आयुर्वेद ,Vāta: O Princípio do Movimento
Normalmente no sânscrito, há algo no nome que revela tudo. O termo “vāta” deriva da raiz “va gati gandhanayoh krit“. Gati significa mover, originar, conduzir, através de um meio ou efetuar movimento. Gandhana significa entusiasmar, iluminar, promover o esforço contínuo, etc.
Existem muitos sinónimos de vāta: marūta, anila, samīraṇa, pavana ,todos de certa forma evocam vento, ar, o que circula sem parar. E esta qualidade de movimento constante, calatva, é o que define vāta em tudo. Nunca está parado. O movimento é a sua natureza fundamental.
vāta emerge da combinação de dois elementos ,vāyu (ar) e ākāśa (espaço/éter). O ar necessita de espaço para se mover, e o espaço ganha vida através do movimento do ar. Esta combinação cria algo seco (rūkṣa), leve (laghu), frio (śīta), áspero (khara), subtil (sūkṣma) e móvel (cala).
Onde mora o vāta?
Os textos dizem que vāta habita principalmente o cólon (pakvāśaya), mas também as ancas (kaṭī), as coxas (sakthi), as orelhas (śrotra), os ossos (asthi) e o sentido do tato (sparśanendriya). E de entre todos estes lugares, o cólon é especial, pakvādhānaṃ viśeṣataḥ, porque é aí que vāta se acumula primeiro quando está em desequilíbrio.
Pense nisto: obstipação, gases, inchaço são tudo sinais de vāta bloqueado no cólon. E quando o vāta não flui bem ali, começa a afetar tudo o resto.
O vāta equilibrado
Quando o vāta funciona bem, traz entusiasmo (utsāha), respiração adequada, tanto a inspiração (ucchvāsa) como a expiração (niśvāsa), todos os movimentos corporais (ceṣṭā), a iniciação dos impulsos naturais (vegapravartana), o transporte correcto dos tecidos (dhātūnāṃ samyaggatyā) e a eficácia dos sentidos (akṣāṇāṃ pāṭava).
O vāta em harmonia: energia, respiração profunda, movimentos fluidos, a vontade de agir no momento certo, digestão que move os nutrientes para onde precisam de ir, sentidos apurados que captam o mundo como ele é.
Os cinco subtipos Vāta
Mas vāta não é apenas uma coisa. Divide-se em cinco formas, cinco vāyus que governam diferentes regiões e funções do corpo. Compreender estes cinco elementos ajuda a compreender como o movimento flui por todas as camadas da nossa existência.
Prāṇa Vāyu
Localizado na cabeça (mūrdha), move-se pelo peito e garganta (uraḥkaṇṭha). Mantém vivos o intelecto (buddhi), o coração (hṛdaya), os sentidos (indriya) e a consciência (citta). Governa a deglutição, o espirro, o arroto, a respiração e a entrada de alimentos. Prāṇa é a porta de entrada. O que traz oxigénio, alimento, informação sensorial, vida. Quando prāṇa está comprometido, a respiração torna-se curta, a mente confusa, os sentidos pesados.
Udāna Vāyu
Situado no peito (uraḥ sthāna), move-se pelo nariz, umbigo e garganta (nāsānābhigalāṃ). Governa a fala (vākpravṛtti), o esforço (prayatna), a energia (ūrja), a força (bala), a cor da pele (varṇa), a memória (smṛti) e todas as atividades (kriyā).
udāna é o que nos faz levantar de manhã. O que dá força à voz. O que traz cor às suas bochechas. A memória que surge quando se precisa dela. A energia que impulsiona para a ação.
Vyāna Vāyu
Situado no coração (hṛdi sthitaḥ), vyāna move-se por todo o corpo (kṛtsnadehacārī) com grande velocidade (mahājavaḥ). Controla a marcha, os movimentos dos membros, a abertura e o fecho dos olhos (nimeṣonmeṣaṇa) ,praticamente todas as atividades corporais (prāyaḥ sarvāḥ kriyāḥ) dependem dele. vyāna é circulação. O sangue flui, os membros movem-se, a coordenação entre todas as partes. Quando Vyāna está desequilibrado, surgem problemas circulatórios, movimentos descoordenados, tremores e rigidez.
Samāna Vāyu
Junto ao fogo digestivo (agnisamīpasthaḥ), samāna move-se por todo o abdómen (koṣṭho carati sarvataḥ). Recebe o alimento (annaṃ gṛhṇāti), digere-o (pacati), separa o que é útil do que não é (vivecayati) e elimina (muñcati).
Samāna é equilíbrio. O que equilibra a digestão. O que separa a nutrição da toxina. Quando o Samāna funciona, a digestão é suave, a absorção completa e a eliminação regular. Quando falha, há indigestão, má absorção e acumulação de ama.
Apāna Vāyu
Na região pélvica (apānagaḥ), move-se pela bacia, bexiga, órgãos reprodutores e coxas (śroṇibastimeḍhrorugocara), apāna rege a expulsão de sémen, sangue menstrual, fezes, urina e feto (śukrārtavaśakṛnmūtragarbhaniṣkramaṇa).
Apāna é eliminação. Movimento descendente. Quando apāna está equilibrado, a eliminação ocorre naturalmente: menstruação regular, evacuações sem esforço, micção fácil, parto no momento certo. Quando bloqueado, surge obstipação, problemas menstruais, retenção urinária e dificuldades no parto.
Compreender para Equilibrar
Conhecer estes cinco vāyus é como ter um mapa prático. Quando se compreende que a falta de ar é prāṇa, que a fadiga é udāna, que a má circulação é vyāna, que a indigestão é samāna, que a obstipação é apāna ,temos informações mais detalhadas acerca de vāta dosha.
Mas, todos eles na sua essência, são expressões da mesma força: movimento. vāta, em todas as suas formas, é o princípio que faz com que a vida aconteça. Sem ele, tudo pára.
Em excesso ou desregulado, tudo se torna caótico. Em equilíbrio, Vāta é o maestro da orquestra, e faz com que cada parte do corpo toque no momento certo, com a intensidade certa. vāta é o que nos mantém em movimento a cada instante.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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