adstringente, amargo e doce tendem pacificar pitta e os restantes 3 (azedo, salgado e picante) agravam pitta.
Estes sabores nutrem também o corpo em ordem sucessiva. Assim sendo o sabor doce é o que mais nutre o corpo e o adstringente o que nutre menos.
Apenas com estas informações conseguimos ver a relevância dos sabores não só no contexto de tratamento como também na prevenção de saúde. Em artigos anteriores já falámos das alterações sazonais e o seu impacto nos doṣas e é com base neste conceito de rasa que surgem sugestões para modificações na dieta. Por exemplo, durante a primavera existe um agravamento natural de kapha e por isso a nível de alimentação o uso predominante de sabores doce, azedo e salgado são contra-indicados. Por outro lado, uma pessoa com doenças que tenham origem em pitta deverão ter a recomendação de evitar a predominância dos sabores azedo, salgado e picante.
āyurveda recomenda o uso diário destes 6 sabores mas isto não quer dizer que devemos consumir os sabores nas mesmas proporções pois cada sabor tem a sua função portanto a sua predominância de cada sabor deve ser adaptado de acordo às necessidade do corpo e às alterações sazonais.
Na segunda parte do artigo vamos falar acerca das funções de cada um destes sabores e entender um pouco melhor em que substâncias se encontram pois quando dizemos sabor doce não estamos necessariamente ou directamente a falar de açúcar.
Até já!
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
imagem de Vanessa Loring – pexels.com
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आयुर्वेद – Āyurveda – Especiarias para melhorar a digestão
O processo de digestão começa quando pensamos na comida. Cores, aroma, textura e sabor alteram a nossa experiência de consumo e de assimilação. Desta forma as especiarias melhoram o sabor da comida. São uma parte essencial da “alimentação ayurvédica” e devido às suas qualidades medicinais podem ser usadas para equilibrar os doṣas, aumentar a digestão, absorção de nutrientes, circulação, etc.
Sendo a digestão um elemento central em questões de saúde e doença ficam aqui algumas especiarias que devem fazer parte de qualquer cozinha pois tem o potencial de ajudar na digestão ao mesmo tempo que ajudam a trazer sabor à comida.
CARDAMOMO
É considerado um excelente digestivo, especialmente benéfico na redução do inchaço e gases intestinais.
É excelente para equilibrar kapha, principalmente no estômago e nos pulmões. Também é útil para pacificar vāta. As sementes são frequentemente mastigadas para refrescar o hálito.
CANELA
É frequentemente usado em preparações de ervas ayurvédicas para aumentar a bio disponibilidade de outras ervas.
É excelente para pacificar Kapha e bom para equilibrar vāta também. Tende a aumentar pitta.
No Āyurveda, a canela é usada para equilibrar a digestão e pacificar distúrbios estomacais. Combinado com outras ervas e especiarias quentes, como gengibre e pimenta preta, pode ser fervido em um chá de ervas para aliviar o desconforto associado a constipações.
CRAVINHO
Considera-se que o cravinho melhora a circulação, a digestão e o metabolismo e ajuda a combater distúrbios estomacais, como gases, inchaço e náusea. Muito usado em ingrediente em produtos de higiene bucal para promover a saúde dos dentes e refrescar o hálito.
O cravo tem sabores picantes e amargos. O cravo ajuda a pacificar vāta e kapha e aumenta pitta.
SEMENTES DE COENTRO
é uma especiaria tridoṣa muito apreciada na Āyurveda. É um tempero refrescante e tem sabores doces e adstringentes. Os textos Āyurvédicos sugerem que é bom para a digestão, abre o apetite, ajuda a combater alergias e também ajuda a purificar o sangue.
COMINHO
especiaria aromática ligeiramente aromática e picante, ajuda na digestão e na secreção de sucos digestivos. Ajuda a eliminar as toxinas do corpo. Melhora o intelecto, alivia kapha, acção antioxidante.
GENGIBRE EM PÓ
é um tempero quente, de sabor picante. Ajuda a pacificar vāta e kapha e aumenta pitta. Está incluído em muitas formulações ayurvédicas devido às suas propriedades curativas. É útil para ajudar na digestão, aumentar o apetite, pacificar distúrbios estomacais e manter a saúde das articulações e do sistema respiratório.
PIMENTA PRETA
É considerado um importante tempero. É um ingrediente essencial em muitas formulações ayurvédicas. Possui propriedades de limpeza e antioxidante e ajuda a transportar os benefícios de outras ervas para diferentes partes do corpo.
É excelente para pacificar kapha e vāta e aumenta pitta. Ajuda a melhorar a digestão e a circulação de nutrientes, estimula o apetite e ajuda a manter a saúde do sistema respiratório e das articulações.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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आयुर्वेद – Āyurveda – Detox: Sim ou Não? – Parte 2
Hoje vamos falar de pañcakarma, os 5 procedimentos.
pañcakarma é um processo de purificação que tem como objectivo eliminar os doṣas em excesso do corpo e restabelecer o equilíbrio.
Tradicionalmente estes são os 5 procedimentos
- virecana – purgação terapêutica
- vamana – vómito terapêutico
- vasti / basti – “enema” terapêutico
- raktamokṣaṇa – venecção
- nasya – instilação nasal
Cada uma destas terapias, devido à sua área de acção é considerada a melhor para cada um dos doṣas:
- nasya e vamama na zona do corpo associada a kapha
- virecana na zona do corpo associada a pitta
- basti na zona do corpo associada a vāta
Como referido anteriormente o objectivo de pañcakarma é eliminar os doṣas em excesso do corpo, vamos então ver, de acordo com os textos clássicos, quais poderão ser esses indicadores.
Entre outros, estes são alguns exemplos de sinais de doṣas agravados:
Indigestão, perda de peso excessiva, excesso de peso, anemia, sensação de peso, exaustão, fraqueza, mau cheiro do corpo, falta de energia, insónia ou sonolência excessiva, impotência, perda de força e tez apesar de uma dieta nutritiva.
Tendo em consideração alguns dos exemplos listados podemos facilmente pensar que todos nós de uma forma ou de outra estamos a precisar de pañcakarma mas na verdade estes procedimentos só deveriam acontecer se os doṣas estiverem muito agravados.
Embora pañcakarma seja, muitas vezes, promovida como experiência de spa, com pacotes na Índia de 4, 15, 20 dias, não é de facto, uma experiência muito prazerosa.
Quando é bem feito, precisa de 3 etapas
- uma etapa de preparação que normalmente passa por beber ghee/manteiga clarificada durante vários dias até chegar ao ponto de saturação e fazer várias terapias físicas de oleação e sudação.
- uma etapa onde se aplicam os procedimentos de pañcakarma necessários que podem e normalmente deixam a pessoa fraca e com a digestão prejudicada
- uma etapa pós tratamento que visa e trazer ao corpo força e vitalidade, e este é considerado o passo mais importante com reintrodução alimentar, rotinas diárias e formulações medicinais direccionadas ao rejuvenescimento.
Se o processo de pañcakarma for bem sucedido na remoção dos doṣas em excesso do corpo e o restabelecimento do poder digestivo as doenças devem pacificar, a saúde da pessoa deve ser estabelecida, deve haver melhora a nível dos órgãos dos sentidos, da mente, intelecto e compleição, a pessoa deve sentir-se rejuvenescida. Da mesma forma, se o processo for feito de forma inadequada ou de forma excessiva claro, terá os resultados opostos aos benefícios.
Então existem então algumas considerações a fazer.
O āyurveda é de facto a favor da purificação do corpo. Esta purificação pode ser feita de forma mais solta com algum controle de alimentação, exercício físico e uso de substâncias que ajudem nesse processo (como referido no artigo anterior) ou, como vimos hoje por um processo de pañcakarma que embora apresente benefícios maravilhosos, é normalmente caro, longo e não muito agradável de se fazer.
E apesar destas terapias de purificação serem recomendadas regularmente nos textos ayuvédicos como parte de uma rotina sazonal, se olharmos para o nosso contexto actual, existe uma grande diferença na maneira como vivemos e no que consumimos em termos de alimentos e percepções. A questão aqui é, se realmente não houver uma alteração nas coisas que fazemos diariamente será pañcakarma a solução a longo termo?
Na última década, passei muitos meses no vaidyagrama, um hospital tradicional de ayurveda no sul da Índia e testemunhei resultados maravilhosos com pancakarma. Ao investigar o histórico destas pessoas, em muitos casos, a sua condição poderia, quase com toda a certeza, ter sido evitada por uma alimentação e estilo de vida mais conscientes.
A prevenção é sempre a melhor cura.
Ricardo Barreto
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आयुर्वेद – Āyurveda – Detox: Sim ou Não? – Parte 1
Será o detox nos dias de hoje mais importante do que nunca? Será o detox nos dias de hoje mais importante do que nunca? O que o āyurveda diz sobre “detox”?
O conceito de detox está longe de ser novo, inúmeras culturas e religiões reconhecem o conceito de limpeza não só a nível do corpo mas também a nível mental e espiritual mas a verdade é que, hoje em dia, a palavra detox está em praticamente em qualquer círculo envolvido em serviços ou produtos de saúde e bem estar.
Certamente nunca terá havido algum período na história em que estivéssemos mais expostos a poluição e a toxinas ambientais, no ar, na água, no solo (plásticos, pesticidas, cosméticos e produtos de limpeza). E como isso não fosse já por si problemático junta-se à lista uma quantidade alarmante de comidas ultra processadas e um estilo de vida sedentário. No nosso dia a dia, consciente ou inconscientemente, estamos expostos a estas substâncias “tóxicas” mas nem sempre o corpo sabe o que fazer com elas. Algumas destas toxinas são expelidas juntamente com as excretas e outras acumulam nos tecidos do corpo onde, temporariamente causam menos mal.
O nosso corpo está programado para fazer detox: o nosso fígado, rins, pulmões, sistema digestivo e pele estão constantemente a desintoxicar-nos. O grande problema acontece quando nós sobrecarregamos estes órgãos ou sistemas do corpo e prejudicamos a sua capacidade de se auto desintoxicar. Então na verdade, nós não conseguimos fazer detox, nós simplesmente podemos facilitar o processo ao não nos expormos a “toxinas” ou a suportar estes órgãos a fazerem o seu trabalho com mais eficácia.
No āyurveda o foco são os doṣas, os tecidos do corpo, os excretos (principalmente fezes, urina e suor) e o importante fogo digestivo. doṣas em desequilíbrio afectam e prejudicam a digestão que por sua vez prejudica os tecidos corporais e os canais de excreção. Desta forma o fogo digestivo, o sistema digestivo e tracto gastro intestinal tem um papel fundamental nos processos de purificação do corpo.
Quando a comida não é digerida apropriadamente torna-se numa “toxina” chamada āma. A palavra āma pode ser traduzida como cru, não digerido, verde (contrário de maduro) e, como o nome indica, é que algo que não foi digerido apropriadamente pelo corpo. Se este āma não for eliminado pode movimentar-se pelo corpo, alojar-se nos tecidos e causar diversas doenças. Os sintomas de āma podem ir de fatiga, falta de energia, passando por diversos problemas digestivos (indigestão, prisão de ventre, diarreia, etc), problemas de circulação, dor e inflamação nas articulações até problemas mais graves como a aterosclerose, por exemplo. Este āma não deve então, de forma alguma permanecer no corpo.
Um “detox” ayurvédico passaria primeiramente por digerir este āma.
- Se for em pouca quantidade e se não estiver associado aos doṣas ou aos tecidos, o processo de digestão de āma pode passar por jejum na dieta, exercício físico, etc.
- Se for em mais quantidade, a estas medidas adicionaria-se o uso de substâncias que ajudem a cozinhar o āma como por exemplo gengibre, pimenta preta, canela etc,
- Se for em grande quantidade, outros procedimentos de pañcakarma (tópico do próximo artigo) seriam utilizados.
Uma vez que o āma esteja cozinhado, os canais desobstruídos, os doṣas pacificados, o fogo digestivo equilibrado os diferentes sistemas do corpo funcionam de forma apropriada e o “detox” acontece naturalmente.
Um modelo para um simples “detox” ayurvédico apropriado para pessoas saudáveis ou que, de forma geral não têm grandes problemas de saúde poderia passaria por:
- favorecer comida vegetariana, leve, cozinhada e de fácil digestão
- evitar ou mesmo eliminar lacticínios, fritos, alimentos crus, comidas ultra-processadas, etc
- preferir canjas e sopas leves, fruta cozida
- consumir água morna, chá de gengibre, cominhos, etc
- exercícios gentis sem muito esforço como yoga, caminhadas
- descanso adequado, número de horas necessário, deitar cedo e cedo erguer
- diferentes terapias de oleação e de suor
Uma semana com esta rotina deverá ajudar o corpo a “desintoxicar” mas como sempre, a prevenção continua a ser o melhor remédio. Se não nos intoxicarmos com alimentos ou produtos alimentares insalubres, um dia jejum semanal ou quinzenal e actividade física regular são suficientes para manter o corpo limpo.
Este artigo é simplesmente informativo e não substitui parecer profissional personalizado.
No próximo artigo vamos falar mais detalhadamente acerca de pañcakarma, os processos que o āyurveda recomenda quando doṣas e āma estão em grande quantidade e faremos a nossa conclusão final.
Até já!
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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आयुर्वेद -Āyurveda – O Mundo Moderno
Āyurveda tem vindo a ganhar popularidade nas últimas décadas. Cada vez mais pessoas procuram abordagens naturais e holísticas para a saúde pois e apesar das suas raízes milenares, o āyurveda parece estar a tornar-se cada vez mais relevante no mundo moderno ao oferecer perspectivas únicas sobre saúde e bem-estar.
Um dos princípios fundamentais do āyurveda é o princípio dos opostos. Este princípio define que o excesso de certas qualidades deve ser equilibrado com os seus opostos. Isto pode parecer básico pois é o que fazemos naturalmente por exemplo, com o uso de diferentes guarda roupas consoante o calor do verão e o frio do inverno. Mas vamos expandir um pouco mais este conceito.
Ao olhar para o mundo moderno podemos constatar que este é rápido, irregular e instável. Ainda que existiram problemas em qualquer momento da existência humana, não será errado assumir que nunca houve uma altura em que mudanças se dessem tão rápido. Mudanças rápidas criam mais irregularidades e aumentam a instabilidade não só no mundo exterior como no mundo interior. Aplicando o princípio dos opostos, o remédio para algumas aflições do mundo moderno seriam calma, regularidade e estabilidade.
āyurveda reconhece que para saúde e bem estar verdadeiros tem de haver equilíbrio a conexão entre o corpo, a mente, e o Eu. O corpo humano efectivamente não precisa de instruções. A nossa anatomia e fisiologia foi muito bem estruturada para dar sinais claros de quando precisa de manutenção, quando precisa de energia a fome chega, quando precisa de eliminar sentimos necessidades fisiológicas, quando sente frio treme, e por aí adiante. De uma forma simplista o corpo apenas requer que seja nutrido e usado adequadamente. A mente é mais complexa mas, de acordo com as ciências védicas, a sua natureza é sattva. A mente está equilibrada quando não está influenciada negativamente pela energia de rajas ou inércia de tamas. Uma mente equilibrada é uma mente presente e pacífica, capaz de navegar as manipulações dos gostos e das aversões. Finalmente, de acordo com o āyurveda, o Eu é eterno e não sofre qualquer tipo de aflições.
Quando um carro está a ir rápido demais, de forma irregular e instável a coisa mais segura a fazer é mesmo parar.
Da mesma forma, devíamos aprender a baixar o nosso ritmo excessivo nem que seja uns minutos por dia. Parar… respirar fundo… deixar a mente acalmar e de forma consciente voltar aos nossos afazeres. Quer queiramos quer não, o corpo gosta de rotinas. O corpo nutre-se ou desnutre-se dependendo da qualidade dos hábitos que criamos para eles. Portanto, ter uma rotina regular de saúde favorável ao desempenho do corpo é uma forma de criar regularidade e estabilidade.
Com os desenvolvimentos tecnológicos e com a maneira como a tecnologia infiltrou quase todas as áreas das nossas vidas, acabamos por viver uma desconexão nunca vista em relação ao mundo natural. No contexto virtual, a tecnologia permite conectar mais pessoas do que nunca, mas será que estamos realmente mais conectados ao mundo real? Aos poucos fomos trocando tempo ao ar livre na natureza por entretenimento na TV, actividades lúdicas por consolas e telemóveis. Chegamos ao ponto de vermos famílias sentadas na mesma mesa e cada elemento a olhar para um aparelho que aos poucos se tornou a sua conexão com a realidade.
Qualquer solução para os problemas do mundo moderno não passa necessariamente por mudar o que é, mas sim como aprender a lidar com tudo o que se encontra à nossa volta de forma mais saudável. Perceber as qualidades a que estamos expostos e nos causam desequilíbrios, usar princípios apropriados para nos equilibrarmos. Coisas simples como parar para respirar fundo, ter rotinas saudáveis, passar mais tempo na natureza e reavivar contacto humano são exemplos de como o āyurveda e outras ciências milenares terão sempre muito a oferecer pois os princípios sobre quais foram desenvolvidas não mudam.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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आयुर्वेद – Āyurveda – A mente e o Ayurveda. Parte 2
No último artigo falámos de algumas considerações acerca da mente de acordo com o āyurveda, hoje seguimos com perspectivas acerca de saúde mental e possíveis tratamentos.
Saúde mental
Embora não existam textos clássicos específicos sobre saúde mental, baseado nas informações espalhadas neles, podemos dizer que as doenças da mente são caracterizadas por:
- diminuição das funções gerais da mente (controle dos órgãos dos sentidos, autocontrole, hipótese e consideração)
- diminuição do discernimento, memória, etc
- falta de força de vontade
- viciação de rajas e tamas
- possível envolvimento de elementos fisiológicos
Alguns factores gerais que podem comprometer a saúde mental
- contacto insalubre com o tempo, intelecto e sentidos (3 factores referidos noutro artigo)
- não seguir uma boa conduta de valores pessoais, sociais, éticos, espirituais, etc
- supressão inadequada de impulsos mentais, verbais e físicos.
- por exemplo, medo, vaidade, mentiras, insultos, etc devem ser suprimidos
- impulsos naturais como urina, fezes, fome e sono, etc não devem ser suprimidos
- karma de vidas passadas
- a natureza ou constituição do indivíduo
- concretização de desejos ou aversões
Sendo āyurveda um sistema holístico é por vezes, muito difícil fazer uma distinção clara ou separação do funcionamento do corpo e da mente visto estarem sempre interligados. Mas, de acordo com o āyurveda, distúrbios emocionais como inveja, depressão, ansiedade, raiva são causados por rajas e tamas desregulados. Outras patologias mais complexas têm também um envolvimento com vāta, pitta e kapha.
Tratamento
Existem três grandes correntes de tratamento
- daivavyapāśraya (terapia espiritual) – inclui mantras, oferendas, rituais, peregrinações, etc
- yuktivyapāśraya – regime de alimentação e estilo de vida, medicação, tratamentos
- sattvāvajaya – controle da mente ou afastamento da mente de objectos insalubres
Todas estas correntes terapêuticas podem e são normalmente utilizadas em qualquer doença, mas no contexto específico da mente gostaria de explorar um pouco sattvāvajaya. A palavra sattvāvajaya é composta por sattva, que neste caso quer dizer mente e avajaya que pode ser traduzida como conquista, vitória, etc. Então sattvāvajaya quer dizer: conquista ou vitória sobre a mente.
A verdade é que esta palavra aparece uma única vez nos textos clássicos e é simplesmente explicada como: “a remoção da mente de objectos prejudiciais”. Mas se olharmos para o resto dos textos, normalmente terapias para a mente assentam no autoconhecimento, conhecimento em geral, aumento do discernimento, coragem, memória e do poder de concentração.
Então na verdade, uma intervenção ayurvédica no contexto de saúde mental, passa sempre por uma reavaliação de nutrição e estilo de vida, um possível reforço fitoterápico com formulações que suportem as funções mentais e também algumas técnicas de suporte que passam por uma espécie de “psicoterapia” que pode inclui trabalho emocional, regulação dos processos mentais, reformulação de ideias, orientar objectivos, auto controlo, auto conhecimento, reavaliação da realidade, etc.
Embora não esteja implícito nos textos em si, podemos apreciar a importância que uma vida e prática de yoga, o estudo de vedanta, meditação, e variadas terapias têm nestes processos. De uma perspectiva āyurvedica estes não só são úteis para a prevenção, mas também como um suporte fundamental no tratamento de doenças da mente.
Existem certas teorias ou opiniões de que o facto de os textos clássicos não se debruçarem muito sobre doenças da mente corpo em comparação a doenças do corpo.
Uma das teorias diz que possivelmente haveriam pessoas especializadas nesta terapia de sattvāvajaya por isso não havia necessidade de muita explicação.
Outra seria devido ao facto de que, devido a um estilo de vida mais simples e mais alinhado com a natureza e de forma geral menos stressado, havia menos recorrências de problemas relacionados com a mente.
Fica aqui uma contemplação para o novo ano!
Ricardo Barreto
Terapeuta de āyurveda
www.instagram.com/wayofāyurveda_pt
+351 925380997
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आयुर्वेद – Āyurveda- A mente e o Ayurveda. Parte 1
“Embora todos nós tenhamos mentes e as usemos constantemente, não sabemos o que realmente é nossa mente. Estamos tão envolvidos nas atividades da mente que não paramos para descobrir o que a própria mente realmente é. Sem conhecer a natureza da mente e suas funções, como podemos realmente abordá-la? O problema é que, para conhecer a mente, devemos primeiro conhecer a nós mesmos. Devemos entender quem realmente somos.”
David Frawley
O objecto de estudo do āyurveda é a vida humana. Dentro deste conceito de vida existem 4 aspectos que são levados em consideração, o corpo físico, os sentidos, a mente e ātma.
Então já que não é possível falar em saúde plena sem falar de saúde mental, hoje vamos explorar um pouco as perspectivas ayuvédicas sobre mente.
A mente, é chamada antaḥkaraṇa, ou a “consciência interior”. Toda a criação se baseia e se manifesta através da mente e esta é responsável pela nossa percepção do mundo externo. A mente pode ser vista então como a causa do conhecimento.
De acordo com os textos clássicos do āyurveda, aquilo que é responsável pelo acto de contemplar e pensar é conhecido como manasa ou mente.
A mente apresenta as seguintes características:
É singular
A qualquer momento a mente pode ser associada a um único orgão do sentido e recebe informação desse orgão. Porque é tremendamente rápida pode parecer que se consegue associar a mais do que um sentido ao mesmo tempo mas na verdade só no conseguimos focar numa percepção de cada vez
É subtil
É considerada uma partícula subtil na natureza. Pode assumir qualquer forma ou tamanho. Conseguimos pensar num átomo ou num planeta e a mente consegue viajar e permear ambos.
É activa mas sem consciência própria
A mente executa as suas funções mas não actua por si própria, ela é inspirada pelo ātma
Está além de percepções sensoriais
É a causa do conhecimento externo e percepções internas, consegue perceber os objectos dos sentidos e controla todos os sentidos do corpo.
É responsável pelas acções dos orgão dos sentidos
Os órgãos dos sentidos só são capazes de perceber objetos quando estes estão associados à mente.
É tridimensional
Tem 3 qualidades, sattva, rajas e tamas
É dito que manasa tem seis “objectos
– pensamento – acerca do que pode ou não ser feito
– análise ou consideração
– raciocínio ou especulação
– concentração ou meditação
– determinação ou intenção definitiva
– tudo o resto que pode ser conhecido por manasa – por exemploprazer ou dor
Algumas funções de manasa
– controle dos sentidos
– auto controle
– criar hipóteses
– ponderar
Desta forma āyurveda considera que uma pessoa é mentalmente saudável se
– tem o seu intelecto, resiliência e memória intactos
– consegue discriminar entre o certo e o errado, o saudável e o insalubre
– tem controle apropriado sobre si mesmo e os seus sentidos
– tem o poder dos 6 objectos (referidos acima)
No próximo artigo vamos explorar de uma maneira mais prática, um pouco sobre saúde mental de acordo com o āyurveda
Ricardo Barreto
Terapeuta de āyurveda
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आयुर्वेद – Āyurveda- Estilo de Vida Saudável
Excepto em casos de maior gravidade, os maiores desafios relacionados com a nossa saúde e bem estar estão ligados às coisas que fazemos (ou não fazemos) diariamente. São estas acções que determinam como nos vamos sentir a curto, médio e longo prazo. Normalmente são coisas relativamente simples como dormir o suficiente, como nos alimentamos, como usamos o nosso corpo, quanta estimulação damos à nossa mente, etc.
Hoje em dia somos bombardeados com mil e uma alternativas para atingir o bem estar pleno. Há sugestões para todos os gostos e feitios: do crudivorismo à dieta cetogénica, do crossfit ao tai chi, sono polifásico ao sono de 8 horas, das meditações dinâmicas ao yoga nidrā. E claro, todas as possibilidades entre estas hipóteses mencionadas e podemos adicionar também os extremismos…. é muita coisa.
O āyurveda menciona 3 pilares de tratamento. āhāra (alimentação), vihāra (estilo de vida) e oṣadhi (medicamento)
Em artigos passados já falámos de alimentação (1,2), falaremos de medicamentos no futuro, então hoje gostava de falar brevemente acerca de Estilo de Vida.
Normalmente associamos alimentação e estilo de vida a intervenções fundamentalmente ligadas à prevenção mas na verdade, o primeiro passo num tratamento em āyurveda passa por remover a causa da doença.
Por exemplo, se eu tenho refluxo por excesso de consumo de álcool, parar ou reduzir o consumo eliminará o refluxo. Se eu tenho insónias porque bebo café, parar de beber café dar-me-á um sono descansado. A lógica é simples mas criámos uma mentalidade que nos dá a liberdade para continuar a fazer o que queremos sem grandes repercussões a curto prazo, onde solução prática e imediata passa por tomar um antiácido e continuar o consumo excessivo de álcool e um comprimido para dormir para continuar com o consumo de cafeína. E não uma questão de demonizar o álcool ou o café mas se o corpo dá sinais de incompatibilidade eventualmente a médio e longo prazo complicações irão surgir.
A verdade é que, em muitos casos, se os desequilíbrios não forem crónicos ou bem enraizados, alterações na alimentação e estilo de vida são suficientes para reverter a situação.
Quando falamos de estilo de vida estamos a falar das actividades que suportam o bem estar e o equilíbrio.
Neste campo, as recomendações normalmente assentam em:
- exercício físico
- sono e descanso
- rotinas diárias, rotinas sazonais
- saúde mental e emocional
- autoconhecimento
Em āyurveda dá-se extrema importância à individualidade portanto estas recomendações devem ser adaptadas de forma individual mas gostaria de deixar aqui alguns pontos básicos que podem servir, de forma geral, como um guia diário.
- deitar cedo e cedo erguer
- actividade contemplativa
- actividade física (idealmente até suar)
- seguir recomendações de alimentação (1,2)
- não suprimir nem forçar os impulsos naturais (fezes, gases, urina, sono, etc)
- não usar demasiado os sentidos (demasiada exposição a aparelhos electrónicos, música, etc)
- parar actividades físicas, verbais e mentais antes de chegar ao ponto de exaustão
- praticar compaixão com todos os seres vivos
- ter discriminação acerca do potencial resultado das acções e agir de acordo
Agora restam as perguntas: Como se quer sentir amanhã? Que passos poderia começar a dar hoje para garantir que isso aconteça?
Ricardo Barreto
Terapeuta de āyurveda
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आयुर्वेद- Āyurveda -Rotinas simples para um Outono Saudável
Quando falamos de estações temos sempre de nos relembrar que o mais importante é compreender as qualidades dos doṣas.
Tradicionalmente na India, o Outono tende a ser uma estação quente que que sucede a estação chuvosa, esta sucessão de qualidades tende a agravar o pitta doṣa. No entanto em Portugal, o Outono é geralmente associado a um tempo mais fresco, seco e ventoso que são qualidades que tendem a aumentar vāta doṣa.
Assim sendo as rotinas de Outono devem levar em consideração um possível aumento de vāta. Ficam aqui algumas sugestões.
Alimentação
- comidas quentes e nutritivas
- por exemplo, se toma pequeno almoço uma das sugestões seria papas de aveia com frutas cozidas com especiarias como a canela, cardamomo, etc
- esta é uma altura perfeita para começar a re-introduzir sopas quentes na sua dieta.
- batata doce, todas as variedades de abóbora, beterraba, vegetais cozidos ao vapor etc
- chás
- gengibre, cardamomo, etc
- este ajudam a melhorar a digestão e ajudam a manter o corpo quente
- gengibre, cardamomo, etc
Estilo de Vida
- deitar cedo e cedo erguer
- sono apropriado é fundamental para saúde a geral mas é um hábito ainda mais importante para manter nesta altura em que o vāta tende a desequilibrar
- rotina de yoga, meditação, pranayama
- rotinas menos vigorosas e de enraizamento
- proteção dos elementos
- manter o corpo protegido do excesso de vento e frio
- aplicação de óleo
- esta é a altura em que a pele tem tendência a secar por causa da tendência do aumento de vāta
A Evitar
- comida demasiado seca
- jejum prolongado
- bebidas frias ou geladas
- noitadas
- excesso de actividade física
Na prática sabemos que a mudança de estações não acontece com a passagem de uma data no calendário mas sim nas mudanças do ambiente à nossa volta. É importante observar e ir sentindo como as alterações climatéricas vão influenciando o funcionamento do nosso corpo e ir fazendo os ajustes necessários para evitar o desequilíbrio dos doṣas.
Não posso deixar de relembrar que estas sugestões são recomendadas para pessoas saudáveis.
Desejos de um Outono Saudável
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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- comidas quentes e nutritivas