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ज्योतिष – JYOTIṢA
A importância da tradição no estudo do Jyotiṣa
Estudar Jyotiṣa é muito mais do que aprender astrologia.
É aprender a ver o tempo, o karma, o dharma, e o mistério que vive por detrás de todas as
formas. É um caminho de autoconhecimento e reverência.
O Professor é uma figura essencial no caminho do estudo do jyotiṣa e de todas as disciplinas
védicas. Na tradição védica, o conhecimento é uma transmissão viva (paramparā).
O professor é aquele que guarda o fio da continuidade, que recebeu a luz e a transmite de
forma ininterrupta, com humildade e devoção.
No Jyotiṣa, o professor não ensina apenas fórmulas ou combinações planetárias — ele mostra
como olhar. Ele ensina o estudante a ver o mapa não como destino fixo, mas como espelho da
consciência. Sob a orientação de um professor, o estudo deixa de ser uma busca mental e
torna-se uma jornada interior.
Sem essa presença, o Jyotiṣa corre o risco de se tornar técnico, fragmentado e mecânico.
O estudo com um professor é o primeiro passo, o qual é apoiado pelos textos-fonte que são as
raízes deste conhecimento.
Obras como o Bṛhat Parāśara Horā Śāstra, Phaladīpikā, Saravali, Bṛhat Jātaka, Jātaka Parijata e
Jaimini Sutra são alguns dos tratados antigos e são verdadeiros mapas do universo interior.
Cada verso é uma fonte de sabedoria e a sua linguagem é simbólica, precisa e luminosa. Ler
estes textos com reverência é um exercício de humildade.
Mesmo que o entendimento pareça parcial, é o contato com a fonte que transforma o
estudante.
Porque o Jyotiṣa, na sua essência, é menos sobre “aprender” e mais sobre lembrar a luz que
está presente em nós.
O Jyotiṣa não caminha sozinho. Juntos, Jyotiṣa, Vedānta, Sânscrito e Āyurveda formam um
caminho completo.
O Vedānta dá o eixo espiritual do Jyotiṣa. Ele ensina que o Ser que observa o mapa é o mesmo
Ser que faz mover os planetas. O Vedānta lembra-nos que o verdadeiro propósito do Jyotiṣa é
libertar.
O Sânscrito faz com que cada palavra de cada texto sagrado ganhe um outro significado, mais
profundo e mais próximo da fonte.O Āyurveda ensina como harmonizar os movimentos dos astros na vida concreta através da
alimentação, do ritmo, da respiração e da escuta do corpo.
O conhecimento é uno e toda a busca é, no fundo, o anseio de retornar à unidade.Muito grata aos meus professores e a toda a tradição pelos ensinamentos, pelo exemplo, por
serem farol neste caminho da vida tão sublime, mas por vezes tão sinuoso.
Ter um professor e uma tradição que nos apoiam, é a bênção que necessitamos para que a
vida seja mais leve, luminosa e carregada de significado. É o que nos devolve à origem de nós
mesmos.Hari Om
Maria João Coelho -
आयुर्वेद ,Vāta: O Princípio do Movimento
Normalmente no sânscrito, há algo no nome que revela tudo. O termo “vāta” deriva da raiz “va gati gandhanayoh krit“. Gati significa mover, originar, conduzir, através de um meio ou efetuar movimento. Gandhana significa entusiasmar, iluminar, promover o esforço contínuo, etc.
Existem muitos sinónimos de vāta: marūta, anila, samīraṇa, pavana ,todos de certa forma evocam vento, ar, o que circula sem parar. E esta qualidade de movimento constante, calatva, é o que define vāta em tudo. Nunca está parado. O movimento é a sua natureza fundamental.
vāta emerge da combinação de dois elementos ,vāyu (ar) e ākāśa (espaço/éter). O ar necessita de espaço para se mover, e o espaço ganha vida através do movimento do ar. Esta combinação cria algo seco (rūkṣa), leve (laghu), frio (śīta), áspero (khara), subtil (sūkṣma) e móvel (cala).
Onde mora o vāta?
Os textos dizem que vāta habita principalmente o cólon (pakvāśaya), mas também as ancas (kaṭī), as coxas (sakthi), as orelhas (śrotra), os ossos (asthi) e o sentido do tato (sparśanendriya). E de entre todos estes lugares, o cólon é especial, pakvādhānaṃ viśeṣataḥ, porque é aí que vāta se acumula primeiro quando está em desequilíbrio.
Pense nisto: obstipação, gases, inchaço são tudo sinais de vāta bloqueado no cólon. E quando o vāta não flui bem ali, começa a afetar tudo o resto.
O vāta equilibrado
Quando o vāta funciona bem, traz entusiasmo (utsāha), respiração adequada, tanto a inspiração (ucchvāsa) como a expiração (niśvāsa), todos os movimentos corporais (ceṣṭā), a iniciação dos impulsos naturais (vegapravartana), o transporte correcto dos tecidos (dhātūnāṃ samyaggatyā) e a eficácia dos sentidos (akṣāṇāṃ pāṭava).
O vāta em harmonia: energia, respiração profunda, movimentos fluidos, a vontade de agir no momento certo, digestão que move os nutrientes para onde precisam de ir, sentidos apurados que captam o mundo como ele é.
Os cinco subtipos Vāta
Mas vāta não é apenas uma coisa. Divide-se em cinco formas, cinco vāyus que governam diferentes regiões e funções do corpo. Compreender estes cinco elementos ajuda a compreender como o movimento flui por todas as camadas da nossa existência.
Prāṇa Vāyu
Localizado na cabeça (mūrdha), move-se pelo peito e garganta (uraḥkaṇṭha). Mantém vivos o intelecto (buddhi), o coração (hṛdaya), os sentidos (indriya) e a consciência (citta). Governa a deglutição, o espirro, o arroto, a respiração e a entrada de alimentos. Prāṇa é a porta de entrada. O que traz oxigénio, alimento, informação sensorial, vida. Quando prāṇa está comprometido, a respiração torna-se curta, a mente confusa, os sentidos pesados.
Udāna Vāyu
Situado no peito (uraḥ sthāna), move-se pelo nariz, umbigo e garganta (nāsānābhigalāṃ). Governa a fala (vākpravṛtti), o esforço (prayatna), a energia (ūrja), a força (bala), a cor da pele (varṇa), a memória (smṛti) e todas as atividades (kriyā).
udāna é o que nos faz levantar de manhã. O que dá força à voz. O que traz cor às suas bochechas. A memória que surge quando se precisa dela. A energia que impulsiona para a ação.
Vyāna Vāyu
Situado no coração (hṛdi sthitaḥ), vyāna move-se por todo o corpo (kṛtsnadehacārī) com grande velocidade (mahājavaḥ). Controla a marcha, os movimentos dos membros, a abertura e o fecho dos olhos (nimeṣonmeṣaṇa) ,praticamente todas as atividades corporais (prāyaḥ sarvāḥ kriyāḥ) dependem dele. vyāna é circulação. O sangue flui, os membros movem-se, a coordenação entre todas as partes. Quando Vyāna está desequilibrado, surgem problemas circulatórios, movimentos descoordenados, tremores e rigidez.
Samāna Vāyu
Junto ao fogo digestivo (agnisamīpasthaḥ), samāna move-se por todo o abdómen (koṣṭho carati sarvataḥ). Recebe o alimento (annaṃ gṛhṇāti), digere-o (pacati), separa o que é útil do que não é (vivecayati) e elimina (muñcati).
Samāna é equilíbrio. O que equilibra a digestão. O que separa a nutrição da toxina. Quando o Samāna funciona, a digestão é suave, a absorção completa e a eliminação regular. Quando falha, há indigestão, má absorção e acumulação de ama.
Apāna Vāyu
Na região pélvica (apānagaḥ), move-se pela bacia, bexiga, órgãos reprodutores e coxas (śroṇibastimeḍhrorugocara), apāna rege a expulsão de sémen, sangue menstrual, fezes, urina e feto (śukrārtavaśakṛnmūtragarbhaniṣkramaṇa).
Apāna é eliminação. Movimento descendente. Quando apāna está equilibrado, a eliminação ocorre naturalmente: menstruação regular, evacuações sem esforço, micção fácil, parto no momento certo. Quando bloqueado, surge obstipação, problemas menstruais, retenção urinária e dificuldades no parto.
Compreender para Equilibrar
Conhecer estes cinco vāyus é como ter um mapa prático. Quando se compreende que a falta de ar é prāṇa, que a fadiga é udāna, que a má circulação é vyāna, que a indigestão é samāna, que a obstipação é apāna ,temos informações mais detalhadas acerca de vāta dosha.
Mas, todos eles na sua essência, são expressões da mesma força: movimento. vāta, em todas as suas formas, é o princípio que faz com que a vida aconteça. Sem ele, tudo pára.
Em excesso ou desregulado, tudo se torna caótico. Em equilíbrio, Vāta é o maestro da orquestra, e faz com que cada parte do corpo toque no momento certo, com a intensidade certa. vāta é o que nos mantém em movimento a cada instante.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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आयुर्वेद – Upadhātu: os tecidos secundários
A maioria das pessoas que estudam o Ayurveda familiariza-se com os sete dhātu — os tecidos primários que formam e mantêm o corpo: rasa, rakta, māṃsa, meda, asthi, majjā e śukra. Estes tecidos são descritos como os blocos de construção fundamentais da fisiologia humana, e por boas razões. Mas há outra camada neste sistema que merece mais reconhecimento: o upadhātu.
Upadhātu pode traduzir-se como “tecido secundário”, o que infelizmente os faz parecer insignificantes. São tudo menos isso. Estes tecidos são criações intencionais da inteligência inerente do corpo, formadas pelo metabolismo do corpo.
Pequeno em Tamanho, Não em Importância
O Ayurveda descreve como cada dhātu nutre o seguinte numa sequência ordenada. Durante esta transformação contínua, os tecidos secundários emergem naturalmente. Podem existir em quantidades modestas, mas as suas funções estão longe de ser modestas. A qualidade e a condição destes tecidos revelam a eficácia com que os tecidos primários estão a desempenhar o seu trabalho.
Veja-se o rasa dhātu (os fluidos circulantes do corpo) como exemplo. Quando saudável e abundante, produz leite materno (stanya) e sangue menstrual (ārtava).
Não são efeitos secundários, são indicadores de um sistema a funcionar com precisão e inteligência. Quando estão ausentes, são insuficientes ou irregulares, sinalizam problemas mais profundos na forma como o organismo está a processar e a distribuir os nutrientes.
O Elenco de Personagens
Diferentes autores interpretaram estas ligações de diferentes maneiras mas
- Do rasa dhātu surgem a stanya (leite materno) e a ārtava (sangue menstrual)
- Rakta dhātu dá origem à sira (vasos sanguíneos), e kaṇḍara (tendões)
- Māṃsa dhātu produz tvak (pele) e vasa (gordura muscular)
- Meda dhātu cria snāyu (ligamentos) e (sandhi) articulações
- Asthi dhātu forma danta (dentes) *
- Majjā dhātu gera keśa (cabelo) *
- Śukra dhātu produz ojas *
Nada disto é secundário, upadhātus contribuem ativamente para a saúde, demonstrando o quão bem o corpo converte a nutrição em estrutura, força e força vital.
* de acordo com um texto mais recente os textos mais clássicos não descrevem upadhātu para asthi, majja e śukra.O que se perde na tradução
Na educação ayurvédica típica, a maior parte da atenção volta-se para os sete dhātu primários, e é aí que a conversa termina. A medicina moderna também reconhece muitos destes tecidos secundários, mas trata-os como estruturas isoladas, em vez de expressões de processos metabólicos subjacentes. De qualquer forma, os upadhātu, muitas vezes permanecem invisíveis nas discussões sobre saúde.
Esta omissão tem consequências. Como estes tecidos estão tão intimamente ligados ao dhātu original, revelam frequentemente desequilíbrios precocemente, por vezes bem antes de surgirem problemas mais evidentes. As menstruações irregulares não são apenas um problema ginecológico; são um alerta precoce sobre a função do rasa dhātu. As alterações na qualidade da pele podem indicar problemas com o māṃsa dhātu antes que qualquer outra coisa pareça errada.
Nas Entrelinhas
Compreender os upadhātus muda a forma como interpretamos as mensagens do corpo. A saúde não se refere apenas aos principais tecidos que conhecemos primeiro. Trata-se também destas expressões mais silenciosas e subtis que nos mostram como todo o sistema funciona em conjunto.
Da próxima vez que pensar na sua saúde, observe o que estes tecidos lhe estão a dizer. A sua pele, o seu ciclo menstrual, a produção de leite materno, a condição dos seus tendões. São os dhātus a falar. Quando aprendemos a sua linguagem, desenvolvemos uma compreensão mais precisa, precoce e abrangente do que significa realmente ser saudável.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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ज्योतिष – JYOTIṢA – Saturno e as prioridades da vida
Nos últimos dias em conversa com o Professor Paulo Vieira, conversávamos acerca do
tempo, ou da falta dele e da necessidade de priorizar aquilo que realmente é
importante na nossa vida. Sendo um assunto que já há alguns meses não abandonava
o meu pensamento, ficou bastante claro para mim que este seria o tema do artigo
deste mês, pela sua pertinência e relevância. E por este motivo, a presença de Saturno
neste momento é fundamental!
Saturno é o senhor do tempo — aquele que tudo observa, tudo mede e tudo
amadurece. Ele não tem pressa, mas também não se distrai!
Há momentos na vida em que vivemos períodos ou subperíodos de Saturno, ou
momentos em que ele transita por locais bem especiais do nosso mapa e sentimos bem
a sua presença. Essa presença sente-se quando o excesso nos cansa, quando
percebemos que não dá mais para viver no modo automático, quando entendemos que
na vida não dá para colocar a nossa energia em tudo. Quando Saturno chega, ele
mostra tudo o que não vale mais a pena o nosso esforço e coloca-nos dúvidas e
incertezas que depois de assentes na mente não se vão embora sem resolução. Ele
chega como um silêncio que pesa, mas que também traz clareza. É nesse espaço que
começamo-nos a questionar acerca do que realmente vale o nosso tempo, a nossa
energia, o nosso coração.
E então, depois de nos debatermos longamente com os nossos pensamentos, anseios,
sonhos, ilusões e desilusões, chegamos a um ponto sem retorno, no qual sentimos que
para continuar, há que parar. Por vezes para mudar de rumo, outras vezes apenas para
ganhar fôlego para avançar com mais força e certeza.
Definir prioridades é um exercício de maturidade — e talvez o mais difícil deles. É
reconhecer que não podemos estar em todos os lugares, agradar a todos, fazer tudo ao
mesmo tempo. Saturno ensina-nos que toda a escolha tem um custo, e que a liberdade
verdadeira nasce quando aceitamos esses limites, mas sem revolta interior.Ele lembra-nos que o tempo é o grande mestre: cada ciclo que termina abre espaço
para o essencial. Às vezes, isso exige deixar ir, desacelerar, reorganizar o que
construímos. E, no meio dessa limpeza silenciosa, algo se alinha dentro de nós — uma
sensação de propósito, de direção, de paz.
Saturno não é cruel. Ele apenas nos devolve à realidade, para que possamos escolher
com consciência o que sustenta a nossa vida!Om Sham Shanicharaya Namah.
Maria João Coelho
Fonte da Imagem: https://thiruvadidharisanam.com/sani-pooja/ -
आयुर्वेद – Ojas: A Força Subtil da Vida
Se já conheces um pouco de Ayurveda, provavelmente já ouviste rumores sobre Ojas. É uma daquelas palavras que resiste a uma tradução rápida. Uns chamam-lhe vitalidade, outros imunidade, mas os textos vão um pouco mais fundo.
O que significa?
A palavra Ojas vem da raiz sânscrita ubja com o sufixo asun, que significa força e brilho. Os autores clássicos descrevem-na frequentemente como a “força brilhante” dentro de nós, o brilho invisível que mantém a vida estável.
Ao longo dos séculos, o Ayurveda usa muitos sinónimos para ojas: bala (força), prasāda (pureza), dhāri (aquilo que mantém a vida unida) e até jīva-śoṇita (o princípio vital do sangue). Cada sinónimo aponta para a mesma ideia: Ojas é o que faz a vida parecer viva.
De onde vêm?
O Ayurveda descreve os sete tecidos corporais (dhātus). No final desta cadeia da formação destes tecidos emerge o extrato mais subtil: Ojas.
Para ilustrar, o comentador Dalhaṇa apresenta uma imagem: tal como o ghee se esconde no leite e só se revela depois de ser batido, Ojas escondem-se em cada tecido e brilha após o metabolismo adequado (Suśruta Saṃhitā 15/19).
Algumas autoridades, como Vāgbhaṭa e Śārṅgadhara, debatem se o Ojas é a “essência” do tecido reprodutor ou simplesmente o seu subproduto, mas o consenso mantém-se: sem Ojas, o corpo não pode viver.
As duas formas
Os textos descrevem dois níveis:
- Para Ojas – a forma suprema, com apenas oito gotas em quantidade, localizada no coração. Se for perdida, a vida termina instantaneamente (Caraka Saṃhitā 15/9).
- Apara Ojas – a forma circulante, medida como meio añjali (um punhado). Esta espalha-se pelo corpo, sustentando os tecidos e refletindo a nossa força imunitária.
A aparência de Ojas
Os autores ayurvédicos atribuem ao Ojas quase um perfil sensorial: é fresco, suave, denso, branco como o ghee com um toque vermelho-dourado, doce como o mel e perfumado como grãos torrados (Caraka Saṃhitā 24/31).
Estas eram formas de descrever a estabilidade e a riqueza da essência da vida.
Funções de Ojas
Os clássicos são claros: Ojas são a base da vitalidade (Suśruta Saṃhitā 15/20).
- Nutre o corpo e a mente.
- Estabiliza o crescimento e a força muscular.
- Assegura a clareza dos sentidos e a resiliência da mente.
- Dá à voz uma qualidade agradável e à tez, o seu brilho.
Em linguagem moderna, pode dizer-se que o Ojas é a forma ayurvédica de descrever a imunidade profunda, o vigor e a estabilidade mental, tudo num só.
Quando Ojas é perturbado
Os textos alertam ainda para o que acontece quando Ojas enfraquece: fadiga, medo, falta de confiança, pele fraca, enfraquecimento do corpo (Caraka Saṃhitā 17/73).
Três distúrbios progressivos são descritos:
- Oja Visraṃsa – deslocamento – quando Ojas saem do seu sítio, manifestado por frouxidão das articulações e fadiga.
- Oja Vyāpata – viciação – marcada pela rigidez, inchaço e perda de tez saudável.
- Oja Kṣaya – esgotamento – leva à confusão, ao colapso e, eventualmente, à morte. (Suśruta Saṃhitā 15/24).
Porque é que são Ojas importantes?
Talvez a passagem mais marcante venha do Caraka Saṃhitā: Ojas é listado como o mais elevado dos centros de vitalidade do corpo (prāṇāyatana). Sem ele, nem os doshas mais equilibrados conseguem funcionar.
Para o feto, diz-se que Ojas oscila no oitavo mês de gravidez, tornando a sobrevivência incerta se o nascimento ocorrer nessa altura. Para o adulto, é o reservatório oculto que decide se podemos resistir às doenças, recuperar das dificuldades e manter a força constante ao longo da vida.
Em termos simples
Ojas não é algo que se possa ver ao microscópio. É uma forma clássica ayurvédica de nomear a “cola invisível” da vida, são a essência destilada de toda a nossa nutrição, resiliência e radiância.
Quando os Ojas estão abundantes, sentimo-nos fortes, estáveis e lúcidos. Quando estão esgotados, tudo o resto vacila.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
www.instagram.com/ricardo_ayurveda
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ज्योतिष – JYOTIṢA – Ser astrólogo védico
A propósito de mais uma formação que se iniciará em outubro, achei pertinente trazer
este mês um tema de extrema importância para quem pretende entrar no
conhecimento sagrado do jyotiṣa.O Jyotiṣa, um dos seis Vedangas, é simultaneamente ciência e arte, exigindo do
praticante não apenas destreza técnica, mas também qualidades pessoais. Os
principais tratados clássicos — como o Vedāṅga Jyotiṣa, o Bṛhat Parāśara Horā Śāstra,
o Bṛhat Saṃhitā, o Mansagari, o Jātaka Tattva e o Praśna Mārga — delineiam, de
forma direta ou indireta, as qualificações necessárias de um astrólogo védico.
Para Parāśara , um estudante de astrologia e um bom astrólogo deverá ter as
seguintes qualidades: “ uma disposição pacífica; deve respeitar os gurus e os mais
velhos; deve seguir sempre a verdade; ser devoto a Deus; deve possuir inteligência;
deve possuir habilidade com a matemática e com a gramática; deve ter conhecimento
da geografia, do espaço e do tempo; deve ser justo; deve ter a capacidade de fazer
boas estimativas utilizando a lógica; deve ter controle sobre os seus sentidos e deve
ter conhecimento do horā-śāstra”.
A responsabilidade de um astrólogo na vida de uma outra pessoa, é muito grande,
pelo que se espera de um astrólogo, alguém com uma boa conduta ética e moral, com
capacidade intelectual, dedicada ao estudo e com uma prática espiritual firme.
Um estudante de astrologia deverá seguir algumas recomendações gerais, que o
auxiliarão no seu caminho de autoconhecimento e de ajuda ao próximo:Formação Técnica e Intelectual
• Domínio de Gaṇita (cálculo astronómico): saber calcular com precisão as
posições planetárias, as divisões do tempo, tal como descrito no śāstra.
• Estudo dos textos clássicos: conhecer os ensinamentos de Parāśara,
Varāhamihira e outros mestres, estudando os ślokas originais ou traduções
fidedignas.• Prática em astrologia preditiva: aplicar daśas, trânsitos (gochara), vargas e
yogas para formular previsões.
• Conhecimento de Muhūrta e Praśna: escolher momentos auspiciosos e
responder a questões horárias.Qualidades Éticas e Espirituais
Os textos clássicos sublinham que o astrólogo deve cultivar:
• Verdade, integridade e discrição: não enganar nem induzir medo
desnecessário; respeitar a confidencialidade dos consulentes.
• Pureza de corpo e mente: disciplina pessoal, hábitos saudáveis, prática
espiritual diária.
• Humildade e devoção: reconhecer limites, manter atitude reverente perante os
ensinamentos e o destino do consulente.Discernimento e Sensibilidade
• Um astrólogo védico deve desenvolver uma mente lógica, clara e concentrada
para pesar e ponderar indicações contraditórias e formular interpretações
equilibradas.Ética no Exercício Profissional
• Usar o conhecimento para orientar e ajudar, não para manipular.
• Manter transparência nos honorários e no alcance das previsões.
• Reconhecer que o Jyotiṣa é um instrumento de compreensão do karma e do
dharma e não um mecanismo determinista.Segundo os tratados clássicos, qualificar-se como astrólogo védico não é apenas
dominar cálculos e técnicas preditivas. Implica igualmente formar o carácter, cultivar a
pureza interior e o respeito pela tradição. Assim, o estudante de astrologia védica deve
ver-se como aprendiz de uma disciplina sagrada, desenvolvendo simultaneamente
competência técnica e maturidade espiritual para poder servir com responsabilidade e
sabedoria.Hari Om
Maria João Coelho
Imagem gerada por AI -
ज्योतिष – JYOTIṢA – Śani retrógrado
Śani (Saturno) entrou no seu movimento retrógrado anual a 13 de julho e continuará
até 28 de novembro de 2025, no signo de Peixes. Na astrologia, o movimento
retrógrado não é uma reversão real, mas sim uma profunda internalização da energia
do planeta. Śani, conhecido como o juiz kármico, quando retrógrado, não apenas
desacelera as coisas, mas direciona a atenção para o interior, convidando-nos a refletir
e a refazer/cuidar de assuntos que foram, provavelmente, negligenciados ou
inacabados.13 de julho a 3 de outubro: Trânsito de Śani pela nakṣatra UttaraBhadrapada
Durante esta fase, Śani impulsiona-nos a assumir silenciosamente a responsabilidade
pelos trabalhos emocionais ou espirituais inacabados. UttaraBhadrapada relaciona-se
com a estabilidade profunda, mas também com tudo o que foi ocultado durante algum
tempo. Este é um bom momento para manter rotinas, perseguir objetivos de longo
prazo e lidar com qualquer bagagem emocional que tenha sido ignorada. Não é o
momento de procurar coisas novas, mas sim de terminar o que foi iniciado. Se por
acaso temos negligenciado a introspeção ou a disciplina ou não cumprido a nossa
palavra, talvez o momento se torne um pouco mais difícil.
Também é um período poderoso para procurar orientação de professores, fazer
práticas espirituais regulares e criar hábitos diários mais fortes. O importante é a
concentração no progresso lento e constante e não em grandes mudanças.3 de outubro a 28 de novembro: Trânsito de Śani pela nakṣatra PurvaBhadrapada
Esta parte do período retrógrado de Śani pode parecer mais intensa e imprevisível. Irá
obrigar-nos a lidar com mudanças repentinas e o abandono de coisas que não
contribuem mais para o nosso crescimento. Podemos ser forçados a confrontar
problemas que evitávamos – seja uma conversa, um mau hábito ou algo prejudicial ao
nosso estilo de vida ou relacionamentos. Temos de ser realistas e eliminar distrações
ou coisas que sabemos que já não funcionam. Isto pode revelar-se na necessidade detomar decisões difíceis, como abandonar um compromisso que parece desgastante ou
enfrentar algum medo pessoal. Mas isto nos tornará mais fortes e focados!
É também um ótimo momento para organização em geral– casa, agenda,
pensamentos, etc.Ações aconselháveis durante todo o período de retrogradação de Śani:
· Revisitar o passado com consciência: reformular antigos projetos,
relacionamentos, com maturidade.
· Adicionar disciplina à vida diária: Śani recompensa rotinas, responsabilidades e
paciência.
· Dedicar tempo a práticas internas – meditação, oração, sadhana.
· Completar o inacabado, em qualquer área da vida.
· Honrar os ancestrais: servir os pais, professores ou ancestrais.
· Fortalecer Śani: com doações, mantras, tapas (austeridade) e disciplina.Ações Desaconselháveis durante todo o período de retrogradação de Śani:
· Ter pressa: a impaciência levará a atrasos.
· Escolher atalhos: Śani despreza o caminho fácil.
· Gastar em excesso.
· Ignorar a saúde: problemas crónicos ou sintomas ignorados podem ressurgir.
· Assumir compromissos falsos.
· Escapismo.Para complemento deste texto e melhor compreensão, aconselho a leitura da
newsletter que escrevi em março deste ano, sobre o trânsito de Śani em Peixes para
cada ascendente:
https://vedanta.pt/blog-post/saturno-em-
peixes/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=centro_ar_a
vidya_newsletter_de_marco_2025&utm_term=2025-07-24Hari Om
Maria João Coelho
Imagem gerada por AI -
आयुर्वेद – Agni
O que diz o Ayurveda clássico sobre a digestão
À medida que o conceito do eixo intestino-cérebro é cada vez mais discutido, muitas pessoas ainda pensam na digestão como uma função intestinal. No Ayurveda, é mais do que isso. É uma força. Esta força é chamada Agni.
Então, o que é o Agni, na realidade?
De acordo com os textos clássicos, Agni é o fogo da transformação. Este fogo não está apenas no estômago, mas em cada tecido, cada célula.Em geral, existem 13 tipos de agni descritos:
- 1 Agni principal: jatharagni – o fogo digestivo no seu intestino
- 5 bhūta agni – fogos para processar os cinco elementos
- 7 dhātu agni – responsável pela construção e transformação dos tecidos do corpo (dhātus)
Não é preciso memorizar. Mas é útil saber que o Ayurveda trata a digestão como uma inteligência sistémica. Não é só o que se come. É a forma como o seu corpo compreende e processa o que recebe.
Sinais de que o seu Agni está a funcionar bem
Estes são sinais diários verificáveis.- Sente fome real na hora certa
- Os alimentos são digeridos sem peso, gases ou fadiga
- Sente-se leve e focada depois de comer
- Os movimentos intestinais são regulares e completos
- Dorme bem e acorda facilmente
- A sua energia é estável ao longo do dia
Se estas opções forem verificadas, o seu Agni estará forte. Se não, não significa que algo não está a funcionar bem, significa que o sistema está fora de ritmo.
O que enfraquece o fogo?
Eis alguns exemplos comuns na vida quotidiana:- Comer com muita frequência ou de forma irregular
- Comer sem fome
- Comida fria, pesada ou excessiva
- Stress mental durante as refeições
- Ignorar os impulsos naturais (urina, gases, etc.)
Cada um deles perturba o bom funcionamento do fogo digestivo ou impede que este faça o seu trabalho.
O que fortalece o Agni?
- Comer quando se tem fome verdadeira, não apenas quando é altura
- Deixar espaço suficiente entre as refeições
- Ter em atenção como se sente antes e depois de comer
- Comida cozinhada, refeições tranquilas
O objetivo é suportar o Agni para que todo o sistema funcione corretamente.
Conclusão
Observe os seus padrões de alimentação e digestão. Se continuar a ignorar o corpo, ele acabará por tropeçar. Se aprender a ouvir, dar-lhe-á o que ele precisa.Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurvedawww.instagram.com/ricardo_ayurveda
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ज्योतिष – JYOTIṢA
A Mão de Deus: Astrologia e a Entrega ao Mistério Divino
Por detrás de cálculos precisos, observações astronómicas e símbolos, está sempre Ele:
o Criador! Para os astrólogos antigos, tanto no Ocidente quanto no Oriente, a prática
astrológica era um ato sagrado. Um modo de se alinhar — em temor, em sabedoria e
em oração — com os desígnios de Deus!
Não somos donos do saber, nem dominamos os céus. Somos apenas leitores humildes
de um mapa escrito por uma mão infinita.
William Lilly, astrólogo cristão inglês do século XVII, orava antes de abrir um mapa.
Dizia que nenhum conhecimento, por mais exato que fosse, teria valor sem a presença
e o sopro de Deus. Ele, como tantos outros antes e depois, compreendia que o mapa
não é o território e, muito menos, o destino absoluto.
A astrologia védica também carrega esse mesmo espírito de entrega. Os jyotishis
invocam Ganesha, Sarasvati e os Mestres antes de iniciar uma leitura. Reconhecem
que sem a graça divina, nenhum cálculo ou técnica revela a verdade.
Santo Tomás de Aquino disse que “os astros influenciam, mas não determinam”. Isso
aplica-se também ao próprio astrólogo: influenciado sim, mas determinado apenas
pela fé, ética e ligação com o divino.
Como astrólogos, não podemos fazer o nosso trabalho verdadeiramente se não nos
colocarmos em estado de escuta, de humildade e de oração. Cada leitura é uma
contemplação da ordem celeste, um serviço ao outro e a Deus.
Mais do que prever, o astrólogo quer servir. Ao interpretar, o astrólogo deseja
inspirar. Mas, acima de tudo, o astrólogo deseja honrar o Mistério que habita em cada
estrela, em cada ser humano. A astrologia, na sua essência mais pura, não é idolatria
aos planetas, nem superstição ou manipulação do destino. Ela é uma linguagem
simbólica da Criação. E ao estudá-la com devoção, nos aproximamos do Criador.
Por isso, quem verdadeiramente vive a astrologia com alma sabe que nada se revela
sem a permissão de Deus, nada se interpreta sem a graça divina. Que cada leitura seja
um ato de devoção e que cada mapa celeste seja uma oração!
Hari Om
Maria João -
आयुर्वेद – O Erro Interior: prajñāparādha
Na sabedoria milenar do Ayurveda, o sofrimento não começa no corpo, nem nos acontecimentos externos. Começa com um desalinhamento interno. Charaka Samhita afirma:
“A deficiência intelectual, a contenção e a memória; a influência do tempo e das ações; e o contacto nocivo com os objetos dos sentidos — eis as raízes de todo o sofrimento.”
Este ensinamento fundamental recorda-nos que a cura não se trata apenas de corrigir desequilíbrios físicos. Trata-se de restaurar a clareza do manas (mente) e do buddhi (intelecto). Quando o instrumento interno está turvo, até as condições favoráveis podem levar ao sofrimento.
Este é o conceito de prajñāparādha — o “crime contra a sabedoria” — uma das principais causas da doença e da miséria, segundo o Ayurveda.
O que é o prajñāparādha?
prajñāparādha significa literalmente “ofensa do intelecto”. Acontece quando agimos conscientemente contra aquilo que entendemos ser certo. Não é simples ignorância. É uma desconexão consciente da orientação interna.
Charaka explica:
“Quando uma pessoa com o intelecto (dhi), a contenção (dhriti) e a memória (smriti) prejudicados realiza ações prejudiciais, trata-se de prajñāparādha. Agrava todos os doshas.”
Os Três Pilares da Sabedoria Interior
prajñāparādha ocorre quando três faculdades são perturbadas:
- Dhi (discernimento) – quando não conseguimos ver claramente
- Dhriti (contenção) – quando não nos conseguimos conter
- Smṛti (recordação) – quando nos esquecemos do que sabemos ser verdade
Cada um deles, quando obscurecido, leva-nos a escolhas que criam sofrimento. Sabemos, mas não seguimos. Vemos, mas não agimos. Lembramo-nos, mas ainda assim ignoramos.
Como se manifesta o prajñāparādha
Charaka enumera vários sinais de desconexão:
- Ignorar ou forçar os impulsos corporais naturais
- Excesso de prazer ou atividade
- Tomar medidas no momento ou no local errado
- Desconsiderando os professores, os anciãos ou os valores do dharma
- Permanecer em ambientes ou companhias prejudiciais
- Agir por ciúme, medo, raiva, ganância, ilusão
Muitas delas podem parecer comuns hoje em dia, mas o Ayurveda vê-as como sementes de doenças porque refletem uma ruptura interna com a verdade.
Ritmo, Campos e o Erro Interior
No Way of Āyurveda, trabalho com uma estrutura baseada em ritmos, que ajuda as pessoas a ver como a desconexão se desenvolve na vida diária. Inclui:
- Três Ritmos: Return (Retorno), Stability (Estabilidade) e Insight (percepção)
- Três Campos: Body (Corpo), Mind (Mente) e Relations (Relações)
prajñāparādha é, em muitos aspetos, uma perturbação no ritmo. Por exemplo:
- Quando esquecemos Retorno, não ouvimos a fadiga, o silêncio ou os sinais que dizem “pára”.
- Sem Estabilidade, caímos no caos ou na compulsão, mesmo quando sabemos que não é bom para nós.
- Sem Percepção, perdemos o que o momento está a revelar. Continuamos nos mesmos ciclos.
Estes ritmos movem-se por todos os três campos, Corpo, Mente e Relações. Um momento de ignorar qualquer campo resultará muitas vezes na perturbação dos outros. O que começa subtil torna-se sistémico.
prajñāparādha não é uma falha moral. É simplesmente um ritmo que nos faz falta. O trabalho não é envergonharmo-nos, mas sim ouvir mais cedo da próxima vez.
Cura de prajñāparādha
O Ayurveda ensina que, para curar, precisamos de realinhar o intelecto, a contenção e a memória. Não através da pressão, mas através da purificação do espaço interior.
- Cultivar “Sattva” – através do descanso, do silêncio, da simplicidade, do estudo e da companhia correta
- Regressar a Sadvritta – uma vida ética que apoia a clareza mental
- Reflexão diária – perguntas gentis e honestas: Agi por conhecimento ou compulsão?
Conclusão: Ritmo e Memória
Quando nos afastamos da verdade interior, surge o sofrimento. Não como castigo, mas como um sinal. O antigo termo prajñāparādha nomeia-o claramente.
Mas o Ayurveda nunca nos deixa com um sentimento de culpa. Ela aponta sempre para o ritmo. Em direção ao regresso. Em direção à recordação.
Cada pequeno ato de clareza, contenção ou presença é um caminho de regresso.
Cada retorno é uma cura.
Cada percepção é graça.
É assim que caminhamos novamente em direção ao ritmo e ao equilíbrio.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurvedawww.instagram.com/ricardo_ayurveda
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A Lua na Astrologia Védica: Luz e Sombra
Chandra (Lua), tal como os pensamentos, movimenta-se de forma rápida e oscilante. Chandra relaciona-se com os nossos processos mentais, emocionais e (in)decisões, representando a nossa mente emocional.
Governante da noite, Chandra está também intimamente ligado ao conceito das nakṣatras. Estas são asterismos, mansões lunares ou constelações de 13 graus e 20 minutos cada, que corresponde a uma divisão zodiacal em 27 partes, cada uma com a sua especificidade e deidade associada, e representam, na mitologia, as 27 esposas de Chandra Deva. Na medida em que Chandra leva aproximadamente 27 dias a dar a volta completa ao zodíaco, é referido que Chandra se deitaria cada noite com uma esposa diferente. Dado aos prazeres, Chandra acaba por receber influência de cada uma das nakṣatras, sendo que também esse facto é extremamente relevante na análise da personalidade de um jīva (indivíduo).
Relativamente ao mapa natal, praticamente todos os autores clássicos são da opinião que nascer em śukla-pakṣa (quinzena brilhante) outorga bons resultados, enquanto que nascer em kṛṣṇa-pakṣa (quinzena escura) pode levar a maus resultados. No entanto, Chandra é especialmente fraco durante o quarto minguante, que vai de Kṛṣṇa aṣṭāmi (oitavo dia lunar da quinzena escura) à śukla pratipad (primeiro dia da quinzena brilhante), sendo que em kṛṣṇa-chaturdaśī (décimo quarto dia da quinzena escura) e em amāvāsyā (lua nova) Chandra outorga os piores resultados, pois esses dois dias lunares são classificadas nos clássicos como doṣas (defeitos ou desarmonias que afetam o mapa natal de forma integral).
Chandra é especialmente forte no quarto crescente, que vai de śukla aṣṭāmi (oitavo dia da quinzena brilhante) à Kṛṣṇa pratipad (primeiro dia da quinzena escura), pois é nesse período que a sua luminosidade é maior e ainda coincide com a sua fase ascendente.
Na fase cheia, pūrṇima, Chandra detém máxima luz e outorgará bons frutos. Por sua vez na fase nova, amāvāsyā e no dia anterior a este (14º dia da quinzena escura), em kṛṣṇa-chaturdaśī, Chandra detém pouca ou nenhuma luz.
Na Pūrṇima, a luz da Lua é total. A mente está iluminada, voltada para o mundo externo e material. Pessoas nascidas nessa fase têm tendências expansivas e sociais e são geralmente carismáticas. Um exemplo de nascimento na lua cheia é Donald Trump.
Na Amāvāsyā, a Lua desaparece do céu. Este é o ponto máximo da introversão. A ausência de luz reflete a potencialidade pura — o campo silencioso onde a semente do despertar espiritual germina.
Pessoas nascidas em Amāvāsyā frequentemente têm um karma emocional profundo a trabalhar, mas também um chamado interior fortíssimo. Muitas vezes são reservadas, mas possuem intuições refinadas e inclinação à meditação e práticas espirituais.
RamaKrishna Paramahamsa é um exemplo de nascimento logo a seguir à lua nova.
Os nakṣatras refinam as qualidades mentais e espirituais da pessoa. Alguns nakṣatras com forte inclinação espiritual são:
- Ashwini: iniciação espiritual, cura e renascimento.
- Pushya: nutridor divino, símbolo do Guru.
- Anuradha: devoção intensa, amor universal.
- Shatabhishak: conexão com a verdade e o oculto.
- Revati: símbolo de liberação (mokṣa) e serviço compassivo.
Quando a Lua está nesses nakṣatras durante a amāvāsyā ou em kṛṣṇa-chaturdaśī, o mapa natal revela um chamado à espiritualidade desde cedo, mesmo que disfarçado por desafios kármicos.
Devido às suas diferentes fases, é inevitável que possamos sentir nas nossas vidas, no nosso dia a dia, os efeitos destas oscilações de Chandra, assim como pela sua passagem pelos diferentes rāśis (signos), os quais irão impregnar Chandra com as suas caraterísticas peculiares.
No entanto, cada diferente fase tem a sua energia e deve ser aproveitada para agir de determinada forma:
– Lua Nova (amāvāsyā): indica quando o mês lunar começa, ou seja, uma nova lunação. Esta fase é boa para criação/planeamento de novas ideias/atividades nas várias áreas da vida. Momento excelente para reflexão, contemplação, estudos.
– Krishna Chaturdashi — o 14º dia da quinzena minguante — é um dia altamente propício para práticas de austeridade, silêncio e desapego. Está associado à dissolução do ego e à transcendência.
No Shiva Purana, é dito que o Senhor Shiva favorece aqueles que praticam tapas (disciplina espiritual) neste tithi, especialmente na noite que antecede a amāvāsyā.
– Lua Crescente: fase da lua que convida a agir. Por isso, é um bom momento para iniciativas e resultados rápidos.
– Lua Cheia (pūrṇima): momento excelente para exposição, visibilidade. Representa o ápice do mês lunar que começou na Lua Nova, de colheita de resultados anteriormente semeados. Fase com muita energia, na qual as emoções poderão manifestar-se de forma mais intensa.
– Lua Minguante: Esta é uma fase para começar a desacelerar o ritmo, de observação e de maior recolhimento, fase para analisar os resultados das ações das semanas anteriores.
Hari Om
Maria João
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आयुर्वेद – Tríades do āyurveda
As Tríades do āyurveda e os Três Desejos que Moldam a Vida Humana
No mundo do āyurveda – o sistema de saúde e cura da Índia – o bem-estar não se trata apenas de curar doenças. Trata-se também de compreender as forças que guiam as nossas vidas.
Um texto ayurvédico, o Caraka Saṃhitā, oferece introspecções não só sobre a medicina, mas sobre a própria natureza humana. Desta tradição surge a ideia de que cada pessoa é movida por três desejos fundamentais – e que compreendê-los é a chave para uma vida equilibrada e com sentido.
Vamos explorar quais são estes três desejos, porque são importantes e como ainda se aplicam no mundo de hoje.
1. O Desejo de Viver – Prāṇa eṣaṇā
No centro de tudo está o desejo de viver – não apenas de existir, mas de viver bem.
Este é o desejo mais básico e universal. Quando este desejo é forte e claro, cuidamos naturalmente do nosso corpo e mente. É o que nos faz comer alimentos nutritivos, procurar descanso, evitar danos e recuperar de doenças. O āyurveda ensina que preservar o prāṇa, ou a vida, significa viver em harmonia com a natureza – através da alimentação correta (āhāra), do sono (nidrā) e da vida consciente (brahmacarya).
Sem vida, nada mais é possível – por isso, faz sentido que esta venha primeiro.
2. O Desejo de Recursos – Dhana eṣaṇā
Uma vez sustentada a vida, a próxima atração natural é em direção à segurança e a meios de sustentação.
O āyurveda não foge às necessidades materiais. Reconhece que ganhar riqueza (dhana) é essencial – não como um fim em si mesmo, mas como um meio de viver bem e de cuidar dos outros. O que importa é a forma como o procuramos.
Tradicionalmente, a agricultura, o comércio, os serviços e outras profissões honestas são consideradas nobres – desde que sejam exercidas sem causar danos, com sentido de ética e de propósito. Por outras palavras: procurar a riqueza, sem se perder no processo.
3.º O Desejo de Significado – Paraloka eṣaṇā
O terceiro desejo vai para além desta vida – é o anseio por uma existência significativa para além da morte.
Isto pode assumir a forma de curiosidade espiritual, questões sobre a vida após a morte ou um desejo de deixar um legado de boas ações.
Nem toda a gente acredita no renascimento (punarjanma), e o āyurveda reconhece isso. Mas também sublinha que muitos professores e textos sábios defendem a visão de que as nossas ações têm consequências para além desta vida – aquilo a que alguns chamam karma. Quer vejamos isto simbolicamente ou literalmente, a lição é simples: viva de uma forma da qual se orgulharia, quer alguém esteja a olhar ou não.
As Tríades Poderosas do āyurveda – A Estrutura da Vida e da Saúde
O āyurveda adora o número três. Vejamos algumas das principais tríades que o āyurveda que indicam os factores envolvidos em manter uma boa saúde
1. Os Três Pilares da Vida (Traya Upastambhāḥ)
Apoiam uma vida longa, forte e saudável:
• Āhāra – alimentação e nutrição
• Nidrā – descanso e sono
• Brahmacarya – regulação dos sentidos ou conduta consciente
Sem eles, nem os melhores medicamentos vão ajudar.
2. Os Três Tipos de Força (Trividha Bala)
A sua energia e resiliência provêm de:
• Sahaja – força inata ou constitucional
• Kālaja – força que muda com as estações do ano e a idade
• Yuktikṛta – força adquirida através da dieta, estilo de vida e hábitos
3. As três causas básicas da doença
A doença não acontece por acaso. O āyurveda diz que isto vem de três coisas principais:
• Asātmyendriyārtha-samyoga – mau uso dos sentidos (como por exemplo, sobre-exposição a ruídos altos
• Prajñāparādha – erros do intelecto (como fazer conscientemente o que é prejudicial)
• Pariṇāma – os efeitos naturais do tempo e das mudanças sazonais
4. Os três tipos de doenças (Trayo Rogāḥ)
As doenças classificam-se em:
• Nija – interno (causado pelo desequilíbrio dos doṣas)
• Āgantuka – externo (causado por lesão, infeção, etc.)
• Mānasa – mental ou emocional (causado pelo apego, perda, medo, etc.)
5.º Os Três Caminhos da Doença (Trayo Roga Mārgāḥ)
As doenças viajam por diferentes sistemas do organismo:
• Śākhā – vias periféricas (pele, sangue, tecidos)
• Marmāsthi Sandhi – pontos vitais e articulações
• Koṣṭha – núcleo ou tubo digestivo
Compreender onde se encontra uma doença ajuda a determinar o tratamento.
6. Os três tipos de médicos (Trividha Bhiṣajaḥ)
Nem todos os médicos são iguais. O āyurveda reconhece:
• Chadmacara – impostores que parecem ser o papel, mas não têm conhecimento
• Siddha-sādhita – pretendentes que agem como hábeis, mas não o são
• Jīvitābhisāra – verdadeiros curadores com conhecimento, sabedoria e compaixão
7. As Três Categorias de Tratamento (Trividham Auṣadham)
A cura pode acontecer através de:
• Daiva-vyapāśraya – práticas espirituais (mantras, rituais)
• Yukti-vyapāśraya – métodos racionais (dieta, medicamentos, terapias)
• Sattvāvajaya – treino mental (retirada da mente de pensamentos prejudiciais)
8. Os três tipos de procedimentos médicos
No tratamento do corpo, as terapias dividem-se em:
• Antaḥ-parimarjana – limpeza interna (medicamentos, dieta)
• Bahiḥ-parimarjana – tratamentos externos (massagem, vapor)
• Śastra-pranidhāna – procedimentos cirúrgicos e físicos (incisão, destartarização, terapia com sanguessugas)
Tríades e o panorama geral
Estas tríades não são apenas listas – formam a estrutura fundamental do āyurveda.
Juntos, ajudam-nos a compreender:
• O que nos move (desejos)
• O que nos sustenta (pilares da vida)
• O que nos fragiliza (causas de doença)
• Como adoecemos (percursos e tipos de doença)
• Quem pode ajudar (tipos de médicos)
• Como curar (terapias e tratamentos)
Quer esteja a lidar com um problema de saúde, a pensar no propósito da sua vida ou apenas a tentar melhorar a sua rotina, estes insights intemporais podem servir como uma bússola.
A prevenção é o melhor remédio
Uma das principais mensagens do āyurveda é: não espere ficar doente para levar a sua saúde a sério.
A doença, assim como um incêndio, começa geralmente pequena. Se ignorarmos os primeiros sinais – fadiga, ansiedade, problemas digestivos – permitimos que cresça. Mas, prestando atenção, mantendo-nos firmes nos bons hábitos e procurando ajuda quando as coisas parecem “estranhas”, podemos evitar muito do sofrimento que vem depois.
Ou como dizem os textos: o sábio trata a doença quando esta ainda é jovem.
Conclusão
A perspetiva de vida do āyurveda é profundamente humana – não nos pede para sermos santos ou ascetas, mas para vivermos vidas conscientes, equilibradas e com propósito.
Os três desejos não são distrações. São a própria estrutura da motivação humana.
O āyurveda ensina-nos como usar a sabedoria para criar saúde duradoura – física, emocional e espiritual. Trata-se de nos compreendermos mais profundamente e de vivermos em sintonia com esse entendimento.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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आयुर्वेद – ācāra rasāyana
No vasto oceano do Ayurveda, rasāyana destaca-se como um caminho para o rejuvenescimento e a vitalidade. De acordo com o caraka saṃhitā, rasāyana não se trata apenas de tomar ervas ou tónicos — é uma abordagem holística para viver uma vida longa, saudável e gratificante.
Baseadas no equilíbrio e na harmonia, as terapias de rasāyana têm como objetivo fortalecer a imunidade, melhorar a memória e promover o bem-estar geral. Seja através de formulações nutritivas, da vida consciente ou da adoção de hábitos virtuosos, elas oferecem uma orientação intemporal para qualquer pessoa que procure florescer de dentro para fora. Um aspecto integrante disto é o ācāra rasāyana, que enfatiza a importância da conduta ética e das escolhas de estilo de vida para alcançar o bem-estar ideal.
ācāra rasāyana (rejuvenescimento comportamental):
ācāra rasāyana sublinha o profundo impacto do comportamento e da disposição mental na saúde. Passa pela adoção de virtudes e práticas que nutrem tanto a mente como o corpo, levando ao rejuvenescimento holístico.
Os principais componentes incluem:
Conduta Pessoal:
- Verdadeira e livre de raiva
- Abstenção de álcool e de relações inapropriadas
- Não violenta e calma
- Fala calma e relaxada
Práticas espirituais e mentais:
- Envolvida na meditação e limpeza
- Perseverante e caridosa
- Prática penitência e adora deuses, vacas, brâmanes, gurus, preceptores e anciãos
- Dedicada aos livros sagrados e à espiritualidade
Hábitos de estilo de vida:
- Dorme de forma equilibrada
- Consome ghee extraído do leite rotineiramente
- Considera o lugar e o tempo com propriedade
- Mantém o autocontrolo e a simplicidade
Traços sociais e emocionais:
- Amorosa e compassiva
- Mantém a companhia dos mais velhos
- De mente positiva e sem presunção
- Bem comportada e vigilante
Ao incorporar estas virtudes, a pessoa pode obter benefícios semelhantes aos das terapias tradicionais rasāyana, como a melhoria da imunidade, acuidade mental e estabilidade emocional.
Integração com outras práticas rasāyana:
Embora o Ācāra rasāyana se concentre nos aspectos comportamentais, complementa outras formas de terapia rasāyana:
Kutipraveshika rasāyana (regime interno): implica submeter-se a terapia em isolamento, aderindo a protocolos rigorosos de dieta e estilo de vida.
Vātātapika rasāyana (regime ao ar livre): permite que os indivíduos continuem as atividades diárias enquanto seguem práticas específicas de rejuvenescimento.
Integrar o Ācāra rasāyana com estas terapias garante uma abordagem abrangente à saúde, abordando as dimensões física e mental.
Conclusão:
O Caraka Samhita apresenta o rasāyana como uma abordagem multifacetada para o rejuvenescimento, com o Ācāra rasāyana a destacar o papel fundamental da conduta ética e do estilo de vida para alcançar a saúde holística. Ao adotar estas diretrizes comportamentais, os indivíduos podem alcançar não só a vitalidade física, mas também o bem-estar mental e espiritual.
Ricardo Barreto
Terapeuta de Ayurveda
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